As vaias ainda ecoam
Dines:
As vaias ao presidente Lula na festa de abertura do PAN ofuscaram as repercussões geradas pela portaria que regula a exibição de programas televisivos para crianças e jovens publicada dois dias antes. Influenciada talvez pelo clima de competição esportiva, a mídia discutiu a questão na base do quem ganhou a parada — governo ou empresas de televisão? Uma coisa é certa e só os avestruzes não a enxergam: está consagrado o princípio de que as concessões de TV estão sujeitas a monitoramentos e fiscalização no tocante a horários e faixas etárias. Mas o que faltou dizer neste episódio é que a a mídia eletrônica comandada pela TV-Globo exorbitou, advogou em causa própria pois sua cobertura não foi isenta nem equilibrada. É disso que tratará a edição do Observatório da Imprensa desta noite: às onze e quarenta na TV-Cultura e, ao vivo, às dez e quarenta, na TV-E.
Luciano:
E nesta terça-feira, todos os grandes jornais do País preferiram destacar as vaias sofridas pelo presidente Lula na cerimônia de abertura dos Jogos Panamericanos no Rio de Janeiro, mas apenas o Globo viu no episódio motivo para uma guerra entre governo e oposição. O Estado de S.Paulo, embora não tenha escolhido o assunto para manchete, dedicou a ele duas páginas.
A Folha foi o jornal que deu o maior destaque, e também a melhor tirada. Entre a afirmação do prefeito do Rio, César Maia, de que Lula colheu o que plantou, e a acusação de governistas, de que as vaias foram preparadas por uma claque contratada pelo prefeito, o resumo do episódio fica para o humorista José Simão: “Lula é ouro em salto com vaia”
Em busca de heróis
A tristeza de Lula com as vaias se mistura com as lágrimas da ginasta Jade Barbosa, que cometeu um erro no exercício final e perdeu a chance de uma medalha. Fiéis à tradição das coberturas ufanistas nas competições esportivas internacionais, todos os grandes jornais estamparam o rosto choroso da jovem. Mas, como a regra é celebrar, a imprensa já procura outros candidatos a heróis. As lentes já se voltaram para a dupla do badminton, que tem chances de se tornar o mais novo motivo de orgulho para a nacionalidade.
Um caso a mais
A Folha de S. Paulo foi o único dos grandes diários a destacar a ação do Ministério Público federal contra o ex-secretário da Receita, Everardo Maciel. Ele é acusado de haver permitido que dois altos funcionários do Leão prestassem serviços para uma empresa privada, a construtora OAS. A Folha deu uma chamada na primeira página e abriu o caderno Dinheiro com o tema em página inteira, com amplo espaço para a defesa de Everardo Maciel. Ele afirma que se trata apenas de perseguição pessoal.
Corrupção ao sul
A renúncia da ministra da Economia da Argentina, Felisa Miceli, ganhou espaço entre as nossa mazelas domésticas. A ministra deixou o cargo espontaneamente, vinte dias depois de haver sido encontrada no banheiro do seu gabinete uma sacola contendo 60 mil dólares em dinheiro. Na imprensa brasileira, o caso ganhou destaque de primeira página.
Marcação cerrada
Quanto aos nossos próprios escândalos, os jornais continuam mantendo o estilo Dunga sobre o presidente do Senado. Renan Calheiros segue sendo marcado dia a dia. A tentativa do senador peemedebista de restringir as investigações da polícia federal foram desmentidas por ele. Destaque em todos os jornais para o presidente do PT, Ricardo Berzoini, que mais uma vez pede mais equilíbrio nas acusações e diz que Renan não pode ser linchado.
Sucessão antecipada
O Estadão deu seqüência à discussão antecipada sobre a sucessão do presidente Lula, inaugurada segunda-feira com uma entrevista do deputado Ciro Gomes, na qual o ex-ministro admitia se lançar candidato em 2010. Como os outros jornais não acompanharam – e apenas a Folha fez um registro, citando o concorrente, a tendência é que o ensaio fique por aí mesmo.