Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Marcelo Beraba

‘Não foram muitos os leitores que reclamaram, mas os que o fizeram estavam bastante contrariados com a decisão da Folha de aproveitar os feriados do Natal e do Ano Novo para circular sem vários suplementos.

Entre o sábado, dia 23, e a segunda-feira, dia 1º, o jornal não entregou duas edições da Revista, do Mais! (ambos saem aos domingos), do Folhateen (segundas-feiras) e da Folhinha (sábados), e uma edição do Equilíbrio (a de quinta-feira, dia 28).

A professora Doralice Araújo, de Curitiba, foi a primeira a protestar, ainda no Natal, e ao longo dos dias seguintes enviou cinco mensagens reclamando do que considerou ‘um desrespeito’ e uma ‘falta de compromisso’ do jornal com os seus leitores. ‘Imagine a gritaria se um hospital público colocar na porta que os serviços de obstetrícia excepcionalmente não serão oferecidos no dia 24 de dezembro? Imaginou? Pois é, esta é a sensação que um leitor experimenta quando abre a edição e vem uma explicação pouco convincente’, escreveu.

Redução de custos

Não é o primeiro ano que o jornal economiza com os suplementos. Suzana Singer, secretária de Redação, assim justifica o procedimento da Folha: ‘O jornal aproveita esse período -de baixa intensidade no noticiário e quando grande parte dos seus leitores está viajando- para fazer uma redução de custos e conceder folgas à equipe. Embora não circule nesses dias com alguns suplementos, ao longo do ano o jornal oferece cadernos e revistas especiais além dos suplementos semanais. Em 2006 foram editados 55 produtos especiais’.

Jornais como a Folha trabalham com metas de gasto de papel. Eventos como a Copa do Mundo, as eleições e a cobertura de grandes escândalos -marcas de 2006- acabam consumindo uma boa parte dessa cota, e é compreensível que haja um esforço da empresa para compensar os gastos extras. Há, no entanto, três problemas sérios nessa política.

1 – Os produtos atingidos são exatamente aqueles que fazem a diferença em edições com baixa intensidade no noticiário. A edição de domingo, por exemplo, atrai um leitor que busca, além de informações e serviços, reflexão (caderno Mais!) e entretenimento (Revista). Muitos leitores estão acostumados com algum dos cadernos semanais. Eles fazem parte de suas rotinas e não tê-los é uma frustração. O ideal seria compensar os gastos extras de papel de outra forma que não atingisse a estrutura física do jornal. Também é verdade que muitos leitores viajam, mas o assinante (e a maioria absoluta dos leitores da Folha é formada por assinantes) que cultiva um suplemento não se importa de lê-lo na volta dos feriados, até porque os cadernos são atemporais.

2 – Os leitores que escreveram para o ombudsman reclamaram, com razão, da falta de explicação do jornal. O aviso curto na Primeira Página -’Excepcionalmente a Revista e o Mais! não circulam hoje’- não satisfaz. Os leitores queriam mais esclarecimentos. Não que fossem convencê-los, mas pelo menos seriam entendidos como sinais de respeito e de consideração.

3 – Acho, por fim, que o problema maior não é esse, embora esteja de acordo com os protestos dos leitores. O problema maior, na minha opinião, é a baixa qualidade do jornal nestes dias de baixa intensidade do noticiário. Reli as edições da Folha a partir do dia 23, sábado. É nítido que o jornal não teve condições -por falta de pessoal, de verbas ou de planejamento- de preparar para os dias de vacas magras edições especiais com reportagens e textos que surpreendessem o leitor -que fizessem com que ele se sentisse compensado mesmo recebendo um jornal mais magro.

A tradição da Folha é a de ter edições de final de ano enxutas, por economia de papel, mas com uma oferta de boas reportagens preparadas com antecedência. As edições do Natal e do Ano Novo deveriam ser planejadas como presentes para o leitor. Não foi assim que muitos deles receberam os seus exemplares na passagem do ano.’

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‘Balanço: os erros de 2006’, copyright Folha de S. Paulo, 07/01/07.

‘A Folha reconheceu, em 2006, 1.241 erros -um crescimento de 5% em relação a 2005. Não significa que tenha errado mais, mas que corrigiu mais erros, o que é um ótimo sinal. A credibilidade dos meios jornalísticos está cada vez mais associada à sua disposição de identificar erros e corrigi-los. E a Folha segue sendo o jornal mais empenhado em admitir suas incorreções.

O jornal assim evoluiu nos três anos que acompanho como ombudsman: em 2004 corrigiu 1.220 erros, em 2005, 1.183 e, agora, 1.241 -o que significa, em 2006, uma média diária de três a quatro correções na seção ‘Erramos’, na página A3.

Há um aspecto negativo, no entanto: o jornal continua demorando muito tempo para corrigir seus erros. Quanto mais rápidas forem feitas as correções, menos prejuízos têm os leitores e os personagens ou empresas prejudicados pelo jornal. O ideal seria reconhecer o erro no dia seguinte, mas isso nem sempre é possível porque a maioria dos casos exige uma checagem que, na Folha, é feita pelo Programa de Qualidade.

No primeiro semestre de 2004, quando comecei a fazer o acompanhamento de quantos dias o jornal leva em média para reconhecer um erro, o resultado foi de nove dias. O jornal melhorou no segundo semestre e fechou aquele ano, e o ano seguinte, com uma média de sete dias. Agora em 2006 piorou: a média passou para oito dias.

O maior número de correções em 2006 é produzido pelas grandes editorias diárias: Brasil (245), Ilustrada (204), Cotidiano (190), Dinheiro (108) e Esporte (103). Entre os suplementos, o Guia da Folha, que circula em São Paulo às sextas-feiras com os serviços culturais e de entretenimento da cidade, lidera com 108 correções. A seção ‘Erramos’ publicou 26 correções de erros publicados na Primeira Página do jornal.

No quesito rapidez no reconhecimento de erros, houve uma grande evolução na editoria que lidera o ranking de correções -Brasil. Em 2004 a média da editoria era de uma semana, no ano seguinte ela melhorou para seis dias e neste ano terminou com uma média de cinco dias. É o melhor desempenho entre as grandes editorias. O pior desempenho é o do caderno Cotidiano, com uma média de 11 dias.

A Folha deveria ter como uma de suas metas para 2007 baixar o tempo que leva para publicar as correções. Será um avanço em termos de respeito ao leitor e às fontes.’