Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Simplificando o debate
>>Ignorando o vizinho

Simplificando o debate

Diante do noticiário que ao mesmo tempo celebra o aumento do consumo e alerta para o risco da inflação, o leitor pode estar se questionando o que, afinal, a imprensa quer dizer: que o brasileiro deve consumir menos, ou que o aquecimento da economia faz bem ao País?

Ao pensar no assunto, é inevitável lembrar que a imprensa, de modo geral, tem interessse direto na manutenção do consumo elevado, pois sua principal receita vem da publicidade.

E o anunciante precisa se diferenciar da concorrência, colocando seus produtos na mídia.

Mas os jornais não podem simplesmente ficar festejando um surto desenfreado de compras, porque, afinal, além de ser um negócio a imprensa tem supostamente o papel social de informar corretamente a sociedade, para que os cidadãos tomem decisões sensatas no dia-a-dia.

Assim, faz sentido um determinado grau de contradição no noticiário sobre o assunto.

Mas esse contra-senso só se explica porque a imprensa ainda continua enxergando a economia com os olhos do passado.

A inclusão de milhões de famílias no mercado de consumo é um fenômeno global, associado ao desempenho das chamadas economias emergentes.

De fato, muitos pobres, principalmente na Índia, na China e no Brasil, estão consumindo mais.
Esse é um dos aspectos sociais do estado do mundo.

Mas existem também outas questões a serem consideradas no noticiário.

Por exemplo, os níveis de produção agrícola e da indústria em geral subiram espetacularmente, o que tem provocado uma pressão adicional pela agregação de novas áreas de plantio.

Acontece que temos também o desafio ambiental.

Como atender a essa nova demanda, se considerarmos que as reservas do planeta estão dando sinais de esgotamento?

E o que fazer quanto aos hábitos de desperdício das classes de renda média e alta?

Quando noticia o aumento do consumo, contendo seu entusiasmo pela conveniência de ser politicamente correta, a imprensa deixa de lado a questão ambiental.

Como se vê, o mundo se tornou mais complexo.

E o noticiário parece simplificado demais.

Ignorando o vizinho

A imprensa brasileira sempre tratou o Paraguai como um vizinho do qual nada se pode esperar a não ser problemas.

A rigor, poucos foram os momentos em que se viram reportagens sobre a vida e a economia daquele país como resultado de interesse autêntico em sua história e no futuro do seu povo.

De certa maneira, o comportamento da imprensa brasileira se confunde com um sentimento generalizado do povo brasileiro em relação ao vizinho, sem procurar conhecê-lo de verdade.

Quando o novo presidente paraguaio colocou em questão o contrato da hidreletrica de Itaipu, nenhum jornal se preocupou em analisar suas razões.

Alberto Dines:

– Paraguai virou sinônimo de pirataria e contrabando e a mídia brasileira não foi lá saber por que. Agora, com a escolha do ex-bispo Fernando Lugo para a presidência da república, o país vizinho  vive um momento excepcional. E o Brasil tem a chave para o seu sucesso. Acontece que a mídia brasileira parece mais inclinada a acompanhar as posições da nossa diplomacia do que em verificar o que há de certo nas reivindicações do Paraguai. Está correto? Participe hoje do Observatório da Imprensa. À meia-noite e dez pela TV-Cultura. Ao vivo, às 22:40 pela TV-Brasil.