Deixar tudo como está
Se tivessem sido planejados, os últimos acontecimentos no Congresso não teriam servido de forma tão maravilhosamente harmônica à conservação do statu quo. Votações no Conselho de Ética que deixam a porta aberta para absolvições em plenário, dificuldade ou desinteresse em apontar de onde veio o dinheiro do valerioduto, questionamento do ministro Palocci do qual os senadores não saíram convencidos, mas no qual também não convenceram.
Quando se procura a lógica de tudo isso encontra-se o fugidio óbvio: como esperar que os protagonistas de um modo atrasado de fazer política sejam eles mesmos os promotores da reforma?
Resta saber como a população reagirá ao espetáculo nas urnas de outubro.
Contra o oportunismo e o casuísmo
O Alberto Dines pede que a imprensa acorde para os riscos do oportunismo e do casuísmo, e se mexa.
Dines:
– As manchetes de ontem confirmam o descaso de anteontem. A imprensa acordou tarde para o perigo representado pelo fim da verticalização. No início da semana a imprensa parecia mergulhada numa siesta de verão, agora acordou e, aos berros, está alertando para o perigo do vale-tudo das coligações. Se os articulistas tivessem escrito na segunda e terça-feira o que escreveram na quarta e quinta, hoje estaríamos seguros de que a democracia brasileira está no bom caminho. Fica evidente que a nossa imprensa é reativa e, não, preventiva. É empurrada, não empurra. Prefere manter boas relações com os políticos do que expor as suas jogadas.
Nossos jornais, revistas, rádios e tevês terão que se esgoelar muito para reverter a votação no segundo turno e superar uma diferença de 200 votos. Não será fácil vencer os caciques e os coronéis que apostaram no retrocesso, a começar pelo presidente Lula. Jornais e jornalistas precisarão se mobilizar para convencer o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal Eleitoral de que a democracia brasileira não pode conviver com este caos partidário que só facilita a corrupção. Os partidos estão divididos, as lideranças trabalham na sombra, sem coragem de assumir seus compromissos partidários, campeia o oportunismo e o casuísmo. Estão todos de olhos nas eleições de outubro de 2006 mas ninguém se preocupa com as de 2008, 2010, 2014 ou 2020. Se esta emenda constitucional for vitoriosa ficará parecendo um remendo grosseiro e eterno. Só existe, neste momento, uma instituição capaz de consertar o vexame: a imprensa. Vale a pena acompanhar todos os seus movimentos.
PMDB ganha
O Estado de S. Paulo defende hoje em editorial o fim da verticalização. Diz que os deputados votaram certo por motivos errados. Compara a verticalização, imposta pelo TSE, ao voto vinculado da ditadura militar. Em reportagem, o Estadão, como os outros jornais, diz que o PMDB é o maior beneficiário da liberação das alianças.
Dirceu e Lula
O blogueiro Josias de Souza, reproduzido hoje na Folha, informa sobre conversa recente entre o presidente Lula e José Dirceu, na Granja do Torto. Dirceu foi pontificar na Venezuela, Lula vai deitar falação na televisão.
Campanha esquecida
Pré-candidatos do PSDB ao governo do estado de São Paulo já têm equipes de campanha montadas e a imprensa ainda não fala do assunto.
Debate contaminado
Luís Nassif pede hoje na Folha que a discussão sobre a TV digital chegue à opinião pública. E alerta que o debate sobre o tema no Congresso pode ser contaminado pelo fato de que muitos parlamentares são, indevidamente, donos de concessões.
Cultura de Big Brother
Não é jornalismo, mas vá lá que o Globo Online publique “notícias” sobre atracações de casais no Big Brother Brasil. Mas daí a colocá-las na sessão de “Cultura” vai uma grande distância. Ou será que o site usa a palavra cultura na acepção antropológica?
Crime delicado
Nesta sexta-feira, 27 de janeiro, o Estadão dedica uma página inteligente ao filme Crime delicado, de Beto Brant, que estréia hoje em São Paulo e no Rio. Como fizeram ontem a Folha de S. Paulo, o Globo e o Jornal do Brasil. As polêmicas que o filme provoca são bem mais fecundas, no plano das idéias, do que bate-bocas sobre a política do Ministério da Cultura.
Adesão a manifesto anti-Tanure
Em algumas horas, ontem, passaram de 300 as assinaturas no manifesto da Federação Nacional dos Jornalistas em defesa da liberdade de imprensa, contra a tentativa do empresário Nelson Tanure, que controla o Jornal do Brasil e a Gazeta Mercantil, de intimidar jornalistas de São Paulo e do Rio.