O fim da concorrência
O resgate da ex-candidata a presidente da Colômbia Ingrid Betancourt está nas manchetes de hoje.
Segundo o noticiário, ela foi libertada em uma ação militar, juntamente com três cidadãos norte-americanos.
As notícias liberadas pelo governo colombiano dão conta de que os quatro ex-prisioneiros estão em condições razoáveis de saúde.
Ingrid Betancourt, ex-senadora que disputava as eleições presidenciais em 2002, foi seqüestrada quando fazia campanha eleitoral no interior do país.
Ela e os três agentes do governo americano eram parte do grupo de 44 prisioneiros cuja libertação era negociada com o que resta do comando das Farc.
O noticiário de hoje, alimentado basicamente por agências internacionais, não oferece detalhes da operação militar, mas há indícios de que ela foi planejada paralelamente a uma ação humanitária organizada pelo governo francês.
Embora o governo colombiano afirme ter se tratado de um resgate militar, há indícios de que as Farc resolveram liberar os prisioneiros, mas o noticiário não é conclusivo.
O material que os jornais publicam hoje estava disponível nas redações no final da tarde de ontem, o que permitiu caprichar nas edições, com gráficos e mapas.
Comparados aos jornais de maior prestígio internacional, os diários brasileiros não ficam trás em termos de organização e conteúdo.
A cobertura do caso mostra que sabem usar os recursos de edição como qualquer congênere dos países mais desenvolvidos.
O problema é justamente o oposto: desenhados a partir dos mesmos consultores, os jornais brasileiros acabam ficando muito parecidos.
Os infográficos têm o mesmo estilo, os mapas e os textos modulares dão uma aparência comum a todos eles.
As manchetes de hoje sobre a libertação ded Ingrid Betancourt mostra que os jornais parecem cada vez menos capazes de surpreender o leitor.
Assim fica difícil convencer alguém de que existe diversidade e competição real entre eles.
Se o leitor quiser fazer um exercício de observação, basta analisar os títulos das reportagens sobre a libertação da ex-senadora colombiana: eles dizem praticamente a mesma coisa.
Pelo menos na imprensa brasileira, o mundo ainda é plano.
A festa da literatura
Começou ontem à noite a Festa Literária Internacional de Parati, com a boa notícia de que a cidade fluminense pode ganhar o status de patrimônio da humanidade da Unesco.
A imprensa está presente em peso.
Pelo menos 400 jornalistas de várias partes do Brasil e de países latino-americanos se credenciaram.
Por todo canto se respira literatura e, pelas ruas calçadas com a pedra pé-de-moleque, pode-se cruzar com escritores e editores, que distribuem autógrafos como celebridades do mundo do entretenimento.
Os críticos literários têm a oportunidade de tomar uma cerveja com seus objetos de estudo, professores e estudantes de literatura sentam-se ao lado de figuras míticas dos livros nos bares da cidade.
Trata-se de um momento de glória para o jornalismo cultural.
Mas será que a imprensa está atenta aos riscos da festa?
Por todo lado se pode observar o cuidadoso trabalho das assessorias de marketing das grandes editoras.
E nem tudo é boa literatura.
Assim como existem os jornalistas especializados em ganhar prêmios, também pululam no mercado os escritores especializados em… mercado.
Alguns detalhes, como a presença de milhares de alunos das escolas da região nas sessões da chamada Flipinha, mostram o propósito dos organizadores de cuidar dos futuros leitores de livros.
Mas será preciso observar o que sairá na imprensa nos próximos dias para se avaliar se o jornalismo está sabendo destacar as melhores expressões da literatura daquilo que é empurrado para o público pelas editoras.
Que literatos se tornem celebridades é bom sinal.
Mas cabe aos especialistas da imprensa separar a boa literatura daquilo que é apenas produto.