Leia abaixo os textos desta sexta-feira selecionados para o Entre Aspas **** Folha de S. Paulo
Sexta-feira, 10 de outubro de 2006
ELEIÇÕES 2006
Chico x Caetano
‘‘No fundo, sempre existiu no PT a idéia de que você ou é petista ou é um calhorda. Um pouco como o PSDB acha que você ou é tucano ou é burro’, Chico Buarque explodiu numa gargalhada.
São gritantes os defeitos e semelhanças dos dois partidos e seus chefes e militantes. Sem falar no aspecto mafioso e quadrilheiro, inerente à política brasileira, parecem mais torcidas organizadas de futebol, com sua intolerância, fanatismo e cegueira. É mesmo uma temeridade colocar nossas esperanças e nosso destino nas mãos dessa gente. Mas é o que nos é dado escolher. Bem, para quem viveu na ditadura, poder escolher entre o ruim e o pior já é um avanço.
O PT foi contra o Plano Real, dizia que era eleitoreiro, armação da direita. O PSDB nega o sucesso do Bolsa Família e o chama de populismo e demagogia eleitoral. Na oposição, o PT sabotou sistematicamente bons projetos do governo FHC. Fora do poder, os tucanos dedicam a maior parte de seu tempo e ação para investigar, agredir e destruir o lulo-petismo.
É melhor escolher entre Chico e Caetano. Mais uma vez, os dois amigos estão em lados opostos. Tanto em seus novos discos como nas opiniões políticas. Chico se aprofundou na complexidade harmônica e melódica de suas canções e adensou a sua poesia. Caetano, aos 63 anos, deu um salto no escuro com um disco de rock, duro e cru, cheio de ironias e provocações, cercado por poucos e jovens músicos, cuspindo fogo. Dois discos poderosos, corajosos e honestos.
Chico vota Lula, com ressalvas, mas bons motivos. Caetano pode ser Alckmin, ou não, com ótimas razões. O melhor é que Chico não tem os defeitos de caráter e conduta do PT e Caetano pode ser acusado de tudo menos de ser ‘de direita’ ou tucano em cima do muro.’
Renata Lo Prete
A curva pró-Lula
‘ASSIM COMO se revelou infundada a expectativa oposicionista de que o desempenho de Alckmin no debate pudesse reativar o movimento ascendente que o colocou no segundo turno, também carece de base real a teoria lulista segundo a qual o programa de domingo passado seria o responsável pela ampliação da vantagem do presidente, detectada pelo Datafolha e endossada ontem pelo Ibope.
Vá lá que o tucano tenha incorrido em algum exagero no tom escolhido para se dirigir ao adversário, impressão potencializada pelo contraste com a imagem polida que projetou ao longo de sua trajetória política. Ainda que não admita de público, a própria campanha identificou esse estranhamento, especialmente nos dois primeiros blocos, em pesquisa com grupos que acompanharam o programa.
No essencial, porém, o debate serviu para o que geralmente serve esse gênero de confronto televisivo: cristalizar percepções prévias do eleitor. As respostas à bateria de perguntas do Datafolha sobre atributos dos candidatos mostram que qualidades e defeitos conferidos a Lula e a Alckmin se acentuam na ótica dos eleitores que assistiram ao programa.
Assim, o desempenho de Alckmin tende a ser considerado ‘firme’ por quem já o aprovava e/ou desaprovava Lula e ‘autoritário’ ou mesmo ‘fascista’ -na propaganda do ministro Tarso Genro- por quem está com o presidente e não abre.
Debate serve também como matéria-prima para o horário gratuito, no qual seu conteúdo é editado ao gosto do freguês. Ontem, na hora do almoço, Lula estreou com um condensado em que não havia vestígio de seu atordoamento inicial, evidente até para aliados presentes no estúdio da Band, com as perguntas do adversário.
Pelo contrário, parecia ter todas as respostas. O ‘clipe’ de Alckmin, por sua vez, manteve o bordão principal de sua ofensiva (‘Lula, de onde veio o dinheiro para pagar o dossiê fajuto?’), mas deixou de fora outros momentos de cobrança em troca de enfatizar o que não havia sido a tônica do candidato no programa: dizer o que fará se chegar à Presidência da República.
Menos do que um ponto de inflexão, contra Alckmin ou a favor de Lula, o primeiro debate do segundo turno aconteceu dentro de uma onda que já vinha favorável ao petista -vide o Datafolha anterior-, basicamente devido ao esfriamento do escândalo do dossiê. Completando o quadro de dificuldades de Alckmin, sua campanha se viu obrigada pelo discurso do adversário a recuar para uma atitude defensiva.
Neste momento, gasta boa parte do tempo negando que vá privatizar, cortar benefícios sociais e seqüestrar crianças.
A esperança de Alckmin é que a pergunta-mãe do caso do dossiê volte para o centro do noticiário.
RENATA LO PRETE é editora do Painel’
TODA MÍDIA
A edição do debate
‘O debate da Band foi a atração na volta do horário eleitoral, ao menos à tarde. Como destacaram Folha Online e outros, a tática foi ‘requentar’ -ou editar. As campanhas fizeram suas próprias versões, talvez por acreditar que a edição posterior vale mais que o programa, propriamente, vide o segundo turno de 89.
