A utilidade de um observatório da imprensa perde força quando passa a ser subsidiada por visões estreitas. Pode ser até fruto de uma relação promíscua e imoral entre jornalismo e política a reportagem de IstoÉ que traz entrevista com os Vedoin e que aponta um possível envolvimento de José Serra no caso das sanguessugas – Alberto Dines é próspero em criticar o jornalismo fiteiro, dêem-se os créditos a tal lucidez.
Em contrapartida, é reducionismo analítico e crítico isolar tal matéria, quando o assunto de que trata rende mais material jornalístico, o que nós conhecemos por suíte. A IstoÉ – para a qual este leitor (e não observador, deixe-se claro) não possui inclinação intelectual, quiçá afetiva – trouxe continuação do caso, inclusive com material mais esclarecedor desta obscuridade em que nos envolvem os últimos acontecimentos.
Bom, o que se pergunta então é o porquê do silêncio neste Observatório sobre a tal reportagem (fora colaboradores como Carlos Lopes e Gilson Caroni Filho, que de uma forma de ou de outra tocaram na questão). Parece-me que o material, baseado em informações e documentos de posse da Polícia Federal, oferece um indício forte de que a IstoÉ não se enganou em publicar a entrevista dos Vedoin – repito: se ela comprou as informações isso já é caso de polícia e extrapola o alcance de um leitor ou de um observador; caso esta última hipótese, de tráfico de influência, seja comprovada, peço ao meu pai que não renove a assinatura e que as devidas providências judiciais sejam tomadas.
Conjuntura em xeque
Mas, retomando o raciocínio, há boas razões para se acreditar que a IstoÉ agiu corretamente ao publicar a entrevista. Primeiro, nesta reportagem os documentos referidos no texto nada tinham a ver com vídeos e fotos de Serra e parlamentares envolvidos no escândalo, material este objeto da chamada Operação Tabajara. Foram documentos, entre os quais boletos bancários, que já tinham sido protocolados com autoridades competentes, informação que a revista afirma ter confirmado no Ministério Público. Segundo, na segunda matéria se mostra, segundo informações da PF, como Abel Pereira pensava que “(…) a divulgação das informações (o vídeo, as fotos) poderia abafar a repercussão sobre a documentação efetivamente entregue à Justiça e ao Ministério Público”.
Ora, poder-se-ia pensar que tal argumentação não passa de uma espécie de álibi da revista. No entanto, a matéria aponta que tal inferência foi de agentes da polícia, e não seria prudente abusar da disposição de uma instituição tão importante, quanto mais em momento tão crítico.
No fim das contas, o interessante é que, embora questionada pela ilicitude de sua origem (claro que é abominável valer-se do princípio maquiavélico de que os fins justificam os meios, no entanto ainda não se comprovou a negociação financeira), a matéria que IstoÉ trouxe à tona neste imbróglio de sanguessugas e “aloprados” acabou por trazer uma contribuição positiva à sociedade, e isso me parece que honra jornalistas e o jornalismo. Seria, inclusive, um discurso que se esperava do próprio Mário Simas Filho, mas ele, infelizmente e estranhamente, não compareceu ao debate sobre o tema no programa Observatório da Imprensa, para o qual foi convidado.
Concretamente, o jornalismo de IstoÉ – que discordo seja “de quinta categoria” (os documentos entregues pelos Vedoin não são falsos) – colocou em xeque a conjuntura política de forma substancial, porque avivou a memória da sociedade quanto a um extenso sistema de corrupção, tornando pública uma tramóia que vai além da atrapalhada de petistas e revelando uma peça do jogo que seria esquecida: o tal do Abel Pereira – que ainda não ganhou a atenção da imprensa que merece. Então, por que não fazer barulho sobre estes aspectos? O Observatório se preocupa com a atuação da imprensa, certo? Então, que tente ampliar a visão e as perspectivas sobre ela.
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Estudante de Jornalismo da UFBA