Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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O Brasil e a questão ambiental

Pesquisa realizada pelo Ibope a pedido da Confederação Nacional da Indústria e publicada nesta sexta-feira, dia 4, pelo Estado de S. Paulo, revela que a questão do meio ambiente é motivo de preocupação para a imensa maioria dos brasileiros.

Trata-se da terceira pesquisa nacional feita pelo instituto para avaliar o grau de consciência a respeito desse tema. Em 2010, as mudanças climáticas eram motivo de cuidados para 80% dos entrevistados. Em 2011, nada menos do que 94% dos consultados na amostragem nacional se declararam preocupados com a questão ambiental.

Além disso, 66% consideram que se trata de um problema global, que deve ser atacado imediatamente.

A série de pesquisas denominada “Retratos da Sociedade Brasileira”, que também aborda outros assuntos de interesse geral, como saúde e educação, é encomendada pela CNI como parte da estratégia da indústria para monitorar as questões que interessam aos brasileiros e analisar os efeitos de políticas públicas no longo prazo.

A questão ambiental voltou à pauta por causa da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, que deve se realizar no Rio de Janeiro no mês que vem.

Mas a pesquisa também chega num momento apropriado por outra razão, quando o Congresso Nacional, comandado pela bancada ruralista, insiste em flexibilizar a legislação de defesa do patrimônio ambiental.

Alguns detalhes da consulta feita pelo Ibope revelam que, mais do que informados sobre a questão das mudanças climáticas, os brasileiros, em sua grande maioria, também concordam com a interpretação do grupo internacional de cientistas organizado pela ONU para estudar as causas do fenômeno, sobre a responsabilidade dos seres humanos na preservação das condições de vida no planeta.

Além disso, as respostas revelam uma evolução da consciência a respeito da complexidade do problema.

Por exemplo, 44% dos entrevistados afirmaram considerar que a proteção do meio ambiente deve ter prioridade em relação ao próprio desenvolvimento econômico, enquanto 40% disseram acreditar que é possível conciliar as duas necessidades – apontando para o conceito de desenvolvimento sustentável – e apenas 8% afirmaram que a prioridade deve ser o crescimento econômico.

O Código Florestal

A consulta também detectou a carência de mais informações sobre o problema. O número de pessoas que apontam a indústria como principal causadora das mudanças climáticas subiu de 25% dos entrevistados em 2010 para 38% em 2011 – embora se saiba que a maior causa de emissões dos gases de efeito estufa no Brasil é o desmatamento.

Além disso, embora o setor industrial tenha sido o que mais investiu em processos limpos de produção e políticas de reciclagem de resíduos nas duas últimas décadas, segue sendo, no imaginário brasileiro, o grande vilão ambiental.

Paralelamente, 59% dos consultados disseram que fazem algum tipo de separação de lixo para reciclagem, mas 48% afirmam não ter acesso a sistemas de coleta seletiva.

Uma demonstração de que o noticiário sobre a questão ambiental ainda pode melhorar aparece nas respostas referentes à indústria agropecuária: apesar de se saber que esse é o setor mais associado ao desmatamento e aquele que mais se beneficia do avanço das áreas de pastagens sobre as florestas, apenas 3% dos entrevistados o apontaram como responsável pelo problema ambiental.

Esses desvios de opinião em relação à fartura de conhecimento sobre essa questão disponível em todos os meios virou motivo de preocupação para a Confederação Nacional da Indústria, que pretende distribuir, durante a Rio+20, documentos mostrando o que cada setor industrial tem feito nos últimos anos para amenizar o efeito de suas atividades sobre o meio ambiente.

A pesquisa oferece material de grande utilidade para a imprensa, que pode planejar pautas mais específicas voltadas para o esclarecimento de alguns aspectos ainda nebulosos para grande número de pessoas.

Mas o mais importante parece ser a revelação de que a quase totalidade dos brasileiros se opõe ao conjunto de normas propostas pelo Congresso Nacional para a reforma do Código Florestal.

A insistência da bancada ruralista e seus aliados – entre eles até grande número de parlamentares da aliança que apoia o governo – em reduzir as exigências para a proteção do patrimônio ambiental se choca claramente com o que 94% dos brasileiros consideram como questão prioritária.

Nos próximos dias, a presidente da República deverá analisar o resultado das votações no Congresso e terá como única alternativa, diante de algumas questões, exercer seu direito de veto.

Os métodos de atuação da bancada ruralista não autorizam vacilações e a imprensa precisará estar atenta ao que vem por aí.