Por outro lado, o horário petista privilegiou Lula tratando de ética, ponto em que foi mais atacado, e o tucano deu as juras de Alckmin para o Bolsa Família. Curiosamente, no rádio, as atenções foram opostas.
No horário eleitoral da noite, na televisão, Alckmin manteve o programa, mas a campanha de Lula achou por bem deixar a edição de lado. De todo modo, ele até se desculpou por faltar ao debate do primeiro turno.
CARISMA E RAZÃO
Único correspondente -até onde se viu- a escrever que ‘Alckmin ganhou com contundência’ o debate da Band, o espanhol Juan Arias, do ‘El País’, surgiu ontem no jornal sob o título ‘Lula faz 12 pontos de vantagem sobre Alckmin apesar de perder no debate’. E comentou, a certa altura, que ‘o carisma pessoal de Lula supera a razão’.
SÓ DUAS SEMANAS
O ‘Financial Times’ deu ontem, em texto de Elizabeth Johnson, que, ‘faltando só duas semanas para o segundo turno da eleição no Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou sua liderança sobre Geraldo Alckmin’, com o registro de que é ‘a primeira pesquisa após um debate em que Mr. Alckmin pôs Mr. Lula da Silva na defensiva’.
No ‘NYT’, ‘militar da FAB joga rosas sobre local da queda’
O ‘New York Times’ voltou ao ataque ontem, no texto ‘Famílias criticam segredo do inquérito sobre queda’. Diz que ‘a falta de informações levou à especulação solta’ e ‘à responsabilização dos pilotos americanos’.
Mas agora o ‘Washington Post’ entrou na história em corrente contrária, com a reportagem ‘Dois pilotos dos EUA criticados no Brasil’. Eles estariam ‘envoltos em controvérsia’ por suas declarações -e também por causa dos ‘comentários de um colunista do ‘NYT’ que estava no jato executivo’, dizendo que ‘ouviu que o controle aéreo era notoriamente incompleto’. O ‘WP’ ouviu um porteiro do Rio, que chamou os pilotos de ‘criminosos’.
TUDO, MENOS PETRÓLEO
Não passa dia sem uma reportagem ou artigo, em algum jornal dos EUA e Europa, vaticinando os biocombustíveis como a saída para a independência do petróleo. No site do ‘NYT’, uma novidade: um longo, interminável estudo de um dos editorialistas, Robert B. Semple Jr., tratando uma a uma as possibilidades ‘além dos combustíveis fósseis’. Motivou piada na ilustração, mas até de energia eólica ele falou. De todo modo, não faltaram etanol e o Pró-Álcool.
ARMAS COMO NUNCA
No ‘Guardian’, destaque para o estudo Armas sem Fronteiras, divulgado por Anistia Internacional, Oxfam e outras entidades, dizendo que as vendas devem superar o recorde mundial em 2006.
‘MADE IN BRAZIL’
No US$ 1,05 bi de armas vendidas (acima do US$ 1,03 bi de 1987, ‘recorde da Guerra Fria’), a observação de que ‘novos países emergem como grandes exportadores, como Brasil, Índia, África do Sul’.’
TELEVISÃO
Ministério monitora TV de filho de Lula
‘O Ministério da Justiça está monitorando desde o mês passado a Play TV, canal aberto cuja programação das 17h à 0h é controlada pela Game TV (ex-Gamecorp), produtora que tem entre entre seus sócios a operadora Telemar e Fábio Luís da Silva, filho do presidente Lula.
O monitoramento, que consiste em gravar e analisar os programas da Play TV, foi determinado pelo Ministério Público Federal, que recebeu reclamações de telespectadores contra o programa ‘Combo: Fala + Joga’. A primeira reclamação ocorreu em abril, quando a Play TV ainda ocupava o canal 16 em São Paulo (hoje está no 21) e exibiu uma entrevista em que a ex-garota de programa Bruna Surfistinha informava preços de relações sexuais com prostitutas.
No final de agosto, o Ministério da Justiça abriu um processo administrativo e detectou que os programas da Play TV estão irregulares, porque não têm classificação indicativa. Ainda no monitoramento, o ministério registrou a exibição, no programa ‘Combo: Fala + Joga’, de trechos de jogos para computadores e para consoles também sem classificação indicativa ou extremamente violentos para o horário em que o programa é reprisado (17h).
A Play TV nega a exibição de games violentos e informa que já providenciou pedido de classificação indicativa de seus programas. O Ministério Público confirma a informação.
DIGITAL À FORÇA 1 O Ministério Público Federal enviou à Net recomendação para que a operadora passe a oferecer em 30 dias os canais obrigatórios, como TV Senado e TV Câmara, em tecnologia digital. A operadora não é obrigada a cumprir, mas, nesse caso, poderá sofrer ação judicial.
DIGITAL À FORÇA 2 A Net está sendo investigada porque assinantes do serviço digital só recebem canais públicos em sinal analógico, de qualidade inferior, depois de várias operações no controle remoto.
DIGITAL À FORÇA 3 A Net diz que a Lei do Cabo a obriga a carregar os canais públicos, mas não determina em qual tecnologia. Afirma que a situação é transitória e que em breve irá oferecer todos os canais em tecnologia digital.
