Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Inventando moda
>>A imprensa que não vê

Inventando moda

A pesquisa Datafolha publicada no domingo, dia 12, pela Folha de S.Paulo e reproduzida nesta segunda-feira pelos outros jornais, revela que a recente crise política envolvendo o ex-ministro Antonio Palocci não afetou a popularidade do governo da presidente Dilma Rousseff.

Segundo a pesquisa, 49% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom, apesar de ter aumentado o número de pessimistas com relação à inflação e ao poder de compra.

Na consulta alterior, feita em março, o nível de aprovação decidida era de 47%. A variação é considerada parte da margem de erro.

Apenas 10% dos entrevistados consideram o atual governo ruim ou péssimo.

Os gráficos mostram também que as pesquisas de avaliação de governantes costumam seguir o perfil do eleitorado: quem votou contra tende a se manifestar negativamente em qualquer circunstância, sendo raro o caso do ex-presidente Lula da Silva, que se manteve em processo crescente de aprovação principalmente ao longo de seu segundo mandato, terminando o governo com um índice recorde de popularidade.

Na atual consulta, o Datafolha procurou investigar possíveis efeitos do surto inflacionário ocorrido no início do ano e da crise envolvendo o ex-ministro Palocci.

Aparentemente, nada disso afetou a avaliação pessoal da presidente e de seu governo.

Outra pesquisa, também publicada no domingo pela Folha mas ignorada pelos outros jornais, mostra que a maioria dos brasileiros não considera negativa uma suposta influência do ex-presidente Lula da Silva no atual governo.

Para 64% dos consultados, Lula deveria participar do governo de sua sucessora, e quatro em cada cinco acreditam que esse protagonismo está de fato acontecendo.

Para o cidadão comum, é perfeitamente natural que o ex-presidente procure contribuir para o êxito daquela que ele indicou como sucessora, e isso não parece afetar fortemente a imagem da presidente como gestora decidida e de temperamento forte.

Portanto, o viés negativo colocado no noticiário a respeito das reuniões promovidas pelo ex-presidente no auge da crise com o ex-ministro Palocci foi uma iniciativa da imprensa, sem levar em conta o que pensa a população.

Nesta segunda-feira, o Globo antecipa o que será o mote principal dos jornais para tentar colar na imagem do governo com as recentes mudanças no ministério.

Considerando que tanto a presidente Dilma Rousseff como a nova ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann e a ministra das Relações Institucionais, ideli Salvatti, têm personalidades fortes, a imprensa já começa a chamar o atual governo de República do Salto Alto.

Não faz muito sentido, mas vai que pega…

A imprensa que não vê

Alberto Dines:

– Está tudo em paz no nosso faroeste? Acabou o banho de sangue no Pará? Depois que o governo federal decidiu entrar em ação para proteger as lideranças rurais ameaçadas pelos desmatadores, madeireiros e pecuaristas, o assunto praticamente sumiu das primeiras páginas da nossa grande imprensa. Porém ontem, domingo, estava em grande destaque no diário espanhol El País com o título “Amazonia fora da lei”. Entre 24 e 28 de Maio foram assassinadas quatro pessoas, nos últimos 15 anos foram mais de 200 vítimas fatais, cerca de 98% dos crimes na região ficam impunes. Quem nos lembra estes trágicos dados não é um jornal ou revista brasileira, é a edição latino-americana de um jornal global, um dos mais respeitados do mundo. Aqui os porteiros das redações apostam em boas notícias, banalidades, celebrações. Chacinas no extremo norte do país são difíceis de cobrir e não empolgam os leitores do sul-sudeste maravilha, simplesmente porque o consumidor de notícias no Brasil não quer ser incomodado – quer entreter-se e divertir-se. E como nossa imprensa há muito desistiu de apostar na conscientização do público a situação só tende a se agravar porque a impunidade grassa onde a imprensa olha para o lado e se cala.