Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Uma reportagem ambiciosa
>>Inovação na pauta da sustentabilidade

Uma reportagem ambiciosa

A reportagem especial publicada nesta semana pela revista Época é um desses esforços jornalísticos que eventualmente surpreendem o leitor e fazem lembrar como a imprensa poderia ser, rotineiramente, um instrumento para a produção de conhecimento de qualidade e o desenvolvimento da consciência social da população.

A partir dos dados disponíveis sobre o desafio de alimentar os 7 bilhões de habitantes da Terra, a reportagem faz um balanço ambicioso das chances que tem o ser humano de seguir povoando os espaços terrestres e ao mesmo tempo preservar o patrimônio ambiental que é essencial à preservação da própria vida.
 
Não se trata de pauta fácil. A complexidade do assunto é, em si, um desafio para os autores. Mas a revista conseguiu cumprir sua tarefa e produzir um conjunto de textos e imagens que ajudam a entender o estado do mundo, pelo menos no que se refere a algumas questões essenciais.

Partindo de aspectos demográficos, como o aumento da população mundial e sua distribuição pelos continentes, a publicação apresenta o dilema de produzir alimentos para todos, em contraposição à necessidade, também premente e permanente, de preservar a natureza.

Por outro lado, a expansão das grandes cidades eleva a demanda por energia, que deve alimentar complexos industriais e habitacionais nas megametrópoles, onde se produz o desafio seguinte: o que fazer com os detritos gerados pela própria atividade humana.
 
O cenário, embora preocupante, não aponta para um final apocalíptico, como ocorreu em estudos anteriores publicados pela imprensa.

Paralelamente aos desafios, cuidadosamente alinhados com dados estatísticos atuais e projeções para as próximas décadas, a revista Época também avança na descrição dos esforços pelo nascimento de uma nova revolução agrícola, setor onde a comunidade científica brasileira vem ganhando grande relevância.

A revolução tecnológica verde, como é chamado o desenvolvimento de alternativas ambientalmente adequadas para a solução desses desafios, é uma tendência bem definida na reportagem e sinaliza algumas boas razões para certo otimismo.
 
Mas um elemento novo e instigante introduzido pela revista Época no debate sobre a sustentabilidade é a questão da aceleração na evolução do ser humando e na evolução do próprio planeta.
 
Inovação na pauta da sustentabilidade

Essa questão, raramente abordada numa publicação brasileira não especializada, é um dos temas mais recentes nos debates científicos sobre o futuro da vida no planeta.

Trata-se de um olhar novo sobre o complexo tema da evolução humana, e introduz no ambiente comum o roteiro para a superação de limites representados por discussões ideológicas antiquadas que ainda ocupam espaço na imprensa.

Ao lado desse tema, a revista introduz o questionamento sobre a própria evolução do planeta, encarado como um organismo vivo em constante mutação e que tem sofrido nos séculos recentes o tremendo impacto da atividade humana.
 
Essa abordagem é crucial para a divulgação da temática da sustentabilidade, porque permite que os leitores não especializados possam sem grande esforço entender a complexidade dos desafios que se coloam diante de todas as pessoas.

Avançando na análise da evolução humana paralelamente aos danos que a humanidade tem causado ao seu próprio planeta, a reportagem não apenas estabelece o princípio da responsabilidade sobre o meio ambiente, mas recorda também a responsabilidade de cada indivíduo diante de sua própria evolução, ou seja, do desenvolvimento de sua consciência.
 
O conteúdo da reportagem abre espaço para dinâmicas muito interessantes na interpretação dos dados publicados, permitindo aos interessados em estudar o assunto a expansão de reflexões e debates em várias direções.

A revista Época poderia ter aproveitado melhor o trabalho incluindo nos textos chamadas para o prosseguimento de análises, com contribuições do leitor, no site da publicação e suas extensões nas redes sociais, o que poderia produzir outras pautas específicas e contribuir para uma geração maior de conhecimento nessa área tão pouco explorada pela imprensa.
 
Não se trata de um trabalho de nível científico, nem é esse o papel da imprensa genérica.
Especialistas haverão de fazer restrições a um ou outro ponto dos textos, como a seleção das dez tecnologias inovadoras que supostamente podem salvar o planeta.

De qualquer maneira, deve-se ter em conta que a revista acaba de estabelecer um novo marco no penoso avanço da imprensa brasileira diante do tema da sustentabilidade, de modo geral ainda submetido a uma visão antiquada e limitada.