NO TELHADO Depois de quase um ano de maturação, o projeto da Band de produzir em Miami um programa apresentado por Márcia Goldschmidt está sendo reavaliado pela emissora.
NOVO FORMATO A Rede TV! inovou em sua programação de ontem, toda temática do Dia da Criança. Um único anunciante, a C&A, patrocinou todos os seus programas, do início ao fim do dia. Esse tipo de patrocínio, chamado de vertical, era inédito no país.
DONA DA BOLA Só assinantes da Sky poderão assistir ao maior clássico do futebol espanhol, Barcelona x Real Madrid, no próximo final de semana (dia 21 ou 22). A operadora comprou o direito de exibir os principais jogos do Campeonato Espanhol.’
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O Estado de S. Paulo
Sexta-feira, 10 de outubro de 2006
ELEIÇÕES 2006
Na TV, os dois ‘venceram’ debate
‘Na volta do horário eleitoral gratuito na televisão, o petista Luiz Inácio Lula da Silva e o tucano Geraldo Alckmin travaram um duelo sobre o debate de domingo. Cada um usou cenas do confronto na TV Bandeirantes de acordo com sua conveniência. Os dois cantaram vitória, mostraram imagens que consideraram exemplo de bom desempenho e omitiram as derrapadas. Não apresentaram propostas nem detalharam o programa de governo.
Nas cenas reprisadas, Lula voltou ao tema das privatizações, dizendo que Alckmin planeja retomar o programa de venda das estatais adotado no governo Fernando Henrique. Alckmin insistiu na cobrança da origem do R$ 1,75 milhão que seria usado por petistas para pagar o dossiê Vedoin.
Na interpretação petista do debate, Lula ‘não deixou nenhuma pergunta sem resposta’. Na verdade, porém, o presidente durante o programa de domingo se irritou com várias perguntas de Alckmin sobre os escândalos de corrupção que abalaram seu governo e chegou a chamar o adversário de ‘leviano’.
O PSDB também exagerou ao contar para o eleitor como foi o debate. Disse que ‘Geraldo foi o grande vencedor porque apresentou as melhores propostas’. Destacou ainda que, ‘quando foi preciso, Geraldo falou duro com Lula’, mostrando a cobrança de Alckmin ao presidente: ‘De onde veio o dinheiro sujo, 1,75 milhão em reais e dólares para comprar o dossiê fajuto?’ O programa tucano, no entanto, deu mais destaque às promessas feitas por Alckmin no debate, inclusive a de vender o avião presidencial, conhecido como Aerolula, para construir cinco hospitais com o dinheiro.
Com a retomada do tema das privatizações, Lula levou para a propaganda na TV a estratégia que os adversários denunciam como ‘terrorismo eleitoral’. O programa reproduziu o que Lula disse no debate: ‘Alguém pode ser condenado por ter dúvidas do que vocês vão fazer? Porque a única coisa que vocês souberam fazer no governo foi gastar em demasia, vender as empresas estatais para pagar parte desse gasto. Todo mundo sabe que o PSDB e o PFL privatizaram o País. Não precisa esconder isso de ninguém.’ E provocou: ‘Vão vender a Amazônia?’
No último bloco do debate, Alckmin foi incisivo ao desmentir a venda das estatais. Exigiu respeito do presidente Lula e mostrou mais de 200 páginas de seu programa de governo, dizendo que não há nenhuma referência a privatizações. Essa parte, no entanto, não foi reprisada no programa do PSDB.
Outra grande preocupação dos tucanos são os boatos de que Alckmin vai terminar com o Bolsa-Família, o carro-chefe do governo Lula. O programa do PT não tocou no assunto, mas Alckmin fez questão de afastar essa possibilidade: ‘Quero ser presidente para continuar o Bolsa-Família, para aumentar o Bolsa-Família, para melhorar o Bolsa-Família.’’
IRAQUE
Ataque a TV em Bagdá mata 11
‘Entre os mortos por grupo armado que invadiu o prédio da emissora estão o diretor-geral e o principal apresentador
Um grupo armado invadiu ontem a sede da rede de televisão Al Shaabiya, em Bagdá, e matou 11 pessoas, no maior ataque a uma empresa jornalística no Iraque desde o início do conflito. Em um dia bastante violento, explosões em uma praça, ataques a bomba e outros atentados deixaram mais de 40 mortos em todo o país.
No ataque à TV, o diretor-geral, Abdul Rahim Nasralla al-Shameri, e o principal apresentador, Abdel Nasraui, foram assassinados, assim como outros sete funcionários e dois seguranças. As causas do ataque ainda são desconhecidas.
Recém-criada, a TV Al Shaabiya ainda não tinha estreado – planejava iniciar suas transmissões via satélite amanhã.
Além de diretor da TV, o xiita al-Shameri também era o líder de um pequeno partido laico, o Partido da Justiça e do Desenvolvimento Democrático, cuja principal reivindicação era estabelecer um calendário para a retirada das tropas americanas do Iraque. O partido, que financiava a Al Shaabiya, recebia dinheiro do governo da Líbia. No entanto, o gerente executivo da TV, Hassan Kamil, afirmou que a Al Shaabiya não tinha uma agenda política e que entre seus funcionários havia sunitas, xiitas e curdos. Firas Rikabi, jornalista da emissora, disse que a TV vinha fazendo testes nos últimos dias, a maioria com músicas nacionalistas, contra o terrorismo e a ocupação estrangeira.
