O avô do dinossauro era gaúcho
Muitos leitores ainda devem estar morrendo de rir do título que anunciava, na edição desta quinta-feira da Folha de S.Paulo, o texto principal da editoria de Ciência.
Dizia a chamada, em página inteira: ‘Mais primitivo réptil voador era gaúcho’.
Tal disparate, impensável num texto sobre descoberta científica, ilustra bem, nesta semana, como o jornalismo brasileiro pode cometer escorregões na tentative de popularizar assuntos considerados complexos.
No corpo da reportagem, que conta com informações fornecidas pelos próprios cientistas responsáveis pela descoberta, também se nota o esforço do autor para tornar mais digestivos os detalhes da novidade.
Não há como passar ao largo de um debate produzido há poucos anos, quando o apresentador da Rede Globo, William Bonner, justificou certas liberalidades informativas da televisão com o conceito segundo o qual o público médio não teria condições de interpretar notícias apresentadas de forma mais complexa.
Na ocasião, a afirmação do jornalista, de que o telespectador é uma espécie de Homer Simpson, o personagem idiota do desenho animado, muita gente se sentiu ofendida.
No caso da reportagem da Folha, um título mais cômico do que explicativo dá a impressão de que seus autores pretendiam “facilitar” o entendimento de seus pouco letrados leitores.
Essa característica, mais ou menos recente na Folha e um pouco mais antiga no Globo, eventualmente ocorre também nas páginas dos cadernos culturais.
Nesse caso, pode-se ponderar que a mistura entre cultura e entretenimento seria a causa do empobrecimento da linguagem e da informação.
Sim, empobrecimento, porque invariavelmente, quando se tenta simplificar conteúdos complexos mudando apenas o discurso, o que se obtém é a banalização.
Um melhor serviço seria prestado ao leitor se o jornal ou a emissora dedicasse mais espaço e tempo a determinados assuntos, ofertando mais referências para que o público faça a interpretação correspondente.
Trocadilhos, blagues e tentativas de humor quase sempre resultam em falta de respeito ao leitor.
O debate que não houve
Alberto Dines:
– Foi um debate mas não houve debates: o que deveria ser um confronto, terminou como um conjunto de exibições individuais nem sempre animadas, o anunciado plebiscito foi adiado. Culpa do engessamento imposto pela legislação, pelos partidos e, sobretudo, pela emissora que o transmitiu.
O primeiro dos cinco rounds entre os presidenciáveis não poderia dar certo. Depois das dez da noite, num dia de semana, ninguém agüenta duas horas e quinze minutos de falação rigorosamente controlada. Segundo o IBOPE a audiência da Bandeirantes foi ainda menor do que a habitual – caiu de 6 para 3 pontos.
A campeã de audiência foi a Globo com 31 pontos exibindo a semi-final da Taça Libertadores. O portal UOL fez uma enquete entre os usuários para saber quem saiu-se melhor no debate, porém a uma da madrugada, a enquete sumiu misteriosamente sem qualquer explicação. Na primeira página dos jornalões de ontem, o aviso sobre o debate foi minúsculo. Até parecia boicote.
Estas eleições vão decidir o destino do pais nos próximos oito anos mas o espetáculo da noite de ontem resultou morno apesar do intenso frio da madrugada em grande parte do território nacional. A verdade é que o país está sem elã, desmotivado: perdeu a Copa e pouco se importou; está perdendo a corrida contra o tempo na preparação do próximo Mundial e joga a culpa no governo, cartolas e segue em frente.
Os únicos animados, os únicos que estão gostando deste tipo de festa, parecem ser o ex-presidente FHC, estrela da Flip, e o seu sucessor, Lula da Silva, cuja imensa popularidade desestimula qualquer contestação. Os jornais preparavam-se para um haraquiri diante dos avanços da internet e de repente descobriram que apesar da crise econômica global a circulação ficou praticamente estável (o Globo, 5ª, 5/8, p. 29).
Aqui pode estar a explicação para esta hibernação generalizada: quando a imprensa não repara e não se importa, tudo perde a importância. Em momentos assim, os sustos são maiores.