Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marketing político ou teoria dos jogos?

Para alegria de alguns e tristeza de outros esta será a notícia deste domingo por volta das 23h: a reeleição do atual presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, que renovará seu mandato a partir de 1º de janeiro de 2007. Historicamente, no Brasil, nunca mudaram os resultados das primeiras pesquisas de opinião feitas em campanha eleitoral. Os resultados das pesquisas indicando que o candidato A ou B ganharia as eleições sempre foram confirmados nas urnas. Sendo assim, por que existe tanta publicidade eleitoral e marketing político? Será que uma campanha pode mudar as intenções do voto do povo? Tudo indica que não. Pla Teoria dos Jogos ou da neuroeconomia podemos ter uma explicação.

Desde o início da campanha eleitoral, numerosas pesquisas de opinião têm sido apresentadas à sociedade, indicando as preferências por um ou outro candidato à presidência. Ditas pesquisas mostraram clara diferença a favor do atual presidente, uma diferença que poucas vezes foi menor que 25 % com respeito ao segundo colocado, o tucano Geraldo Alckmin.

Na hora da aposta

Até aqui nenhuma novidade. Não são poucas as análises às quais podemos ter acesso quase todos os dias, na imprensa, no rádio ou mesmo na televisão que nos mostram a corrida para chegar primeiro a Brasília e ocupar o “pódio presidencial”. Mais de uma publicidade eleitoral nos fala do sucesso da campanha, dos comícios etc.

Quantas vezes não escutamos jornalistas, professores ou pesquisadores falando das intenções de voto do povo brasileiro? Eu já perdi a conta. Essas análises nos apresentam dados econômicos, sociais, trabalhistas, nos falam das inúmeras obras no país, da geração de emprego e renda, entre outros. Sem dúvida, todas essas considerações têm as suas influências na hora de apertar a tecla de uma urna, mas há uma pergunta que poderíamos fazer: será que essas análises, positivas ou negativas, são as que determinam um voto, ou, pelo contrário, a intenção do voto determina essas análises? Veremos.

Isso tem uma explicação um pouco diferente das que escutamos todos os dias, e é uma explicação baseada na neuroeconomia ou na Teoria dos Jogos. Para entender um pouco melhor, vejamos um exemplo simplificado de um trabalho publicado este ano por Keigo Inukai e Taiki Takahashi, no jornal Medical Hypotheses: suponhamos que temos uma caixa fechada com 90 bolinhas, sendo que 30 são de cor vermelha e as outras 60, verdes e azuis. Não sabemos quantas bolinhas são verdes, nem quantas são azuis. Sabemos, sim, que são 60 de cores misturadas, azuis e verdes. A aposta é a seguinte:

a) Dou 10 reais se você tirar da caixa uma bolinha vermelha.

b) Dou 10 reais se você tirar uma bolinha verde.

Você tem que escolher uma das duas opções. Pense um pouco qual das duas você prefere. Pronto? A sua escolha é válida, não importa qual seja.

Segundo dados experimentais, a maioria das pessoas prefere a opção A, porque tem uma probabilidade conhecida: sabe-se quantas bolinhas vermelhas há. Então, uma pequena mudança é feita na aposta:

a) Você perde 10 reais se a bolinha que tirar for vermelha.

b) Você perde 10 reais se a bolinha que tirar for verde.

Mudanças são difíceis

Nesse caso, qual é a opção preferida? Bem, mais uma vez, a grande maioria das pessoas escolhe a opção A. Isso indica, de acordo com Inukai e Takahashi, que o povo tenta evitar as incertezas quando está ganhando, mas também quando está perdendo.

Outros economistas, Kahneman e Tversky, concluíram que as pessoas normalmente tentam evitar as incertezas quando estão ganhando, mas podem arriscar algo mais quando se deparam com uma situação perdedora. Este comportamento tem uma base que pode ser estudada analisando-se os neurônios, mas esse tema fica para um próximo artigo.

Voltemos ao processo eleitoral: o governo Lula adotou nestes anos alguns programas sociais em forma de bolsa (bolsa-escola, bolsa-família, ProUni, vale-gás etc.). Poderíamos dizer que isso seria positivo, desde que não fosse em detrimento de investimentos na infra-estrutura básica, como esgoto, escolas, estradas, ferrovias, metrô. Mas pensemos na Teoria dos Jogos. As bolsas são, na verdade, as bolinhas vermelhas da caixa do jogo. Essas bolsas (ou bolinhas) são uma certeza para o povo que as recebe, enquanto o discurso que fala das grandes obras é parte das incertezas; é como no jogo: não se sabe quantas bolinhas verdes ou azuis se tem, só que se tem 30 bolinhas vermelhas. No caso de Lula, sabe-se que há uma bolsa, ruim, mas há.

Na hora de votar, o eleitor atua como no jogo: tenta evitar as incertezas quando está ganhando, mas também quando está perdendo. Por isso, as mudanças são tão difíceis de acontecer. Nosso cérebro é muito conservador e pouco amigo dos riscos. Se o marqueteiro da campanha eleitoral do PT estava usando a Teoria dos Jogos de forma consciente, não se sabe. Mas de que aplica a base fundamental desta teoria não há dúvida.

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Doutor em Fisiologia pela Universidad de Buenos Aires e pesquisador Prodoc pela Fapesb/CNPq