Testemunhas disseram que todos os invasores estavam armados e muitos deles vestiam uniformes da polícia especial do Ministério do Interior. A informação levantou suspeita sobre as forças do governo, já que algumas de suas unidades estão sendo acusadas de envolvimento com grupos de extermínio. A polícia, entretanto, negou as acusações, dizendo que os uniformes usados podem ter sido roubados ou falsificados.
Segundo a organização Repórteres Sem Fronteiras, 109 jornalistas, entre iraquianos e estrangeiros, já morreram no país desde a invasão americana, em março de 2003.
VIOLÊNCIA
Poucas horas depois do ataque à Al Shaabiya, um carro-bomba explodiu na Praça Tayarán, centro de Bagdá, matando cinco pessoas e deixando dezenas de feridos. No norte da capital, em Al-Qahira, uma moto explodiu, deixando 3 mortos e mais de 15 feridos. Em Kirkuk, dois soldados iraquianos morreram e seis ficaram feridos em uma explosão. Somente ontem, mais de 40 corpos foram encontrados em diversos bairros de Bagdá – somando mais de 150 cadáveres na última semana. AP, AFP E REUTERS’
SP SEM PROPAGANDA
Gilberto Kassab
‘A sociedade paulistana está de parabéns pela aprovação da lei Cidade Limpa. Vamos enfrentar para valer o problema da poluição visual e acabar com o caos provocado pelo excesso de publicidade externa. É tempo de valorizar a arquitetura e a paisagem urbana da cidade.
Ressalto o espírito público da Câmara Municipal, que se revelou absolutamente sintonizada com o interesse público e com a opinião da imensa maioria da população. A votação quase unânime (45 votos a 1) mostrou um apoio ao projeto independentemente das divisões político-partidárias e mesmo da disputa eleitoral que ocorria enquanto o projeto tramitava. Os vereadores de São Paulo, em grande maioria, tiveram o desprendimento de votar a favor de São Paulo, apesar das pressões sofridas.
Agora, é hora de trabalhar. Temos um imenso desafio pela frente. Precisamos implementar a nova legislação e fazer cumpri-la. Em linhas gerais, o Cidade Limpa proíbe qualquer tipo de publicidade exterior e estabelece regras para anúncios indicativos, aquelas placas que identificam os pontos comerciais.
Assim, ficam proibidos outdoors, anúncios luminosos, ‘back-lights’, publicidades nas paredes laterais dos edifícios, totens e estruturas infláveis. Também vai acabar a propaganda em ônibus, táxis, trailers e carretas. São Paulo vai-se libertar de uma das formas mais claras de apropriação indevida do espaço público, a poluição visual que tomou conta do horizonte da cidade nas décadas mais recentes, a ponto de muitos paulistanos nem mesmo lembrarem que a cidade não era assim até pouco tempo atrás.
O prazo para a remoção dos anúncios é 31 de dezembro. Fica a advertência: não haverá recuo, as regras não serão atenuadas porque temos consciência de que a lei altera aspectos formais, mas principalmente impacta a cultura da cidade; qualquer abrandamento seria visto como autorização para que tudo ou quase tudo siga como está. Por isso, seremos implacáveis para cumprir e assegurar o cumprimento da nova legislação.
A Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras está incumbida de organizar as equipes que vão acompanhar a implantação da lei, atender os que têm dúvidas, esclarecendo-as, e combater o desrespeito. Antes mesmo do final do ano, parte da paisagem já vai dar sinais de limpeza. Anúncios colocados em áreas públicas serão retirados tão logo quanto possível, como forma de exemplo. As subprefeituras vão aumentar a ação contra as placas que estão claramente ilegais perante a legislação anterior. E as empresas responsáveis deverão iniciar os trabalhos de retirada de suas placas, adaptando-se às novas regras. Com tudo isso, antes mesmo de entrar em vigor a nova lei já fará sentir seus efeitos benéficos.
Nas semanas desde que anunciamos o projeto Cidade Limpa, muito se falou da falta de fiscalização para combater a publicidade que desobedecia à legislação anterior. A principal causa desse problema é que a lei continha defeitos genéticos que tornavam impossível o seu uso para reduzir a poluição visual. Um exemplo disso é que dois outdoors idênticos, lado a lado, podiam ser um legal e outro ilegal, dependendo da data de sua instalação. A lei tinha outros pontos confusos e dubiedades que causavam dúvidas até entre especialistas.
Com a nova lei aprovada pela Câmara e já sancionada pelo Executivo, a cidade entra num novo tempo. Em vez de comemorar, sinto que devemos arregaçar as mangas. Temos dois grandes desafios pela frente. Em primeiro lugar, fazer cumprir a lei, com o apoio vigilante de toda a população. Em seguida, quando a publicidade externa estiver eliminada, saltará aos olhos o excesso de fios e postes nas ruas e avenidas da cidade. Essa poluição visual deverá ser nosso próximo alvo. Para enfrentar o problema o então prefeito José Serra promulgou lei oriunda da Câmara Municipal que estipula a obrigatoriedade de concessionárias, empresas estatais e prestadoras de serviços tornarem subterrâneos todo o cabeamento da rede elétrica, de televisões a cabo, os fios telefônicos e outras linhas transmissoras. No lugar dos postes, a cidade ganhará árvores.
