Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Vazamentos em Washington e Brasília
>>Mídia chegou tarde

Vazamentos em Washington e Brasília


Em matéria de vazamento para a imprensa, o presidente George W. Bush, a se confirmar denúncia feita por um ex-integrante de seu governo, deixa o ex-ministro Palocci no chinelo.


Mas se, como acusa hoje o senador Tasso Jereissati, o presidente Lula tiver tido alguma participação na violação do sigilo do caseiro Francenildo, a comparação fica menos desequilibrada. É claro que os crimes, se crimes foram, tiveram móveis e dimensões incomparáveis.


Privado e público


O Jornal Nacional, de uma empresa privada, se recusou ontem, mais uma vez, a servir de palanque para o presidente Lula. O Jornal da Cultura, de um canal público, deu ao presidente tempo generoso para discurso de campanha eleitoral.


Mídia chegou tarde


Alberto Dines diz que a mídia chegou atrasada no caso do deputado João Paulo Cunha.


Dines:


– É mais do que justa a indignação dos membros do Conselho de Ética com o comportamento da Câmara, cada vez mais insensível e impermeável às questões morais. Protegido pelo voto secreto e estimulado pelo sinal verde que recebe da Mesa da Câmara, o plenário esquece a delegação que conferiu aos corregedores do Conselho de Ética e mostra a sua devoção aos mesquinhos interesses individuais. Mas é imperioso insistir, repetir e reiterar: a imprensa é o único poder capaz de obrigar os deputados a repensar seus compromissos com aqueles que os elegeram.


A grita da mídia, ontem, com a absolvição do deputado João Paulo Cunha, estava apenas 24 horas atrasada. Apenas. A fleugma de quarta-feira foi substituída na quinta por uma indignação quase guerrilheira. Se fosse o contrário, não haveria o menor problema. A imprensa tem obrigação de assumir posições, sobretudo quando dispõe de informações verificadas e comprovadas. Caso do relatório preparado pela Comissão de Ética sobre o comportamento de João Paulo Cunha. A mídia preferiu entregar-se à loteria do painel eletrônico e, quando esta loteria revelou-se desfavorável, então se lembrou de espernear. Tarde demais. O plenário não é uma entidade abstrata, o plenário é composto por indivíduos que, mesmo protegidos pelo anonimato, têm suas fraquezas. Cabe à imprensa descobri-las, desvendá-las e impedir que este grupo de fantasmas continue envergonhando o país.


Voto secreto


A mídia e o Conselho de Ética estão irmanados numa característica: suas manifestações são públicas, explícitas. Isso é o oposto do voto secreto no plenário da Câmara.


A imprensa prestaria agora um grande serviço público se estimulasse sistematicamente o debate sobre a validade desse tipo de votação.


Desafios temporais


Cada vez mais a mídia tem um problema para trabalhar com o tempo. Isso foi constatado num memorando interno do Jornal do Brasil que Alberto Dines, assinou há quarenta anos, quando um jornalista competente, Mauro Salles, assumiu o jornalismo da nascente TV Globo. Dines constatava que o jornal diário teria que ser “mais profundo, mais seletivo, com mais referência e com mais contexto”.


Hoje, a batalha da mídia com o tempo assumiu novas dimensões. Um só exemplo é o advento da internet e, mais recentemente, dos blogs.


Mas outro problema da imprensa com o tempo é organizar a memória dos fatos ocorridos e noticiados. Foi por isso que a imprensa vacilou no caso do deputado João Paulo Cunha. É isso que deixa para trás dezenas de denúncias. Onde estão, por exemplo, as informações sobre os esquemas atribuídos a Dimas Toledo em Furnas? Por que o vice-governador de Minas Gerais, Clésio Andrade, um dos mentores de Marcos Valério, acabou escapando de indiciamento no relatório da CPI dos Correios?


Hoje, no Globo, Merval Pereira faz um histórico da imprensa para rebater ataques de João Paulo Cunha à mídia. Merval constata que a imprensa, no Brasil como no mundo, está progressivamente mais profissional e menos facciosa. É verdade. Mas esse profissionalismo ainda precisa caminhar muito.



Caso do caseiro


A brutalidade do jogo contra o caseiro Francenildo Costa encobriu detalhes do quadro. A desistência de Francenildo de entrar no programa de proteção de testemunhas da Polícia até agora não foi explicada.


Política externa


A mídia, assoberbada pelos escândalos brasilienses, subestima os problemas da política externa brasileira. Guerrilheiros da Colômbia na Amazônia, gás boliviano, eleição peruana. Tudo tratado de modo fragmentado.


Onde crime não é manchete


Mais uma vez a imprensa paulista subestima a crise da segurança pública. Tiroteio com duas mortes em Copacabana, o lugar mais famoso do Brasil, fica escondido no Estadão e na Folha. Dias atrás, uma chacina com quatro mortos a machadadas, na zona norte de São Paulo, também foi tratada como assunto secundário.


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