Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Manipulação da mídia brasileira

‘Detectamos jornalistas que sejam pró-América – evidente que isso em órgãos influentes junto à opinião pública – e os convidamos a ir aos Estados Unidos, com todas as despesas pagas. Essa não era a minha área, mas começa assim. Influenciar é mudar o pensamento contrário aos nossos interesses. A primeira atividade em qualquer reunião da embaixada é uma análise sobre o que diz a mídia a nosso respeito; Carta Capital, por exemplo, nunca foi vista com bons olhos lá na embaixada, para dizer o mínimo’ (Carlos Costa, ex-chefe do FBI no Brasil, detalhando a manipulação da mídia brasileira, Carta Capital, 24 de março)

É, no mínimo, vergonhoso ouvir isso da boca de um estrangeiro. Imagino como Bob Fernandes, redator-chefe de Carta Capital, deve ter ficado ao entrevistar Carlos Costa. Ressalte-se que é vergonhoso, mas não chega a causar grande espanto.

Poucos são os veículos que se salvam na mídia brasileira. Os grandes veículos ditos ‘de massa’ estão tomados por empresários que não têm a menor obrigação ética com a notícia e honestidade para com o público. O interesse financeiro é maior que tudo. Notemos que os manuais das redações ordenam que os repórteres recusem presentinhos, tais como viagens desta natureza. No entanto, há veículos (principalmente uma certa revista) em que nem seria necessária tal atitude.

Nesta ‘certa revista’ semanal, ao contrário de Carta Capital, os Estados Unidos têm passe livre. Parece que as pessoas não têm muita… visão. Aparentemente não conseguem (ou não querem) ver a realidade em que vivem. Um humorista já disse, inclusive, que ela é ‘a única revista estadunidense escrita em português’. Segundo outro colunista, da Tribuna da Imprensa, a alta diretoria deste grupo só se comunica entre si e com os demais funcionários em recados – pasmem! – redigidos em inglês. Vale lembrar que a redação desta revista fica em São Paulo, surpreendentemente, no Brasil.

Não estou aqui defendendo Carta Capital, mesmo porque não faria propaganda. Nem dela, nem de outra revista. Vai que um dia eu troco uma pela outra e acontece o que aconteceu com o Zeca Pagodinho…

No entanto, Carta Capital é um dos poucos veículos brasileiros que conseguem ser honestos com os leitores. O respeito ao público está no fato de a linha editorial da revista estar clara para os leitores, mas nem por isso a apuração é deficiente. Como leitor e estudante de Jornalismo, me vejo inclinado a acreditar que esta postura seja a mais correta. Imparcialidade não existe, mas a honestidade com os leitores e consigo próprio deve ser o objetivo dos jornalistas.

É exatamente esta honestidade e esta atitude transparente de Carta Capital que inibem as ‘propostas indecentes’. O modelo da revista me faz lembrar da imprensa britânica: grande parte dos veículos respeita o público o suficiente para deixar sua linha editorial bem definida. Enquanto isso, no Brasil, quase toda a mídia se esforça para seguir o ultrapassado modelo ‘imparcial’ estadunidense.

É lamentável. Lamentável também é o fato de as denúncias de Carta Capital não ganharem as proporções que o caso Waldomiro Diniz ganhou, embora tão graves quanto: grampos no Itamarati e no Alvorada, capital estrangeiro bancando a Polícia Federal, reuniões da embaixada dos EUA para manipular a mídia. Se isso não é grave, então, parem o mundo, porque eu quero descer.

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Estudante de Jornalismo na UFF, integrante da equipe do Fazendo Media (www.fazendomedia.com)