Narrativas do real. Eis o subtítulo de um site de vale quanto pesa: Texto Vivo. Um espaço especializado para a reflexão e destinado aos profissionais da área que ainda têm expectativas por um jornalismo de qualidade. Olho vivo nessa iniciativa. Não é sempre que surge uma oferta que entusiasma, acompanhado de dois pontos positivos, a Academia Brasileira de Jornalismo Literário (ABJL) e o curso de pós-graduação lato sensu (especialização) em Jornalismo Literário da ABJL.
Não se trata de uma proposta “estética”, esclarece o site. O conteúdo é mais importante que a forma. O portal Texto Vivo é formado por um grupo de estudiosos que incentiva a produção de narrativas do real e diálogos com os temas sociais de interesse público, identificando os problemas aflitivos da sociedade atual, e, ao mesmo tempo, apontando possíveis alternativas e soluções viáveis.
Combinando a experiência do Novo Jornalismo das décadas de 1960 e 70, produção de textos e livros-reportagem, jornalismo literário, investigativo e hipermídia, documentários, literaturas de viagens, ensaios, memórias, conexões da história oral e o jornalismo literário, biografias e perfis, a rede investe e aprofunda pautas criativas com conteúdo e pertinência.
As interfaces acima são o foco do curso de pós-graduação em jornalismo literário. Entretanto, uma observação vale ser realçada, e ainda confunde a cabeça de muitos no campo da comunicação e da literatura: o termo “jornalismo sobre literatura” e seu parentesco com o jornalismo literário.
Parentesco saudável
Daniel Piza no livro Jornalismo cultural (Editora Contexto, São Paulo, 2003) adverte com objetividade, a partir de vários exemplos, que “jornalismo sobre literatura” são publicações especializadas como ensaios, críticas, resenhas, interpretações e opiniões sobre livros editados na área de literatura. O Suplemento Literário de Minas Gerais (SLMG) e a revista EntreLivros (São Paulo, SP) são bons exemplos de jornalismo sobre literatura. Aliás, eu recomendo a todos, além do Observatório da Imprensa na sua vocação plural, as duas publicações citadas e o livro do Piza. Vale investir em tais leituras.
Voltando ao site Texto Vivo. Encontramos lá o conceito de jornalismo literário: “Modalidade de prática da reportagem de profundidade e do ensaio jornalístico utilizando recursos de observação e redação originários da (ou inspirados pela literatura). Traços básicos: imersão do repórter na realidade, voz autoral, estilo, precisão de dados e informações, uso de símbolos (inclusive metáforas), digressão e humanização. Modalidade também conhecida como Jornalismo Narrativo”.
O parentesco saudável entre os dois termos é informar e formar com esclarecimento a opinião pública. Eis o começo para clarear a vista e colocar a cabeça para funcionar, dar um stop, refletir e revigorar o jornalismo. Uma luz ao fundo. Arrisque uma consulta. Link-se. Visite o site. No mínimo, a gente verá uma versão online inteligente e perspicaz. Ou, um estímulo a mais, uma grata surpresa de que a boa e velha reportagem está de volta.
Wolfe orgulhoso
Tudo isso certamente, já algum tempo, porque há pessoas que ainda tem dentro de si duas palavras-chaves: simplicidade e iniciativa. Simplicidade para o diálogo. E um tipo de iniciativa que se traduz em opção pela vida e pelo homem, sempre acreditando que o mais importante é valorizar a criação de sentidos e divulgar conteúdos com qualidade de informação.
Se a comunicação social é a criação e a difusão de textos que valem a pena ler com afinco, a reincorporação das idéias do Novo Jornalismo, em um nível mais elaborado, que levem à reflexão, conforme é a proposta do Texto Vivo, então podemos vislumbrar novos horizontes. Principalmente, para aqueles que acham que o jornalismo já morreu.
O mundo da notícia precisa ser alimentado por tudo aquilo que agrega leitura e discernimento, e nesse sentido, a credibilidade da mensagem só pode ser plural, imaginativa, investigativa e inclusiva. Rompendo os protocolos da realidade. Rompendo as opiniões pré-formatadas. Resgatando valores. A literatura provoca e o jornalismo reage.
Tom Wolfe, com certeza, deve estar orgulhoso dessa boa iniciativa.
PS: Para os leitores que gostam de um bom livro-reportagem, vai aí uma dica imperdível: Os estrangeiros do trem N, de Sérgio Vilas Boas (Editora Rocco, Rio de janeiro, 1997, Prêmio Jabuti 1998).
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Jornalista, pesquisador, ensaísta, escritor e articulista da revista PQN Notícias (Belo Horizonte), autor de Pavios curtos (anomelivros, 2004)