A mídia e o ditador (da CBF)
Nesta sexta-feira, a política faz uma incursão no futebol: segundo o caderno Esporte da Folha de S.Paulo, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, usou o técnico da seleção, Mano Menezes, para se aproximar do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Foi num jantar em São Paulo, na quarta-feira, dia 24, quando Lula foi convidado a visitar os jogadores na concentração antes da primeira partida amistosa contra a Argentina, marcada para o dia 14 próximo mês.
A notícia seria mais um desses registros de relações-públicas, não fosse o contexto em que se dá o encontro.
Segundo notícias esparsas que vêm sendo publicadas principalmente por blogs de jornalismo esportivo, o governo federal vem pressionando a CBF, e especificamente seu eterno presidente, Ricardo Teixeira, por causa de suspeitas em relação a obras para a Copa do Mundo de 2014.
Como se sabe, Teixeira nomeou a própria filha, Joana, para um cargo de comando no Comitê Organizador da Copa. O Estado de S.Paulo já chegou a publicar que ele estaria preparando a filha para sucedê-lo na presidência da CBF após 2014.
Também correm notícias, segundo lembra a Folha nesta sexta-feira, de que têm havido desentendimentos entre o todopoderoso comandante do futebol brasileiro e o governo federal – o jornal paulista cita dificuldades no relacionamento dele com a presidente Dilma Rousseff e o ministro do Esporte, Orlando Silva.
Não seria difícil imaginar os efeitos de uma “faxina” – dessas que a imprensa defende nos ministérios – em cima da CBF e de Ricardo Teixeira.
Claro que, sendo a entidade esportiva uma instituição privada, não seria possível uma ação direta como a que determinou o afastamento recente de ministros e assessores importantes do governo.
Mas os contratos para a organização da Copa permitem uma série de controles, contra os quais Ricardo Teixeira está tratando de se proteger.
O problema é que o longo reinado do presidente da CBF também acabou gerando distorções na sua relação com a mídia, principalmente no que se refere aos direitos de transmissão dos campeonatos oficiais.
O povo nas ruas
A relação privilegiada da CBF com a mídia quer dizer, exatamente, a parceria que mantém há mais de dez anos com a Rede Globo, que, além da exclusividade para transmitir os jogos nos horários que mais convêm à sua grade de programação, sempre teve privilégios de acesso à seleção brasileira de futebol.
Pois esse casamento pode estar chegando ao fim: no dia 13 de julho passado, pela primeira vez em uma década de boas relações, período em que ignorou todos os malfeitos da Confederação Brasileira de Futebol, a TV Globodedicou mais de três minutos do Jornal Nacional a uma reportagem sobre ligações entre Ricardo Teixeira e o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, em irregularidades na organização de uma partida amistosa da seleção ocorrida em 2008.
Um mês antes, a revista Piauí havia publicado entrevista de Teixeira, na qual o todopoderoso chefe da CBF dizia não temer a imprensa, e que só começaria a se preocupar se o Jornal Nacional o atacasse.
Nesse intervalo, as Organizações Globo divulgaram sua “carta de princípios jornalísticos”, na qual se afirmava que não haveria assuntos tabus para seus veículos de comunicação.
A julgar por alguns acontecimentos recentes no mundo futebolístico, a ruptura é para valer e acontece dos dois lados: na última semana, a CBF anunciou mudanças repentinas em horários de jogos do campeonato brasileiro.
Em vez do horário das 21h50, imposto pela Globo para não atrapalhar a audiência de suas novelas, algumas partidas foram marcadas para as 18 horas.
Segundo o blog do jornalista Altamiro Borges (altamiroborges.blogspot.com), citado pela agência Adnews (www.adnews.com.br), trata-se de uma retaliação de Teixeira contra a Rede Globo, por conta da reportagem do Jornal Nacional.
Entre as partidas com horário alterado estão o confronto do returno entre o Corinthians e o Grêmio de Porto Alegre, jogo de grande audiência, marcado para o próximo dia 31, e São Paulo versus Atlético Mineiro, dia 8 de setembro.
Pode ser o começo do fim para Ricardo Teixeira. Como se trata de futebol, é muito possível que, com pouco esforço, a Rede Globo consiga mobilizar a população para derrubar o ditador da CBF.
Afinal, se até Muhamar Kadafi pode ser removido do poder, após 42 anos de tirania, por que não derrubar Ricardo Teixeira de seu trono?
Já que os brasileiros não se movem por outras causas, quem sabe a Globoconsegue colocar o povo nas ruas por mais moralidade, pelo menos no futebol?