Chances desiguais
Os jornais de hoje começam a ensaiar o tradicional balanço do ano com números que fazem pensar.
A Folha de S.Paulo publica um estudo feito na Universidade Federal de Minas Gerais para mostrar que a desigualdade na educação é o mais bem acabado retrato da sociedade injusta que construímos: o abismo entre ricos e pobres no Brasil é maior na educação do que na renda.
O trabalho acadêmico, de autoria do pesquisador José Francisco Soares, foi publicado num periódico científico internacional e utiliza metodologia similar ao dos estudos sobre a desigualdade na renda de um país.
Uma pesquisa semelhante, feita pelo economista Fábio Waltenberg e publicada da mesma forma pela Folha de hoje, mostra que São Paulo é o Estado onde as diferenças na educação são maiores, com a convivência entre as melhores escolas particulares do País e péssimas escolas públicas nas favelas.
Mas a situação do Nordeste é pior: nos Estados nordestinos, as médias são as mais baixas e mesmo assim os níveis de desigualdade são muito grandes.
Tambores de guerra
O Estado de S.Paulo dá destaque para a economia e a política, oferecendo espaço para a oposição, que anuncia um ano de grandes ofensivas contra o governo.
Uma entrevista com o novo presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, anuncia que em 2008 a oposição vai se dedicar a desgastar o governo, com o objetivo de reduzir a força eleitoral do presidente Lula em 2010.
Segundo o Estadão, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-senador Jorge Bornhäusen, do partido Democratas, são os principais estrategistas do movimento.
A oposição acha que a extinção da CPMF mostrou que, mesmo com altos índices de aprovação na população, Lula tem uma base frágil no Congresso.
Ainda segundo o Estadão, o governo está prevendo que as disputas políticas podem atrapalhar a reforma tributária no ano que vem.
A morte do bispo
O Globo elegeu os direitos humanos como tema central de hoje, com a morte do bispo católico d. Aloisio Lorscheider, arcebispo emérito de Aparecida.
Dom Aloisio morreu em Porto Alegre, aos 83 anos.
Ele foi secretário-geral e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, entre 1968 e 1978, no auge da ditadura militar, e se tornou na época uma das vozes mais corajosas na defesa dos direitos humanos.
Passados mais de vinte anos do fim da ditadura, diz o Globo, muitos ativistas que lutam pelos direitos das pessoas em todo o Brasil ainda são ameaçados de morte.
O jornal carioca publica hoje um levantamento da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, revelando que pelo menos dezesseis militantes estão com a vida sob risco, alguns deles sendo obrigados a viver sob proteção policial.
Religiosos, políticos, jornalistas, dirigentes de sindicatos rurais, advogados e até juízes correm permanentemente o risco de ser assassinados por defender os direitos fundamentais.
Muitos vivem escondidos, outros têm sua liberdade restringida pela necessidade de andarem sempre protegidos por escolta armada.
Na maioria dos casos, esses brasileiros estão condenados por haverem denunciado grupos de extermínio ou quadrilhas de exploração de menores, por combater a grilagem de terras ou por defender a simples aplicação da Justiça.
As ameaças são concretas, e feitas diretamente por traficantes, grileiros de terras e policiais corruptos devidamente conhecidos pelas autoridades.
Deuses de Veja
Como faz tradicionalmente há muitos anos, a revista Veja traz, na edição de Natal, uma capa dedicada a tema religioso.
A revista dedica 14 páginas a destrinchar o conflito entre fé e descrença, entre religião e ciência.
A base da reportagem é o censo demográfico do IBGE de 2000, complementado por estudos e pesquisas sobre religiosidade dos institutos CNT-Sensus e Datafolha.
O resultado é uma curiosa contradição entre estatísticas que mostram um grande crescimento do ateísmo e ao mesmo tempo a expansão das religiões.
Um mistério que nem os semi-deuses de Veja conseguem explicar.