Economia política
Seria impossível dar mais destaque aos dados sobre economia. A redução do crescimento do PIB está nas manchetes desta quarta-feira, um de junho.
Mas, ouvinte, fique bem alerta. Tornou-se difícil ter uma visão da economia sem forte viés político. Em parte, porque a mídia aceitou lançar no início de maio a candidatura do presidente Lula à reeleição.
Mas os próprios números que dão manchete são questionados. Dizem os jornais de que os dados sobre 2004 e sobre 2005 poderão ser revistos, porque a Anatel não forneceu ao IBGE os resultados da maior operadora de telefonia celular. No Globo, a reportagem ganhou um título emblemático: ‘Tudo pode estar errado’.
Abafar a CPI poderá ser pior para o governo
Se a imprensa honrar seu papel de investigação da vida pública, a operação de abafa-CPI desencadeada pelo governo no Congresso será um erro estratégico, além de uma decepção. No parlamento, bem ou mal, a apuração dos fatos fica dentro de um contexto delimitado. Sem CPI, haverá um estímulo adicional à mobilização para a descoberta de delitos e crimes que reclamam punição. Mesmo que a Polícia, sujeita a pressões de cima, venha a fazer corpo mole.
O que há no Brasil não é uma deterioração moral. O que há é o efeito salutar do estado democrático de direito, com todas as suas imperfeições, e da atuação de uma imprensa livre, com todos os seus defeitos.
A percepção de decadência moral vem da sucessão de denúncias, que não significa aumento da corrupção. Essa percepção é alimentada também pela constatação de que o PT no poder tem um discurso e uma prática diferentes de sua retórica quando estava na oposição.
Para se colocar à altura de sua tarefa atual, a imprensa precisa dedicar mais tempo e mais recursos à investigação jornalística de qualidade, não se limitar a veicular denúncias montadas por partes interessadas. Ela ganhará mais credibilidade e poderá aumentar a interlocução com pessoas que conheçam desvios e crimes e se mostrem dispostas a revelá-los.
Garganta Profunda
Mark Felt, o Garganta Profunda do caso Watergate, confiou nos jornalistas Bob Woodward e Carl Bernstein, e no jornal deles, o Washington Post. Sua confiança nunca foi traída. Talvez essa seja a pedra angular do mais importante trabalho de investigação realizado por jornalistas no século vinte.
Jornalismo investigativo no Brasil
Por feliz coincidência, ontem à noite o Observatório da Imprensa na televisão debateu o verdadeiro jornalismo investigativo brasileiro. Participaram do programa os autores de três livros que acabam de ser lançados: Elvira Lobato e Frederico Vasconcellos, da Folha de S. Paulo, e Joaquim de Carvalho, da Rede Record.
O Alberto Dines saudou o empenho idealista em desvendar o que está escondido, mas advertiu que certos meios de buscar a verdade podem prejudicar a própria verdade.
Hoje, a Folha de S. Paulo traz importante denúncia de tortura em quartéis das Forças Armadas. Não no tempo da ditadura, mas agora.
Quando o jornalista é celebridade
Vamos saber com o editor do Observatório da Imprensa na internet, Luiz Egypto, quais são os destaques da edição que entrou na rede ontem, em nosso site.
Egypto:
− A ruidosa transferência de Ana Paula Padrão, da Globo para o SBT, revelou uma faceta do jornalismo de celebridades na qual a celebridade é o próprio jornalista. Pois é. Isso prejudica muito o trabalho do jornalista. Fica mais difícil tocar em certos assuntos, contrariar certos anseios, melindrar determinadas personalidades.
E você, ouvinte, já ouviu falar na gripe do frango? Certamente que sim. Mas com toda certeza não leu ou assistiu a alguma matéria sobre como o Brasil está se preparando se por aqui acontecer a temida transmissão humana. Se o vírus chegar de avião, escondido no nariz de um passageiro, nossas famílias estarão em perigo? A resposta é sim. Por que a mídia não trata disso?