Um ano e meio no ar
Este é o programa de número 400 do Observatório da Imprensa no Rádio. Agradecemos aos ouvintes pela audiência, aos entrevistados e a todos os que colaboraram para buscar qualidade e relevância nesse quase ano e meio de transmissões. Agradecemos também a participação cada vez mais intensa de leitores em nosso blog na internet, o Em Cima da Mídia.
Debate ambiental sem maniqueísmo
A repórter Cristina Amorim, do Estado de S. Paulo, pede uma discussão menos maniqueísta de projetos que podem causar mudanças negativas no meio ambiente.
Cristina:
– Eu acho que falta um debate um pouco mais profundo. Deixar um pouco o superficial, deixar um pouco o próprio discurso do governo de que a gente precisa de grandes obras para evitar uma crise energética em 2009 ou 2010 e realmente avaliar o que é essa frase. Realmente haverá uma crise? O que a gente precisa para evitar essa crise? Só construir hidrelétrica? Ou construir hidrelétrica e investir em uma melhor eficiência da rede que já existe?, porque a gente perde muita energia que já é gerada, simplesmente por falta de investimento em eficiência. Ou será que só o investimento em eficiência já é suficiente? Ou não. Mas esse debate, o governo aparentemente não faz, ou se faz não deixa transparecer.
Mauro:
– Cristina Amorim gostaria de ver as redações dos veículos de comunicação menos polarizadas entre versões simplificadas da realidade.
Cristina:
– Falta um pouco mais desses debates dentro das redações, também, para simplesmente não repetir o que o governo está falando. Talvez, sim, o governo tenha razão e fale: Olha, a gente precisa de hidrelétrica ou então a crise vai se instalar. Tudo bem. Vamos discutir isso, vamos estudar essa questão, e se o governo tiver razão, então, ótimo, então, assim há de ser. Mas eu acho que não se tem discutido isso. Ainda fica um debate muito, de “é certo” e “é errado”. Quem é certo? O governo ou os ambientalistas? Quem é errado? Sem as tonalidades cinzas que são necessárias nesse tipo de debate. Acho que o Brasil já está bastante desenvolvido, para que esse debate sempre exista. Não se pode hoje simplesmente engolir tudo que é dito, de um lado ou do outro. A gente tem capacidade técnica, a gente tem capacidade intelectual e a gente já tem história suficiente para colocar tudo na balança. Sem debate não há uma cobertura adequada e pouco maniqueísta.
E tudo por tão pouco
O discurso atual sobre o desenvolvimento, e em especial o que já se chama de obsessão do presidente Lula com entraves ambientais, quase sempre deixa escapar que o molde é o das primeiras revoluções industriais. No lugar da Europa e dos Estados Unidos dos dois séculos anteriores entrou basicamente o apetite chinês por matéria-prima e mercados.
Numa lista de 25 países feita pela The Economist, o Brasil tem a previsão mais baixa de crescimento para este ano. E só a Hungria tem previsão pior para 2007.
Vôos irresponsáveis
A cada dia o noticiário traz mais evidências de que a imprensa, com exceções e diferenças de comportamento, trabalhou no caso da tragédia do avião da Gol com o mesmo espírito de buscar apressadamente culpados que caracterizou o episódio da Escola Base, em 1994. Naquele caso, um delegado da Polícia paulista acusou os donos da escola de agressão sexual contra crianças. E a mídia comprou a versão.
Na tragédia aeronáutica, o ministro da Defesa, Waldir Pires, produziu um discurso oficial que apresentava os pilotos americanos como irresponsáveis. E parte da mídia, em especial o Estado de S. Paulo, correu a ecoar a versão oficial. Agora, recua.
O discurso da Polícia
O sociólogo Túlio Khan, coordenador de Análise e Planejamento da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, sugere hoje na Folha que a polícia paulista vai bem e a mídia é responsável pela sensação de insegurança. No artigo não há uma palavra sobre corrupção e truculência nas Polícias, nem sobre as faculdades do crime que são as prisões.
O sensacionalismo deve ser condenado. Os êxitos da Polícia devem ser valorizados, mas a mídia mal consegue superar o estágio primitivo de reproduzir o discurso oficial das autoridades. E a segurança, na melhor das hipóteses, apenas passou de pavorosa a péssima.
Petrobrás na ofensiva
O presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, falou em “jornalismo marrom”, a propósito de denúncias sobre verbas da estatal. Os três jornais mais influentes não recuaram. Seria bom que avançassem ainda mais. O que se conhece do dia-a-dia da Petrobrás, para o bem e para o mal, ainda é muito pouco.