O avanço dos tratores
A imagem do deputado Moreira Mendes, no plenário da Câmara, dando uma “banana” para os manifestantes que defendiam a manutenção do Código Florestal – publicada nesta quarta-feira pela Folha de S.Paulo –, representa melhor do que qualquer texto a maneira como certos temas de interesse nacional vêm sendo conduzidos no Congresso.
Acontece que o noticiário político, com seus protocolos e seu formalismo, não retrata o que se passa nas casas legislativas.
O relatório do deputado Aldo Rebelo, com algumas alterações em relação ao texto original, foi aprovado por 13 votos a 5, e deve ser levado a votação no plenário depois das eleições.
A comissão especial que analisou o relatório foi especialmente preparada para atender aos interesses de parte dos produtores rurais e da indústria de insumos agrícolas, que lutam para flexibilizar a legislação e livrar de punições os desmatadores.
Dois dias antes da votação do parecer de Aldo Rebelo, o deputado ambientalista Ricardo Trípoli, do PSDB, foi discretamente removido da comissão, para dar lugar a um representante da bancada ruralista.
A truculência dos seguranças da Câmara impediu a manifestação dos representantes do movimento de defesa do patrimônio ambiental.
E a sociedade ainda não foi devidamente esclarecida sobre o alcance das mudanças propostas no Código Florestal.
Os jornais vêm tratando o assunto de maneira fragmentada, dando mais espaço a declarações do que a informações que fundamentem uma tomada de posição pelo leitor.
Quando bem informado, o cidadão se engaja conscientemente em movimentos que podem corrigir tendências dos poderes constituídos, como ocorreu recentemente no caso da lei da Ficha Limpa, quando um abaixo-assinado resultou na aprovação da lei que restringe a candidatura de políticos com problemas na Justiça.
Alguns dos jornais desta quarta-feira trazem uma lista das mudanças aceitas por Aldo Rebelo em seu parecer, mas nenhum deles explica o significado das regras propostas.
A imprensa também está devendo uma ampla reportagem para confirmar ou desmentir as alegações de Rebelo e da bancada ruralista.
A revelação de que as mudanças no Código Florestal vão causar um prejuízo de R$ 8 bilhões aos cofres públicos, publicada pelo Globo, é uma das questões que precisam ser esclarecidas.
O desafio digital
Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa:
– A mídia impressa se debate com uma questão crucial: como sobreviver em meio ao crescimento exponencial das mídias digitais, disponíveis em cada vez mais variadas plataformas? Sobreviver, para jornais e revistas, significa ganhar rentabilidade por meio do incremento da audiência e do faturamento.
Nos Estados Unidos e na Europa ocidental essa equação não bate e a fatura não fecha. Ali, os meios impressos vêm experimentando prejuízos históricos, além da perda de leitores. Em países emergentes, como o Brasil, o cenário é outro: com enorme mercado potencial ainda a ser explorado, os veículos impressos, malgrado as dificuldades, ainda têm espaços para crescer. E têm crescido, sobretudo no âmbito da chamada nova classe média, recém incorporada ao mercado de consumo de massa.
Papel ou internet? No Reino Unido, o tradicionalíssimo diário Times, há anos sob a batuta do magnata de mídia Rupert Murdoch, começou a cobrar pelo seu conteúdo na internet. O seu concorrente The Guardian não se fez de rogado: propagandeou aos quatro ventos a gratuidade de seu site e comemora a marca de 30 milhões de leitores na sua versão online.
No Brasil, o também tradicionalíssimo Jornal do Brasil, com sede no Rio e ostentando 119 anos de circulação diária, dá sinais de que vai interromper sua edição em papel para manter-se apenas na web – onde, aliás, foi o primeiro jornal brasileiro a ter um site. Afogado em dívidas trabalhistas e fiscais, no início desta década o JB foi arrendado pelo empresário Nelson Tanure, por intermédio da sua Companhia Brasileira de Mídia. A operação não conseguiu tornar rentável o combalido diário.
E o histórico da aplicação dessa receita não é nada animador. O mesmo Tanure bancou iniciativa semelhante para tentar salvar o jornal econômico Gazeta Mercantil. Depois de prolongada agonia, a Gazeta deixou de circular em maio de 2009 e sua marca hoje é apenas um fantasma. Que o Jornal do Brasil tenha melhor sorte.