Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Como buscar qualidade na TV
>>Direitos humanos

Ex-arenistas agora são ‘democratas’


Estudiosos lançam alertas periódicos a respeito do quadro partidário brasileiro, mas o noticiário, por inércia e conformismo, se organiza segundo a imagem pública forjada pelos próprios partidos. Isso significa que ele mais oculta do que revela a realidade. Mas a farsa chega ao absurdo quando a imprensa começa a se referir a um dos partidos nascidos do apoio à ditadura, o PFL, como os “democratas”.


Balbinotti e a Justiça


O enredo mais conveniente para o presidente Lula se cumpriu com a desistência do deputado Odílio Balbinotti. A conta da indicação de um suspeito para o Ministério da Agricultura ficou para o PMDB. Balbinotti é deputado federal pela terceira vez. Examinar seu caso, garantido seu direito à plena defesa, poderia ser um teste para o Conselho de Ética da nova legislatura da Câmara. Mas o assunto provavelmente será esquecido.


Como buscar qualidade na TV


Alberto Dines propõe que o governo se preocupe não com a criação de uma rede chapa-branca de televisão, mas em fomentar programação alternativa de qualidade.


Dines:


– Exatamente há uma semana o ministro Hélio Costa apresentava à presidência da República o anteprojeto daquilo que chamou Rede Nacional de TV Pública e depois se verificou que nada tinha de pública, era estatal. O Estado de S. Paulo teve a primazia de noticiar a idéia e o fez com grande destaque. O assunto foi intensamente debatido pela imprensa com participação de todos os setores interessados, inclusive aqueles situados no próprio governo e se opunham à ideia. Mas a Folha de S. Paulo encerrou com chave de ouro a primeira fase do debate em suas edições de sábado e domingo ao provar que o cálculo inicial do ministro Hélio Costa estava errado e que as tevês estatais já gastam quase 600 milhões por ano para manter o sistema de emissoras educativas, culturais, universitárias e legislativas. O episódio serviu para mostrar o despreparo de setores da administração federal que sequer conhecem a diferença entre o que é estatal e o que é público, mas serviu, sobretudo, para evidenciar a sofreguidão do governo e do partido do governo para aumentar a intervenção no processo de comunicação do país. O cidadão-telespectador precisa de uma programação alternativa capaz de impor-se às telenovelas, reality-shows e besteirol de auditório oferecidos pela TV comercial. É nesta esfera que o governo pode realizar uma verdadeira revolução.


Telecoronelismo


Hoje a Folha dá em editorial o nome certo para a montagem do novo aparelho estatal de TV: telecoronelismo do PT e do governo Lula. O jornal diz que uma TV pública interessante, moderna e dinâmica só terá chances de vingar no Brasil se tiver autonomia em relação aos governos.


Direitos humanos


Os noticiários de televisão divulgaram na quinta-feira, e os grandes jornais, com exceção da Folha de S. Paulo, na sexta-feira, o 3º Relatório Nacional de Direitos Humanos no Brasil, com dados relativos ao período de 2002 a 2005. Ele foi elaborado a partir de informações coletadas pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP e pela Comissão Teotônio Vilela de Direitos Humanos. O relatório conclui que as políticas de proteção e promoção dos direitos humanos sofreram recuo entre 2002 e 2005. O professor Ségio Adorno, coordenador científico do Núcleo de Estudos da Violência, opina sobre a cobertura jornalística.


Adorno:


– A cobertura foi heterogênea. Grandes veículos… um deles deu uma larga projeção, e eu acho que de uma maneira muito boa e muito correta. Eles procuraram dar uma versão nacional, criaram reações locais, eu acho que foi muito bom. O papel, de fato, do relatório é provocar reações. E outra parte da grande imprensa fingiu como se fosse um fato corriqueiro. Como se graves revelações não fossem matéria de repercussão nacional. Ao mesmo tempo que você tem um certo sensacionalismo, que de alguma maneira reflete uma certa inquietação social, você tem uma parte da mídia que é muito responsável e que está preocupada em tratar os fatos dentro de uma isenção possível, mostrando os diferentes pontos de vista.


Mauro:


– A cobertura mais completa foi publicada no Estadão.


Cadáver na orla


Cadáver dentro de carro na praia de Ipanema. Cem, mil vezes mais exposição na mídia do que cadáveres desovados há décadas em favelas e bairros pobres.


O submundo e os gabinetes


Sergio Costa resume hoje na Folha, em artigo certeiro: “O que impressiona é a desenvoltura com que certos personagens envolvidos até o pescoço com o submundo transitam por gabinetes de todos os níveis”.