Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Apagão comunicacional


Alberto Dines:


O apagão não é apenas aéreo, é “comunicacional”,  é político, operacional e mental. O governo evaporou-se quando deveria fazer-se presente, disse as coisas erradas quando afinal decidiu falar e pela janela indiscreta do palácio do Planalto mostrou que os altos escalões da República, além do repertório de gestos chulos, pensam de forma tosca e grosseira. Não houve invasão de privacidade como alega o assessor presidencial Marco Aurélio Garcia: homens públicos devem comportar-se com decência  quando usam os espaços públicos. Com ou sem cortinas levantadas. Este foi o pecado de Bill Clinton quando fez do Salão Oval da Casa Branca uma alcova – ninguém viu, mas todos souberam o que lá fez com Monica Lewinsky. No arrevesado pedido de desculpas (de certa forma até mais grosseiro do que o gesto que o motivou), o professor Marco Aurélio Garcia investiu novamente contra a mídia. Ora, se ele foi flagrado quando se entusiasmava com uma reportagem da TV-Globo, sua acusação contra a imprensa  é totalmente infundada, sem consistência. Esta insistência do governo em  fazer da mídia o bode expiatório, só serve para ampliar o tamanho dos seus erros.


Luciano Martins:


Nada a acrescentar


As revistas semanais, das quais se espera que ajudem a consolidar as informações dos jornais, não deram neste final de semana grandes contribuições para o esclarecimento do leitor no caso do acidente aéreo em Congonhas. Veja, como é de rotina, dedicou amplo espaço para responsabilizar o governo diretamente pelo desastre, mas também resolveu personalizar a culpa, insinuando que o co-piloto, Henrique Stephanini Di Sacco, poderia ter suas habilidades colocadas sob suspeita, afirmando que ele fora demitido da Gol antes de ir trabalhar na TAM, por haver sido reprovado em teste com simulador de vôo. Stephanini poderia estar no comando do Airbus durante a tentativa de pouso que resultou em tragédia.
O fato, ocorrido em 2001, não foi confirmado pela Gol, foi desmentido por familiares de Staphanini e não tem qualquer importância em relação à tragédia ocorrida seis anos depois. Veja tem outras informações que omitiu aos leitores ou seus editores agiram com extrema leviandade, cravando no leitor uma suspeita sobre o piloto.


Mais dúvidas


Depois de haver iniciado a cobertura da tragédia com especulações que não encontraram ainda confirmação, os jornais resolveram abrir o leque, e iniciam esta semana tendo que lidar com a penosa tarefa de manter aquecidos os restos do incêndio.


A Folha foi garimpar na Alemanha e encontrou um especialista inglês que vê falhas e informações incompletas no manual do Airbus, justamente no que se refere ao sistema de frenagem.


Inferno nos aeroportos


O cancelamento de mais de 60% dos vôos em Congonhas, ontem, provocado pelo colapso do sistema de vigilância aérea na Amazônia, forneceu material para novas manchetes. Com espaço para a teoria da conspiração, conforme destaca O Globo. O Ministério da Aeronáutica chegou a investigar a hipótese de sabotagem no Cindacta-4, Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo nos Estados do Amazonas, Rondônia, Mato Grosso e parte do Pará.


Mas a manchete do Estado de S.Paulo remete a questão a uma velha inimiga da eficiência brasileira: “FAB conclui que pane em Manaus foi barbeiragem”.


Esqueceram dos vivos


Alberto Dines tentou embarcar ontem para o Rio. Dines, conte como está a rotina nos aeroportos:


Dines:


A mídia e as autoridades estão preocupadas com os mortos, mas esqueceram dos vivos. Quando as autoridades e a mídia dizem que não há apagão aéreo, não estão contando a verdade. Os controladores continuam fazendo a sua “operação tartaruga” e os vôos não estão seguindo. Ontem à noite, domingo, houve em Congonhas uma série de interrupções em vôos por determinação dos controladores. Eu próprio fui testemunha e vítima de um apagão determinado pelos controladores – que, às onze horas da noite, com passageiros na pista, embarcados já há algum tempo, não puderam prosseguir viagem para o Rio de Janeiro. Congonhas fechava com tempo perfeito, ainda aberto; Santos Dumont fechava; e, seguida, Tom Jobim e Galeão também fecharam; com passageiros na pista e autorizados para embarcar. Portanto, está acontecendo alguma coisa. A mídia está muito preocupada em reproduzir as estatísticas da Infraero e as estatísticas da Infraero não são verazes. Os aviões não estão seguindo. No meu avião, que deveria levantar às nove e meia para o Rio, havia passageiros que estavam o dia inteiro à espera deste vôo. Portanto, alguma coisa está acontecendo e a verdade não está aparecendo – ou por causa destas fontes, das autoridades, ou porque a mídia só vai atrás das estatísticas da Infraero.