Não vou provocar ilusões. Levar fios e cabos de um centro urbano com as dimensões de São Paulo para o subsolo requer tempo e, acima de tudo, muito investimento. Infelizmente, trata-se de mais um descaso do passado que nossa geração está condenada a corrigir, como ocorreu também com a poluição dos três rios em cujo encontro os jesuítas decidiram fundar o colégio que deu origem a São Paulo.
Mas a impotência não é uma característica de São Paulo: ao contrário, aqui tudo foi construído pela força e pela coragem de seus habitantes. Cabe a nós, então, enfrentar o problema, vencê-lo com o planejamento e com a persistência, já que não é possível fazê-lo de um só golpe.
Minha proposta é que as administrações municipais de São Paulo passem a incluir o enterramento de fios como parte integrante das ações de manutenção da cidade, abraçando todas as oportunidades que houver para avançar, como obras em ruas, reurbanização de áreas, reformas de calçadas, intervenções em ruas comerciais, etc. Um exemplo a ser seguido é o das Ruas Amauri, no Itaim Bibi, e Oscar Freire, nos Jardins, onde a comunidade, com apoio da Prefeitura, incluiu o enterramento dos fios ao realizar obras de embelezamento das ruas. A partir de agora, precisamos incluir o enterramento em todas as intervenções importantes que o Estado ou a comunidade realizarem em áreas da cidade.
Assim, com trabalho persistente e contínuo, começaremos a fazer com que, no futuro, possamos olhar para trás e ver que aos poucos a cidade deu uma resposta efetiva ao clamor dos moradores de São Paulo, que exigem do poder público medidas concretas e um combate sem tréguas a todas as formas de poluição. Nossa palavra de ordem é uma só: persistência.
Gilberto Kassab é prefeito da cidade de São Paulo’
INTERNET
Matando mensageiros da velha mídia
‘No último fim de semana, quase ao mesmo tempo, o mundo foi informado que o Google oferecia US$ 1,65 bilhão pelo YouTube, um website de compartilhamento de vídeos criado há dois anos, e a famosa jornalista russa Anna Politkovskaya fora morta a tiros em Moscou. Politkovskaya cobria violações dos direitos humanos na Chechênia. Também era uma crítica aberta do presidente da Rússia, Vladimir Putin, e as autoridades russas consideram sua morte um assassinato político.
A aquisição do YouTube e a morte de Politkovskaya não são eventos relacionados. Mas oferecem pistas sólidas sobre as forças que determinam como a informação é produzida, distribuída e consumida. O YouTube resume a ‘nova mídia’ – seu imenso potencial e seus efeitos surpreendentes. Politkovskaya representa a ‘velha mídia’ – sua luta literal pela sobrevivência e também seu valor histórico, de fato indispensável.
Não há dúvida de que a tecnologia está mudando o modo como todos nós recebemos e entendemos a informação. A tendência é de ‘buscar’ ativamente o que se quer ver, ler ou ouvir, em vez de receber passivamente o que os editores ou produtores selecionam.
O fascínio com o efeito transformador de tudo isso facilita o esquecimento do que é essencial para o processo da informação: os mensageiros tradicionais da ‘velha mídia’, como Politkovskaya. Ou como os dois jornalistas alemães mortos no Afeganistão no mesmo dia. Ou seus 75 colegas mortos neste ano em 21 países e os 58 que morreram em 2005, segundo a Associação Mundial dos Jornais, sediada em Paris.
Alguns dos jornalistas que morreram foram apanhados no fogo cruzado de guerras ferozes; outros foram caçados para que não contassem suas histórias. Neste ano, 26 jornalistas e assistentes de mídia (câmeras, operadores de áudio e outros) morreram no Iraque – como Hadi Anawi Joubouri, repórter e representante do Sindicato dos Jornalistas Iraquiano na Província de Diyala morto a tiros no mês passado numa estrada ao norte de Bagdá.
Mas os jornalistas não estão sendo mortos rotineiramente só no Iraque ou só por terroristas. Repórteres investigativos que expõem políticos corruptos, o crime organizado ou o poder impressionante dos traficantes de pessoas, drogas ou armas são assassinados regularmente.
Neste ano, jornalistas já foram mortos em 21 países. Na República Dominicana, Facundo Labata, que cobria o narcotráfico, foi assassinado quando jogava dominó em Santo Domingo. No Sudão, o corpo decapitado de Mohammed Taha Mohammed Ahmed, editor do jornal sudanês Al Wifaq, foi encontrado na periferia da capital, Cartum. Ele fora julgado no ano passado por republicar um artigo considerado blasfemo. Ogulsapar Muradova, correspondente da Rádio Europa Livre/Rádio Liberdade acusada, entre outras coisas, de manchar a reputação do Turcomenistão, morreu sob custódia naquele país. Seus filhos descreveram marcas em seu pescoço e um ‘grande ferimento’ em sua cabeça.
