Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Puxando o fio da meada
>>Democratizar a banda larga

Puxando o fio da meada


A leitura dos chamados jornais de circulação nacional revela diferenças nas abordagens de cada um para o escândalo que envolve o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, seu partido e integrantes da sua base na Assembléia Distrital.


A Folha de S.Paulo usa manchete de página inteira para demonstrar que o esquema de distribuição de propinas a deputados era de total responsabilidade do próprio governador.


Além disso, engrossa as apostas de que Arruda será mesmo desligado do partido Democratas e especula com cautela sobre as possíveis conseqüências do escândalo nas eleições de 2010.


Todos os grandes diários se referem a uma frase do presidente da República, que se negou a antecipar uma opinião com base nas imagens de parlamentares recebendo dinheiro.


Mas apenas o Globo transformou a declaração do presidente em manchete, o que mal disfarça uma tentativa grosseira de desviar a atenção do verdadeiro centro do escândalo: um esquema de captação de recursos através da concessão de serviços públicos superfaturados no Distrito Federal para distribuição a parlamentares e outras personagens públicas.


O desenho, as cores e os textos da primeira página do Globo são uma verdadeira aula de manipulação de informações.


O Estado de S.Paulo faz a cobertura mais aberta, diversificada e esclarecedora do escândalo nesta quarta-feira.


Além de contextualizar melhor as declarações, dá ao leitor uma idéia de como funcionam tais esquemas.


A primeira página da série de reportagens sobre o chamado “mensalão do DEM” em Brasília informa que o Conselho Nacional de Justiça vai investigar a participação de desembargadores do Distrito Federal, que teriam recebido propinas para julgar favoravelmente processos de interesse do governador Arruda e seus aliados.


O Estadão informa ainda que as mesmas empresas envolvidas no escândalo de Brasília mantém contratos com a prefeitura de São Paulo, cujo prefeito também é filiado ao partido Democratas. 


O noticiário geral ainda traz informações adicionais de outro escândalo, que envolve a empreiteira Camargo Corrêa.


Segundo a Folha de S.Paulo, a empresa teria distribuído propinas a cerca de 200 figuras públicas, entre deputados, secretários municipais, conselheiros e ministros de Tribunais de Contas.


Bem agora, quando começam a se organizar as chapas para as eleições do ano que vem, é a hora de a imprensa revelar essas fragilidades da República.


Não dá mais tempo de votar uma reforma, mas ainda é possível carimbar certas candidaturas suspeitas. 


Democratizar a banda larga


Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:


– Não haverá quem menospreze a importância de uma boa conexão de internet para tarefas que a cada dia se tornam mais corriqueiras e que demandam a utilização de computadores ligados em rede. Nas aplicações voltadas para o governo eletrônico, essenciais para a cidadania, e sobretudo nos programas de educação, em que há uma gama imensa de possibilidades a serem exploradas, a banda larga de boa qualidade é essencial para dar suporte a políticas públicas de inclusão digital. Quanto mais não fosse, pelo fato de a democratização do acesso à internet, por meio de conexões rápidas e seguras, ser um fator estratégico da mais alta relevância para um país que se pretende ator destacado no mundo globalizado.


No entanto, à semelhança de outras modalidades de exclusão, a banda larga de verdade, aquela com boas taxas de transferência, ainda é um privilégio de poucos. Como anotou o jornalista Elio Gaspari, em sua coluna do último domingo, o estado de São Paulo concentra mais conexões de banda larga do que a soma das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Evidente, as operadoras preferem investir nos mercados mais ricos – e, por isso, mais rentáveis.


Um estudo do banco JP Morgan sobre o mercado brasileiro de banda larga, citado pelo informativo Teletime, mostra que o custo do serviço para o consumidor final cai pela metade nas áreas onde há competição. E que competição haverá numa cidade pequena do cerrado goiano ou nos interiores do sertão nordestino?


É aí que entra o governo. No Executivo, há duas leituras para Plano Nacional de Banda Larga: uma, advoga mecanismos de financiamento e isenção tributária para que as operadoras privadas supram essa carência. A outra, propõe que uma empresa estatal se encarregue de fornecer o serviço, aproveitando a infraestrutura pública já existente e incidindo nos mercados menos atrativos para as grandes operadoras. Uma solução intermediária entre as duas posições será muito bem-vinda. E em nome da democratização do acesso à internet, as operadoras privadas não poderão chiar.