Monday, 25 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

YouTube, a liberdade e a nostalgia da TV

Os números são gigantescos: 100 milhões de acessos diários e cerca de 15 mil novos vídeos enviados todos os dias. Qual o segredo do sucesso do YouTube? Quando, um ano e meio atrás, todos estavam ocupados com a celeuma causada pelo sucesso do Orkut, poucos investiam no vídeo na internet. Mas o grande oceano da rede continua um mistério e sempre aberto a novas experiências; às vezes, ao jogar uma isca, o resultado pode ser imprevisível. E mais uma vez uma nova onda invadiu a maré “internáutica”.

Tudo muito simples, acesso fácil, cadastramento rápido e pronto: você é a própria mídia e pode ser visto por milhões de pessoas na aldeia globalizada, tudo sem barreiras (exceto na China: nem tudo é perfeito). E, melhor, sem gastar um centavo; parodiando e “reescrevendo” o cinema novo, “basta uma câmera (ou celular) na mão e uma idéia na cabeça” e você esta lá, com qualquer conteúdo, afinal qual a importância do conteúdo? É a consagração da frase do ícone do movimento da pop-art, Andy Warhol: “Um dia, todos terão direito a 15 minutos de fama”.

Para explicar, só mesmo voltando ao passado e à sempre atual teoria da comunicação. Lembra-se de McLuhan e dos ensinamentos da escola canadense? “Esse novo mundo, ligado pela tecnologia, torna-se a aldeia global. Desta forma, a mensagem produzida pelos meios de comunicação não é a questão mais importante. O que é verdadeiramente transformador dessa sociedade é a existência destes novos meios. Tais transformações são a sua mensagem”.

Mas qual a verdadeira transformação provocada por este novo meio? Existe uma nova liberdade na produção ou estamos utopicamente contagiados pela novidade? Parece que o casuísmo dominou a rede e os novos “gênios milionários” ditam as regras, cada vez mais arbitrárias, singulares e dominadoras. Por falar nisso, existe alguma regra?

A internet, sem dúvida alguma, reformulou a comunicação, as distâncias foram quebradas e para alguns tudo ficou mais fácil, até mesmo para ganhar fortunas. Com este objetivo, tudo é negociável, inclusive a pseudodemocratização do meio. Para avançar no promissor mercado chinês, as gigantes Microsoft, Yahoo e Google, aceitaram abrir mão de suas premissas e formularam para aqueles cidadãos uma “outra internet” ou, quem sabe, uma “intranet” para atender aos interesses de seus arbitrários dirigentes.

Regras e coerência

O governo chinês, com a ajuda dos “donos da rede”, tem feito grandes investimentos e estabeleceu rígido controle no conteúdo da internet. Qualquer cidadão que ouse furar esta censura é perseguida e presa, como tem acontecido com diversos blogueiros que, com suas idéias, desafiam o sistema. E quem pode garantir que a moda não vai pegar? Com a abertura deste precedente poderemos ter no futuro uma internet na medida certa para cada governo, ou seja, a web a serviço da tirania.

Já no Brasil, a postura do Google foi diferente. Em meio a uma temática criminosa, um dos grandes problemas da rede, e após receber 14 mil denúncias contra o site de comunidades Orkut, o Ministério Público Federal pediu que a empresa colaborasse na investigação dos crimes, que envolviam, entre outras coisas, tráfico de drogas e pedofilia. Em nome da privacidade de seus usuários, a empresa fechou as portas às investigações brasileiras.

Como se percebe, faltam regras e principalmente coerência. Para atender a interesses comerciais, curvam-se diante da arbitrariedade e limitam o conteúdo. Mas quando solicitados a cooperarem na punição de criminosos, a lei da empresa fala mais alto. Em resumo, quem dita as regras são seus próprios interesses, moldados exclusivamente pelo mercado. Outro grave problema diz respeito aos direitos autorais e ao próprio direito à privacidade, que às gargalhadas (oYouTube que o diga) vêm sendo constantemente desrespeitados.

Conteúdos irrelevantes

O início da internet parecia a concretização do sonho da “cultura democrática”, ou seja, “a produção cultural democratizada pelos novos meio de comunicação e acessível a diferentes classes sociais”. Mas com o passar do tempo e movida por interesses exclusivamente financeiros, salvo algumas exceções, a rede tornou-se o próprio simulacro: “A fantasia, produzida de forma cada vez mais sofisticada, torna-se uma forma de fuga quando a realidade não satisfaz o indivíduo”.

O Folha Online criou em seu site um espaço que evidencia as cinco notícias mais lidas por seus internautas. No sábado 23/9, em meio a grave crise política e a outros tantos problemas que assolam o mundo e nosso país, lá estavam, entre as mais lidas:

1) Cicarelli passou dos limites com vídeo, diz Bruna Surfistinha

2) Site vende vídeo de Cicarelli; blog “morre” na praia após insistir em links

3) Vídeo com “cenas quentes” de Cicarelli e namorado cai na web

4) Conheça os 10 artistas que estão em baixa no “mercado dos famosos”

5) Vídeo polêmico de Daniella Cicarelli ganha mídia internacional

A difusão e a busca por conteúdos irrelevantes tem caracterizado o sucesso de audiência na internet. A presença do vídeo, por incrível que pareça, a transforma na velha televisão, mais fragmentada, com menos regras e gerando muito mais desinformação. Alguém se habilita a ser o novo famoso (ou Cicarelli) da vez?

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Estudante de Jornalismo, Uberlândia, MG