Como o assassinato de Politkovskaya, esses crimes mostram que é o mensageiro que importa. Os insurgentes, criminosos, terroristas e políticos corruptos sabem muito bem que são os meses ou anos de pesquisa dos repórteres profissionais, muitos deles apoiados por organizações noticiosas tradicionais, que expõem as más ações.
A tecnologia, é claro, expande os modos como a mídia pode prestar um serviço público e às vezes também amplifica o efeito provocado pelos repórteres investigativos profissionais. Perguntem aos londrinos sobre o poder político das fotos dos atentados a bomba no metrô e num ônibus tiradas com telefones celulares e enviadas ao site de compartilhamento de imagens Flickr. Ou perguntem aos moradores de New Orleans sobre o poder dos blogs que cobriram as fracassadas operações de socorro depois do furacão Katrina. Ou ao senador republicano George Allen, da Virgínia, sobre a vida curta dos comentários exibidos no YouTube que muitos consideraram racistas.
É mais difícil reprimir os milhões de cidadãos-jornalistas armados com fotos, vídeos e blogs do que silenciar uma única e incômoda repórter como Politkovskaya. No entanto, suas investigações e o trabalho dos outros profissionais fornecem as provas inequívocas e o conteúdo ‘crível’ – documentos, fontes, detalhes checados obstinadamente – de que precisamos desesperadamente para manter uma sociedade ativa, civilizada, democrática e, em última análise, livre.
O Comitê Nobel, que hoje anuncia o prêmio da Paz, encomendou um relatório sobre a ligação entre a paz e a cobertura noticiosa. ‘A boa cobertura noticiosa pode ser essencial para a paz’, disse Geir Lundestad, o secretário do comitê. ‘A informação exata (…) muitas vezes pode reduzir o conflito.’
O YouTube, o Google, o Flickr e muitos outros websites oferecem ferramentas valiosas para manter o mundo informado. Mas eles não são substitutos para Politkovskaya e seus colegas.
As sociedades são julgadas pelo modo como tratam seus cidadãos mais vulneráveis. Sugerimos que a este cálculo acrescente-se a existência ou não de ameaças, ataques e assassinatos de jornalistas. Diga-nos quantos jornalistas foram assassinados em seu país no ano passado e lhe diremos que tipo de sociedade você tem.
Susan D. Moeller é diretora do Centro Internacional para a Mídia e a Agenda Pública da Universidade de Maryland
Moises Naim é editor-chefe da revista ‘Foreign Policy’’
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O discreto milionário do YouTube
‘Jawed Karim, 27 anos, circula de jeans e camisa pólo. Seu sonho mesmo é ser professor de Stanford
Para Jawed Karim, os US$ 100 mil que ele precisa desembolsar para obter um título de mestre na Universidade de Standford nunca comprometeram seu saldo bancário. Ele deu a sorte grande em 2002 quando a PayPal, uma companhia de pagamento eletrônico à qual ele havia se juntado há pouco tempo, foi comprada pelo eBay, site de leilões eletrônicos na internet.
Na segunda-feira, já adiantado para seus estudos do segundo semestre na universidade, ele teve sorte novamente. Desta vez, tanta sorte como se tivesse acertado numa loteria federal.
Karim é um dos três fundadores do site de vídeos YouTube, que o Google concordou em comprar por US$ 1,6 bilhão. Ele estava presente durante a criação do YouTube, contribuindo com algumas idéias-chaves sobre um site em que os usuários poderiam compartilhar vídeos. Para ele, no entanto, a academia tinha mais atrativos do que transformar aquela idéia em um negócio.
Enquanto seus parceiros Chad Hurley e Steven Chen construíram a companhia e se tornaram celebridades na mídia e internet, ele silenciosamente voltou para a sala de aula, batalhando para conquistar a sua graduação em Ciências da Computação.
Karim, de 27 anos, ficou desconfortável quando o assunto foi para a questão de dinheiro, e ele diz que não sabia o que faria quando a oferta realizada pelo Google fosse completada. Disse apenas que é um dos maiores acionistas individuais da companhia, mas tem uma fatia menor da empresa que seus dois colegas, cujas partes estão estimadas em cerca de US$ 300 milhões cada. Mas o acordo foi tão fabuloso, afirma, que sua parcela mesmo assim ficou grande. ‘O tamanho da oferta para a aquisição torna quase irrelevantes estes detalhes’, diz Karim.
Na quarta-feira, durante uma caminhada pelo campus, numa visita ao seu dormitório e ao edifício de Ciências da Computação onde ele tem aulas, Karim descreveu a si mesmo como um nerd que se anima com os estudos. Nada em seu quarto sugere que ele é algo além de um estudante comum. No campus, ele não chama atenção, usando jeans, uma camisa pólo azul e tênis da Puma.
Karim diz que talvez continue com um pé no empreendedorismo, pois sonha em ter impacto no modo como as pessoas utilizam a internet – algo que ele já fez. A filantropia também pode ter algum apelo, mas o que ele mais quer mesmo é ser professor. Ele diz que espera seguir os passos de outros acadêmicos de Stanford, que ficaram ricos no Vale do Silício e depois retornaram. ‘Existem alguns bilionários neste prédio’, diz. Mas seu caminho não está ainda totalmente planejado. ‘Se eu ver uma outra oportunidade como o YouTube, eu sempre poderei fazer parte.’
