Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Grandes reportagens

A melhor novidade da imprensa no final de semana é o lançamento da revista Grandes Reportagens do Estado de S.Paulo.

O jornalão paulista preenche o espaço com uma alternativa de puro jornalismo, ao estrear sua revista tantas vezes anunciada.

A primeira edição tem como tema a Amazônia, com 120 páginas de excelentes reportagens.

Mas faltou à equipe do Estadão o traquejo dos fazedores de revistas.

A publicação tem alguns problemas de acabamento, com falhas de revisão e um texto ainda mais ‘jornaleiro’ que ‘revisteiro’.

Além disso, as imagens poderiam ter recebido um tratamento melhor, para justificar o esforço das reportagens.

De qualquer maneira, trata-se de iniciativa valorosa, que pode oferecer uma opção para a volta da reportagem pura, aquela que se constrói com investigação acurada e texto de qualidade.

A revista é bimestral, e poderia ser produzida com mais freqüência.

Grandes temas, como a violência nas grandes cidades, as desigualdades sociais, a questão ambiental, as mazelas da política e outros desafios que os diários não conseguem tratar com profundidade podem ganhar na nova revista o espaço adequado.

Desde, é claro, que a ‘mão pesada’ do centralismo editorial não venha a domesticar a iniciativa de repórteres e editores.

Enquanto isso, as revistas de informação seguem trilhando o caminho da leveza ou da editorialização excessiva, que produz deduções apressadas e pouco serviço ao leitor.

Neste final de semana, o destaque fica para Veja, com sua pesquisa sobre o que pensam os militares brasileiros.

Num contexto em que parte da imprensa dá destaque a preocupações com a política venezuelana, Veja dá voz aos militares e revela que a maior parte deles, 63,5%, acredita que Hugo Chávez já criou uma situação alarmante na América do Sul.

Embora seja louvável a iniviativa da revista de sair a campo e consultar a opinião dos militares, o texto em que apresenta a pesquisa é um verdadeiro campo minado pelos pressupostos dos editores.

Expressões como ‘ameaça à supremacia’ e ‘corrida armamentista’ podem induzir o leitor a interpretações equivocadas, como, por exemplo, a de que a América Latina está à beira de uma guerra.

De qualquer modo, se prestar mais atenção aos números da pesquisa do que ao texto da revista, o leitor fica sabendo, por exemplo, que os militares podem estar preocupados com os rumos do País, mas não pensam em novas aventuras na política.

Lula sobe o morro

O Globo informa, na edição de hoje, que o presidente Lula vai subir o morro na zona sul do Rio, na sexta-feira.

O presidente vai lançar projetos ligados ao Plano de Aceleração do Crescimento que prevêem obras em favelas do Rio.

O jornal carioca lembra que a visita de Lula acontece uma semana depois de uma operação da polícia que resultou em intensos tiroteios com traficantes.

O chamado complexo Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, entre Ipanema e Copacabana, é uma das áras mais disputadas pelo tráfico. O clima está tenso na região por causa de incursões da polícia, que tenta capturar o assaltante que provocou recentemente a morte de um turista italiano.

Dia 9 de setembro, o trem que levava dois ministros e outras autoridades foi metralhado por traficantes quando passava pela favela do Jacarezinho.

Daqui até sexta-feira, agentes especiais vão vasculhar a região para garantir a segurança do presidente.

Lula quer anunciar no alto do morro a destinação de 3 bilhões e 800 milhões de reais para o Estado do Rio.

Só no complexo Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, serão investidos 35 milhões de reais.

Entre as principais obras está prevista a construção de um elevador que deverá dar acesso ao alto do morro.

Os moradores esperam por essa obra há muitos anos.

Os chefões do tráfico e seus sócios no nível do mar não querem melhorias que favoreçam a presença do Estado lá em cima.

Trata-se de operação de altíssimo risco. Além de traficantes, que podem ser neutralizados temporariamente por uma operação militar, milícias e policiais corruptos fazem o roteiro de uma situação da qual o governo do Estado perdeu o controle há muito tempo.

A visita de Lula remete inevitavelmente ao enredo do filme Tropa de Elite, no qual os policiais são destacados para desarmar traficantes antes da visita do papa ao morro do Turano.

No Brasil, a ficção nem chega perto da realidade.