Congelados no tempo
Os dirigentes dos grandes jornais brasileiros ainda não sabem como será seu futuro diante do crescimento da classe C, do envelhecimento da população e do aumento do número de pessoas com direito a cumputadores, tablets e outros aparelhos móveis com acesso à internet.
A despeito das muitas declarações e sólidas opiniões emitidas pelos participantes, o 8o Seminário Nacional de Circulação promovido pela Associação Nacional de Jornais em São Paulo reproduz o mesmo espanto de quinze anos atrás diante da dificuldade de transformar a audiência da internet em receita.
Uma das frases destacadas pelos jornais que fazem a cobertura da reunião de segunda-feira, publicada nesta terça, dia 30, dá idéia da situação em que se encontram as empresas jornalísticas: “Não precisamos fazer nada no desespero, mas temos de ser rápidos”, disse Marcello Moraes, diretor-geral da Infoglobo, agência das organizações Globo.
Moraes queria dizer que, no momento, os jornais ainda se beneficiam do ingresso de novos cidadãos ao mercado, no rastro da nova classe média que ascendeu nos últimos anos graças à combinação da estabilidade econômica com as políticas de geração de renda entre os mais pobres.
Essa população ascendente começou a comprar jornais, mas o que as empresas lhes oferecem são os chamados títulos populares, de baixo preço e qualidade rasteira, e não se observa a migração desse público para os jornais tradicionais, de custo mais elevado.
Ao mesmo tempo, esses leitores também passam a ter acesso à internet, inclusive por equipamentos móveis, e não se mostram dispostos a pagar pelo conteúdo jornalístico digital.
Está armada, portanto, a arapuca: a demanda atual por jornais pode não se manter quando um número crítico de leitores passar a preferir a leitura no formato digital, pela qual poucos parecem dispostos a pagar.
Os participantes do encontro se referiram algumas vezes ao caso do New York Times, que passou a cobrar pelo acesso ao conteúdo digital e começa a ter resultados.
Mas mesmo para o tradicional jornal americano os indicadores ainda são tímidos.
Os debates sobre o modelo de negócio do jornalismo na internet começaram em 1996.
O encontro da ANJ em 2011 parece coisa do passado.
Observatório na TV
Outra questão que afeta diretamente o futuro do jornalismo será debatida pelo Observatório da Imprensa na TV nesta terça-feira.
O projeto de Lei 116, que abre o mercado audiovisual para as empresas de telefonia e – ainda que parcialmente – ao capital estrangeiro – deve oferecer ainda mais alternativas para o acesso à internet.
Já chegou a ser noticiado, no mês de julho, que uma operadora estaria estudando a possibilidade de transformar os telefones públicos em milhões de roteadores de sinais de internet, o que poderia abrir radicalmente o acesso por todo o país, com antenas instaladas nos chamados “orelhões”.
Aparentemente, as empresas de mídia concordam com a proposta do governo. Até mesmo as organizações Globo, que supostamente seriam prejudicadas pelo aumento da concorrência na oferta de TV a cabo, estariam analisando possíveis vantagens da maior abertura do mercado.
O que não parece ter entrado ainda nos cálculos dos analistas é o efeito multiplicador que costuma ocorrer com a redução das restrições: a ampliação da oferta de televisão paga virá acompanhada do aumento exponencial do acesso à internet em banda larga e a expansão do público deverá estimular o surgimento de mais oferta de conteúdos.
Além da maior presença das agências de notícias e sites estrangeiros já instalados por aqui, como a Bloomberg, outros protagonistas, como o Huffington Post, agora associado à America Online, já preparam seu desembarque.
A nova legislação que amplia as possibilidades de acesso à TV paga e internet também vai obrigar os canais pagos a veicularem três horas e meia de programação nacional por semana, em horário nobre, sendo metade desse conteúdo proveniente de produções audiovisuais independentes. Além disso, para cada três canais estrangeiros das operadoras de TV por assinatura, deverá haver a oferta de um canal nacional.
Ou seja, o cenário que os executivos da mídia já consideram complicado vai ficar ainda mais congestionado.
O Observatório da Imprensa na TV vai ao ar às 22 horas, pela TV-Brasil, ao vivo, em rede nacional. Em São Paulo, pelo canal 4 da NET e 116 da Sky.