COMUNICAÇÃO CORPORATIVA
Paulo Nassar
Do operacional ao estratégico num pulo
‘No final dos anos 1960, em São Paulo, numa sala emprestada em um prédio na Avenida Paulista, uma reunião entre meia dúzia, pouco mais, de ‘jornalistas empresariais’ tinha como tema a gramatura ideal do papel que os jornais de empresas, para o operário leitor, deveriam ser produzidos. Praticamente 40 anos depois, em dezembro de 2006, numa sala do hotel Renaissance, em São Paulo, na Alameda Santos, paralela à Avenida Paulista, um grupo de empresários, comunicadores, gestores, discutia com o convidado da ABERJE, Gilberto Dupas, coordenador-geral do Grupo de Conjuntura Internacional da Universidade de São Paulo (USP), o papel das empresas na sociedade.
Neste mesmo dezembro, Rodolfo Guttilla, presidente do Conselho Deliberativo da ABERJE, no seu discurso de abertura da cerimônia de entrega do Prêmio ABERJE Brasil, citou um verso de Mário de Andrade, de 1929, ‘Eu sou trezentos, sou trezentos e cinqüenta’, como representação do profissional de Comunicação contemporâneo: inquieto, múltiplo e mestiço. Mario de Andrade antecipou-se a Gilberto Freire no entendimento da miscigenação racial e cultural como papel determinante na formação de nosso povo.
Na ABERJE, a essência pluralista da atividade do comunicador, é chamada ‘mestiçagem’, pelo entendimento de que tão múltipla quanto nossa origem devem ser a formação e as funções do comunicador. São ‘trezentos e cinqüenta’ os papéis, sobretudo político e educacional.
A ABERJE representa a comunicação empresarial no país há 40 anos. Foi uma das mais importantes agentes, responsável pela criação de uma nova profissão e da própria atividade. Ela estimula a visão de convergência, de soma, livre de corporativismos, de carimbos normatizadores e passará a atuar com mais intensidade na esfera pública, a bem dos interesses de seus associados, da liberdade e da democracia brasileira.
Por isso, além de combater, por princípio, o corporativismo, uma das questões públicas que será agora trazida para o debate é a da regulamentação do lobby, palavra de origem inglesa, que traduz a representação política de interesses em nome e em benefício de clientes identificáveis. O lobby é, portanto, instrumento útil para o aprimoramento da qualidade das decisões políticas, ao explicitar o ponto de vista de diferentes atores sociais para o processo decisório. São muitos os temas em pauta na sociedade, que envolvem interesses diversos e precisam, portanto, ser discutidos à luz do dia. Empresas, associações de classe, organizações não governamentais, grupos de cidadãos podem ter negócios ou interesses afetados por políticas públicas. Daí, nada mais legítimo do que a existência de canais lícitos para expressar pontos de vista, preocupações e argumentos. É próprio da democracia e quanto mais regular, transparente e público for o processo de pressões e contrapressões sobre os detentores de mandatos eletivos ou cargos públicos, melhor para a sociedade. A regulamentação do lobby será altamente benéfica para o Brasil e para os brasileiros.
Os Estados Unidos regulamentaram por lei a prática do lobby em 1946. Os congressistas brasileiros ainda não foram capazes de aprovar uma lei para essa atividade no país. Isso dá a impressão – equivocada e nociva – de que defender opiniões equivale a delinqüir. Envolver-se nessa empreitada é valorizar a atividade do comunicador, o desempenho das nossas empresas associadas e os profissionais que as representam, para o aperfeiçoamento da democracia e também para a cidadania no Brasil.’
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