Mais escândalos na imprensa
O Estado de S.Paulo traz nesta terça-feira uma reportagem sobre desvios de dinheiro público em volume de bilhões.
Não se trata de uma daquelas denúncias de tempos eleitorais, que se estendem por semanas a fio sem que se saiba ao certo quando as versões vão convergir com os fatos.
São casos comprovados de fraudes e desvios de recursos públicos para projetos irrelevantes, requisições falsas e licitações públicas cobertas de irregularidades.
Em alguns desses episódios, segundo o jornalão paulista, proprietários rurais emprestavam seus rebanhos para pessoas que pleiteavam subsídios oficiais.
Os animais eram mostrados aos auditores para comprovar a validade do empréstimo e depois eram levados de volta para o dono.
Outros casos, também devidamente comprovados, revelam a destinação de financiamento para rebanhos absolutamente inexistentes.
E foi confirmada também a história de um produtor de limões que, procurado pelos auditores, não conseguiu encontrar sua plantação.
Antes que alguém comece a amaldiçoar os políticos brasileiros, convém observar que o caso não aconteceu no Brasil.
Trata-se de um escândalo europeu.
Pressionada pela crise econômica, a União Européia iniciou uma intensa investigação sobre o destino dado a bilhões de euros desde a eclosão da crise financeira de 2008.
Os auditores descobriram que somente em 2009 haviam sido desviados mais de € 1,4 bilhão em fraudes, além de outros € 15 bilhões aplicados em projetos irrelevantes.
O caso dos limoeiros inexistentes foi registrado na Sicília.
Também na Itália, foi descoberto o fazendeiro que emprestava ovelhas para serem exibidas por seus vizinhos para justificar a obtenção de empréstimos subsidiados, que são calculados conforme o tamanho do rebanho.
Além de fraudes desse tipo, foram descobertos gastos de € 5,2 milhões em carros de luxo para parlamentares de vários países, além de ajuda financeira para uma clínica de cães na Hungria e doação a fazendeiros austríacos para “incrementar sua conexão emocional com a terra”.
A reportagem não resolve nosso problema de auto-estima, mas ajuda a lembrar que a corrupção não é coisa só de brasileiros.
Controle ou censura?
Na semana passada, o seminário internacional sobre Comunicações Eletrônicas e Convergência de Mídias, do governo federal, apareceu nos jornais de grande circulação nacional e nas revistas semanais.
A produção de um anteprojeto que permita a regulação do ambiente de convergência de mídias, produto final desse seminário, está sendo objeto de duras críticas por parte dos principais veículos do País, que chegam a resvalar em um tom panfletário.
Sob o chapéu ‘Censura’, o texto de Veja afirma que iniciativas como a realização da 1ª Conferência Nacional de Comunicação e a tentativa de criação do Conselho Nacional de Jornalismo, além do seminário internacional, seriam manobras em favor ‘do controle da imprensa por tentáculos do governo’.
Já a repercussão o Estado de S. Paulo questiona o anteprojeto, cujo dono seria Franklin Martins, a ser realizado no governo de Dilma Rousseff. Além disso, o jornal faz comparações com outros países e destaca a posição da Sociedade Interamericana de Imprensa contra a medida, que na opinião da entidade afetaria a liberdade de imprensa no país.
O Observatório da Imprensa na TV abre espaço para um debate mais aberto sobre o tema.
Alberto Dines:
É difícil entender por que nossa mídia não consegue oferecer uma cobertura compreensível quando ela está na berlinda. Pela lógica, os meios de comunicação deveriam esmerar-se quando tratam deles ou dos respectivos desempenhos de modo a conseguir adesões às suas posições e doutrinas. Geralmente dá-se o inverso: a mídia se apresenta na mídia com tal veemência e às vezes com tal arrogância que acabam perdendo a razão. Não explicam, panfletam.
A edição desta noite do “Observatório da Imprensa” vai examinar a apelação utilizada na semana passada para noticiar o Seminário Internacional sobre Convergência de Conteúdo realizado em Brasília. Não perca: pela TV-Brasil, às 22 horas, em rede nacional, ao vivo. Em S. Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.
Ouça o comentário de Alberto Dines.