Ainda o desafio digital
A Associação Internacional de Marketing de Jornais (INMA, na sigla em inglês) realiza seu seminário anual em São Paulo durante esta semana, sob o signo das plataformas digitais.
Depois da divulgação, pelo New York Times, de seus resultados promissores na venda de conteúdo online, acelera-se a corrida por um modelo que assegure uma transição lucrativa entre as operações totalmente voltadas para o papel e o futuro da notícia em aparelhos eletrônicos portáteis.
Uma das previsões mais populares entre os executivos de jornais foi feita pelo futurologista australiano Ross Dawson, segundo o qual os jornais da América Latina ainda têm pouco mais de quinze anos para continuar explorando os veículos tradicionais.
O evento pega as grandes empresas brasileiras de comunicação num momento de mais otimismo.
Com exceção da Editora Abril, que enfrenta o desafio de administrar sua alta complexidade diante do futuro incerto das revistas, a maioria dos conglomerados nacionais de imprensa ainda não se vê obrigada a migrar completamente para os novos meios eletrônicos, mesmo que essa seja uma imposição clara dos novos tempos.
Embora todos já tenham, de uma forma ou de outra, suas edições destinadas aos aparelhos móveis, a estrutura das redações e seu modo de funcionamento ainda obedecem à lógica do jornal impresso.
Os estudiosos da Associação Internacional de Marketing de Jornais consideram que a imprensa dos países emergentes ainda têm quase uma década de bons ventos pela frente, em função do crescimento econômico e da agregação de novos leitores com a ascensão social dos mais pobres.
Isso já não acontece na Europa e nos Estados Unidos, mercados mais maduros onde a circulação de jornais impressos continua caindo, ao mesmo tempo em que a receita das edições digitais ainda não consegue suprir as necessidades dos negócios.
Esse dilema tem sido superado, aparentemente, pelo New York Times, com um sistema híbrido no qual o leitor tem acesso a uma parte do conteúdo pelos meios eletrônicos mas precisa pagar uma assinatura para ler o material mais interessante.
O modelo do Times será o tema central do encontro de executivos, que ocorre nesta segunda, dia 21, e terça-feira, mas as análises que vêm sendo publicadas recentemente sobre o tema adiantam que atrair o leitor com brindes noticiosos para fazê-lo pagar pelo principal ainda não é a solução definitiva.
O grande desafio da imprensa ainda é se apresentar ao leitor como uma decisão de compra relevante, que se renova diariamente em qualquer plataforma.
Mudar para continuar igual
Enquanto não surge o guru que vai construir o modelo de negócio do futuro para os jornais, alguns deles tentam reinventar seus formatos para reduzir custos e acompanhar os movimentos de seus leitores.
A Folha de S.Paulo, por exemplo, anuncia nesta segunda-feira algumas mudanças em sua configuração, que serão colocadas em prática na próxima segunda-feira, dia 28.
A novidade que mais chama atenção é o fim do Folhateen, voltado para o público adolescente e publicado desde 1991, e que passará a compor uma seção da Ilustrada.
Os críticos mais maldosos diriam que, na verdade, nesse período o caderno adolescente cresceu tanto que acabou ocupando todo o jornal.
Aleivosias à parte, esse é um sinal preocupante de que os diários não estão conseguindo reter seus leitores mais jovens, o que significa que têm dificuldades para formar novas gerações de leitores, pelo menos no papel.
A página semanal Saber também deixa de ser publicada, com os temas ligados a educação e conhecimento diluidos na cobertura do caderno Cotidiano.
As revistas São Paulo, semanal, e Serafina, mensal, continuarão sendo produzidas e entregues aos domingos.
Da mesma forma, os guias de entretetenimento seguirão saindo às sextas-feiras.
No mais, ocorre um remanejamento no dias de distribuição, de modo que a cada dia da semana o leitor receba um suplemento.
Assim, às segundas o leitor da Folha continuará recebendo o suplemento do New York Times e o caderno Tec, às terças terá Equilíbrio, às quartas vai levar Comida, às quintas terá Turismo, à sextas o Guia Folha, aos sábados a Folhinha e aos domingos o pacote com Ilustríssima, os cadernos de classificados por tema e as revistas.
O jornal não explica os motivos das mudanças, mas pode-se especular que, claramente, um caderno para adolescentes se revela um desperdício, pelo menos no modelo como vinha sendo produzido.
Por outro lado, separar questões de educação e saber das procupações normais do cotidiano tampouco revelava grande sabedoria.
No mais, presume-se que , quando se quer mudar para deixar tudo na mesma, é assim mesmo que se faz.