David Dill, professor de Stanford, acha a escolha de Karim fora do comum. ‘Estou impressionado que, mesmo com o sucesso nos negócios, ele tenha decidido seguir um programa de mestrado aqui.’’
TV A CABO
Net compra a Vivax e conquista 75% do mercado de TV a cabo
‘O setor de TV paga continua a consolidar, se preparando para competir frente a frente com as operadoras de telecomunicações. Ontem, a Net, maior empresa de TV a cabo do País, anunciou a compra da Vivax, a segunda maior. Juntas, as duas empresas terão 75% do mercado de TV a cabo e 45% do mercado total de TV paga. A aquisição será feita em duas etapas e precisa da aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
‘Obviamente, a união da Net e da Vivax não muda a concorrência’, afirmou Chris Torto, presidente da Vivax. ‘Depois da fusão da Sky e da DirecTV, a competição será cada vez mais entre tecnologias, entre o satélite e o cabo e, em algumas cidades, com o próprio DTH (TV por microondas).’ Juntas, a Sky e a DirecTV têm um terço do mercado de TV paga. Ou seja, tirando os dois blocos – Sky/DirecTV e Net/Vivax – sobram cerca de 25% dos assinantes para os concorrentes. As Organizações Globo são acionistas das duas empresas. No caso da Sky/DirecTV, com participação minoritária.
A Vivax está presente em 34 cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Amazonas. A Net está em 44. Somente em Santos (SP) existe sobreposição de operações. Segundo fato relevante enviado ontem para a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a Net irá comprar primeiro a participação da Horizon Telecom International (HTI) na Vivax, que somam 9% das ações com direito a voto e 20,4% dos papéis preferenciais, além de 81,82% da Brasil TV a Cabo Participações, que detém 52,6% das ações ordinárias da Vivax. Com o sinal verde da Anatel, a Net comprará o restante da Brasil TV a Cabo.
O pagamento será feito em ações, emitidas pela Net. Com isso, os acionistas da Vivax passarão a ser acionistas da Net, com 28,3% das ações sem direito a voto e 18,9% do capital total. A Globo continuará como controladora, no bloco formado com a Embratel. ‘Futuramente, teremos muita coisa boa para o assinante’, disse Torto. ‘Vamos começar a oferecer os canais Globosat e levaremos o Net Phone para as nossas operações.’ Procurada pelo Estado, a Net preferiu deixar para falar sobre o assunto somente hoje.
Com a convergência de dados, voz e imagem, todas as empresas buscam oferecer pacotes completos para os assinantes. Juntas, a Vivax e a Net terão 638 mil assinantes de internet rápida. Se aprovada, a união acontecerá num momento em que as operadoras de telecomunicações buscam completar com televisão seu pacote de serviços. Semana passada, durante o evento Futurecom, em Florianópolis, a Brasil Telecom anunciou o lançamento do serviço de IPTV, sigla em inglês de televisão via protocolo de internet, tecnologia que permite oferecer vídeo pela rede de telefonia.
A Telefônica fechou um acordo com a Astralsat para incluir TV paga via satélite a sua carteira de produtos, enquanto a Telemar aguarda a avaliação pela Anatel da compra que fez da Way TV, empresa de televisão a cabo de Minas Gerais. ‘Precisamos garantir a competição no mercado de TV paga’, afirmou, semana passada, o presidente da Net, Francisco Valim, durante o evento Futurecom, defendendo que as teles sejam impedidas de entrar nesse mercado. Para ele, as operadoras podem esmagar os atuais jogadores da TV por assinatura.
Por trás da discussão, está a disputa pelo mercado latino-americano de telecomunicações entre a Telmex, do bilionário mexicano Carlos Slim Helú, e a espanhola Telefónica, os dois maiores grupos da região. A Embratel, que está no controle da Net, pertence à Telmex.’
TV DIGITAL
Brasil quer criar fórum internacional de TV digital
‘O Brasil quer criar um fórum internacional para promover o sistema de TV digital que está sendo elaborado com base no modelo japonês e incrementado com inovações desenvolvidas por pesquisadores brasileiros.
O fórum seria uma entidade internacional com assento para todos o países que adotarem o padrão ‘nipo-brasileiro’, com poder de decisão sobre os aperfeiçoamentos técnicos que forem surgindo ao longo dos anos. A proposta foi apresentada nesta semana a uma delegação representantes do governo e da indústria do Japão.
A comitiva japonesa e representantes do governo brasileiro concluíram ontem uma rodada de reuniões de três dias para discutir a implantação da TV digital no País. Este foi o primeiro encontro para debater o tema desde que o governo brasileiro decidiu, em 29 de junho, adotar o sistema japonês. A próxima reunião está prevista para o primeiro semestre de 2007, no Japão. Até lá os grupos de trabalho formados nesta semana continuarão atuando.
‘Como pretendemos que esse sistema seja adotado em outros países, a idéia é criar um fórum que harmonize as inovações e os requisitos de todos os lados’, disse o diretor de Tecnologia do SBT, Roberto Franco, um dos representantes dos radiodifusores no encontro.
