Desafio para a mídia
A mídia está longe de atuar naquilo que a retórica governista chama de “conspiração”, mas há um ativismo, uma clara seleção dos fatos colocados em relevo, principalmente em jornais e revistas. É mais do que hora de se pensar, nas redações, no significado histórico desse comportamento, que não ajuda a democracia brasileira a enfrentar uma situação plena de riscos.
(Ler também A mídia diante de um desafio inédito.)
Catimbeiros
O governo retarda, na medida do possível, a divulgação de informações recolhidas pela polícia que possam prejudicar a candidatura do presidente Lula à reeleição. E os jornais levaram muitos dias para dar o necessário destaque a acusações contra o ex-ministro da Saúde Barjas Negri, auxiliar e depois sucessor de José Serra.
Debates sem idéias
Os debates realizados ontem pela Rede Globo nas 27 unidades da Federação, em horário tardio, mostraram como a imprensa é importante na política. Infelizmente, estiveram longe de contribuir de modo expressivo para a análise de idéias e propostas. Não por opção da Globo, que tomou todo cuidado para ser neutra, abstendo-se até mesmo de formular perguntas. Mas por opção dos candidatos, como no caso de São Paulo. Esse é o jogo no Brasil de hoje.
A cadeira de Lula
A grande incógnita é se Lula vai amanhã ao debate da Globo ou deixa a cadeira vazia. Se fosse no horário da novela, ele seria praticamente obrigado a ir.
Defesa da liberdade
O editor do Observatório da Imprensa Online, Luiz Egypto, cita palavras de um veterano petista para defender o papel da imprensa.
Egypto:
– Não se trata de uma comemoração, mas vale o registro: ontem subiu para a web a edição número 400 do Observatório da Imprensa. Os leitores têm respondido a esse esforço tanto em audiência como em participação. E às vésperas das eleições, é natural que os ânimos se acirrem. Isto fica bastante claro nos comentários postados no site. São freqüentes, por exemplo, as manifestações que atribuem à imprensa as agruras por que passam o governo Lula e seu partido, imersos em tantos escândalos. Sobre isso, convém ouvir uma voz insuspeitada – a do deputado Paulo Delgado, do PT mineiro, em entrevista à repórter Maiá Menezes, no Globo de ontem (26/9). Diz ele:
“Nós estamos cuspindo na rotativa em que comemos. O PT é um produto da imprensa. A imprensa sempre ampliou a nossa voz e a nossa luta. A cobertura democrática cobra mais do vencedor. Sempre. O PT sabe disso. É obrigação da imprensa livre. Nós devemos nos contentar em vencer as eleições. E não em triunfar sobre a liberdade de imprensa e de opinião”.
O deputado falou e disse.
Gestão de choque
Mônica Bergamo informa hoje na Folha que o choque de gestão alardeado pelo ex-governador Alckmin resultou em rombo nas contas públicas paulistas. Será que isso também é parte de uma conspiração da mídia?
Análise quantitativa
A pesquisadora Alexandra Aldé, do Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, relata que a análise quantitativa dos jornais mais influentes mostra um tratamento duro contra o candidato Lula.
Alexandra:
– O Laboratório de Pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública do Iuperj desde 2000 tem procurado monitorar nos anos eleitorais como os principais jornais cobrem os candidatos a presidente, a majoritários. E os resultados são quantitativos. Isso dá muita segurança para a gente fazer análises sobre o comportamento dos meios. Sobre a eleição de 2006, o que chama bastante a atenção é a atitude muito negativa da mídia em relação ao presidente Lula. A candidatura não foi um fiasco. Uma candidatura que teve o tempo todo os mais altos índices de voto, alianças, apoios. É estranho, um pouco, que a mídia consiga achar tantas matérias negativas para falar do Lula candidato. Porque o que a gente avalia não é tanto a parcialidade da imprensa. Isso é uma questão muito subjetiva. Mas o conteúdo. Ou seja: essas matérias trazem fatos que, para as candidaturas, são positivos ou negativos?
Mauro:
– Em 2005 o presidente e seu partido estiveram sob o fogo de gravíssimas denúncias. Estranho seria se, em 2006, sua candidatura fosse noticiada de forma essencialmente positiva. A entrevista de Alexandra Aldé foi dada duas semanas atrás, antes da crise na campanha de Lula. Agora os dados devem estar ainda mais negativos.
Pesquisas em xeque
Cresce o número de institutos de pesquisa e cai a confiabilidade de seu trabalho. Hoje, na Folha, Nelson de Sá, põe o dedo na ferida. E mostra como blogs de política correram a divulgar números inconsistentes de intenção de voto.
# # #
Outros tópicos recentes
De Alberto Dines
Jornalismo fiteiro, momentos finais
O publico como elemento ativo. E consciente
Do blog Em Cima da Mídia
A mídia diante de um desafio inédito
Roberto Jefferson diz que estopim foi Furnas