Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Mídia tenta impor debate sério
>>O crime e a foto do crime

Mídia tenta impor debate sério


Este observador errou ao criticar a manchete do Globo na sexta-feira passada (13/10): “Alckmin diz que Brasil não cresce sem baixar imposto”. O jornal se esforçava para promover debate de temas relevantes. Outros jornais seguiram a trilha e nos últimos dias houve um esforço louvável para promover essa discussão.


Mas é preciso notar que no Brasil, ultimamente, jamais os candidatos tomam a iniciativa de falar sério. E são eles que, forçosamente, dão o tom das campanhas. Ao mesmo tempo, o oportunismo eleitoral não tem limites, de um lado e de outro. O PT agora faz o chamado “terrorismo”, método que começou a ser usado na eleição de 1989 por Collor contra Lula, e que José Serra usou contra Lula em 2002. O PSDB de Alckmin, na defensiva, troca convicções por conveniências na ilusão de que isso lhe dará votos.


O crime e a foto do crime


Alberto Dines diz que não se pode colocar no mesmo plano o crime do dossiê, e a tentativa do governo de ocultar a montanha de dinheiro, com o pecado cometido pela imprensa ao omitir as circunstâncias em que as famosas fotos foram divulgadas.


Dines:


– A matéria de capa de Carta Capital está provocando um certo rebuliço nos meios jornalísticos ao insistir na tese de que a partir da “trapalhada do PT” [sic] a grande mídia passou a beneficiar ostensivamente o candidato da oposição e, graças a isso, a decisão eleitoral foi adiada para o segundo turno. Aí está um exemplo da arte de sofismar ou empregar argumentos capciosos ou, para sermos mais claros, tapar o sol com a peneira. Ora, a tal “trapalhada do PT” configura um crime. No mínimo, crime eleitoral, mas de proporções jamais vistas, programado para estourar na reta final das eleições de modo a impedir qualquer reação dos acusados. Ao ser abortada pela Polícia Federal, a tal “trapalhada” provocou evidentemente uma reversão na opinião do eleitorado. E, ao impedir a proibir a publicação do dinheiro apreendido – como sempre aconteceu – o governo agravou a tal “trapalhada” de tal forma que quando as fotos foram afinal publicadas (e, diga-se, de forma irregular), a repercussão foi muito maior do que se fossem publicadas na hora apropriada. Portanto, a trama que levou ao segundo turno não foi articulada pela grande mídia. Foi engendrada pelos trapalhões do PT e agravada pela manobra dos trapalhões do governo de impedir a publicação das fotos. No meio de tantas trapalhadas e trapalhões, a mídia entrou com a sua quota-parte. Mínima, se comparada com o crime eleitoral que se tentou perpetrar.


Não dar pretexto


Dines tem razão. Mas, ao fazer das suas, a mídia abre flanco para a agitação de teorias conspiratórias.


Pesquisas rendosas


O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, denuncia hoje em artigo na Folha o uso de pesquisas eleitorais para manobras financeiras.


Educação politizada


O professor de filosofia Renato Janine Ribeiro faz uma avaliação sobre a cobertura das questões educacionais pela mídia.


Janine Ribeiro:


– Eu acho que a mídia evoluiu muito na cobertura da ciência e tecnologia porque nós temos hoje vários bons jornalistas de ciência, pessoas que têm uma formação científica ou pelo menos um conhecimento, que são capazes então de discutir o que está havendo de novo na ciência ou na descoberta, que sabem quem são os cientistas importantes. Na educação, eu não teria tanta certeza de que a mídia evoluiu, talvez porque educação envolva mais questões políticas.


Eu estou na pós-graduação, eu sou diretor de avaliação da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível Superior, do Ministério da Educação), ali o confronto das duas linhas políticas mais visíveis do Brasil é muito pequeno. Mas quando a gente passa o resto da educação, a discussão sobre ela está muito partidarizada e isso acaba trazendo um problema delicado, porque nós acabamos com dificuldade de ter uma visão objetiva. O Brasil não pode se dar ao luxo de ter os seus melhores quadros se digladiando. São pessoas que estão comprometidas com uma educação melhor, seja num partido, seja no outro, discordam quanto aos meios de chegar a isso.


Eu acho que as eleições são uma boa maneira de dar hegemonia a um lado, mas sem excluir o outro.



Educação sem qualidade


Em meio ao festival de promessas dos dois candidatos, chama a atenção o discurso do presidente Lula a respeito da expansão do ensino superior. O que se pode esperar disso, dadas as condições atuais, é o surgimento de mais cursos sem qualidade.


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