A intenção é dar um novo nome ao Sistema Brasileiro de TV Digital para que tenha um caráter internacional. Está sendo preparado para novembro um road show por países da América do Sul para apresentar esse modelo.’
PAMUK NOBEL
Prêmio Nobel para a liberdade de expressão
‘Um prêmio para a liberdade de expressão – assim foi interpretada a escolha da Academia Sueca que ontem anunciou o escritor turco Orhan Pamuk como o vencedor do Prêmio Nobel de literatura deste ano. Ele, que esteve no ano passado na Festa Literária Internacional de Paraty, deverá receber, no dia 10 de dezembro, uma condecoração e o prêmio, avaliado em US$ 1,36 milhão.
Aos 54 anos, Pamuk, que há três vive em Nova York, divide opiniões em seu país desde fevereiro de 2005, quando, em uma entrevista a uma revista suíça, afirmou: ‘Um milhão de armênios e 30 mil curdos foram assassinados nessas terras e ninguém, exceto eu, se atreve a falar sobre o tema.’
A referência ao assassinato massivo de armênios durante o Império Otomano, assim como o conflito curdo no sudeste do país, provocou uma onda de protestos na Turquia, resultando em ameaças de morte e até na tentativa de destruição de seus livros, pedido por um oficial de província, mas logo anulado pelo governo turco. A rapidez se deveu aos cuidados com que a Turquia trata de questões relacionadas aos direitos humanos, uma vez que aspira a pertencer à União Européia (UE).
‘Lamento que a existência de dois pólos culturais, Oriente e Ocidente, tenha sido co-responsável pela morte de muitas pessoas’, disse ele, em Nova York, revelando-se honrado e surpreso com o prêmio. ‘Meu trabalho é a melhor mostra do quão frutífera pode ser a mistura de culturas.’
Traduzido em 34 línguas (no Brasil, a Companhia das Letras editou Meu Nome É Vermelho e lança, nos próximos dias, Neve) e respeitado na Europa, Pamuk ainda desperta uma relação de amor e ódio na Turquia.’
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‘Caráter político’ pode ser um peso
‘O Prêmio Nobel de literatura representa uma mensagem contra os que defendem a existência da teoria do ‘choque das culturas’. Foi assim que o turco Orhan Pamuk agradeceu a escolha em uma conversa por telefone com representantes do Comitê Nobel que foi divulgada em seu site.
Pamuk assegurou se sentir ‘honrado’ com o prêmio, mas afirmou que o fato de ele ser o primeiro turco a receber o Nobel confere ao tema um caráter ‘político’ que ‘poderia se transformar em uma carga adicional’ para ele. O escritor acrescentou que ‘a imagem do Oriente e do Ocidente e seu choque é uma das idéias mais perigosas dos últimos anos’.
Com isso, Pamuk, que anteriormente fora o primeiro autor do mundo muçulmano a condenar a fatwa (sentença de morte aplicada pelo falecido aiatolá Khomeini ao escritor indiano Salman Rushdie, por ‘ofensas’ a Maomé), sentiu-se dividido entre sua dissidência política e seu desejo de ver a Turquia como membro da UE.
Ao denunciar em seus livros o genocídio armênio pelos otomanos (acusação que fizera também em uma entrevista na qual afirmou que Turquia ‘tinha assassinado um milhão de armênios e 30 mil curdos’ em 1915), Pamuk dividiu a sociedade de seu país.
Acusado de ferir o artigo 301 do novo código penal turco, que proíbe ofender a identidade nacional, o escritor foi denunciado por um promotor distrital de Istambul e intimado a comparecer a um julgamento marcado para dezembro passado. Adiado para o mês seguinte, o julgamento novamente não aconteceu, previsto agora para o próximo ano – se condenado, Pamuk pode pegar de seis meses a três anos de prisão.
Enquanto a burocracia se arrastava, instalou-se uma corrente mundial de solidariedade a Pamuk, assinada por diversos autores, seguida da entrega do prestigiado Peace Award da German Publishers and Writers Association (Associação dos Editores e Escritores alemães), durante a Feira de Frankfurt.
A situação assemelhava-se à trama de um de seus mais famosos romances, Meu Nome É Vermelho. A história do livro, proustiana e pouco tolerante com os defensores da tradição islâmica, se passa na Istambul do século 16. Um sultão encomenda um livro para demonstrar a riqueza do Império Otomano. Para provar a superioridade do mundo islâmico, porém, as imagens devem ser feitas com técnicas de perspectiva da Itália renascentista. As intenções secretas do sultão logo dão margem a especulações, desencadeando uma onda de intrigas, fortalecida pelo assassinato de um dos artistas que trabalhava no livro.
Ao adotar o século 16 como época de sua parábola, Pamuk mostra os benefícios e riscos do multiculturalismo, reprimido com as perseguições do poder cristão aos muçulmanos e judeus na Espanha – expulsos, mortos ou convertidos à força pelos católicos, de 1321 em diante.
Escritor refinado (é comparado com freqüência a Calvino e Borges), filho da classe dominante que trocou a arquitetura pela literatura, Pamuk garantiu que vai a Estocolmo, na Suécia, no dia 10 de dezembro, receber o prêmio. Com isso, o vencedor de literatura volta a estar presente na cerimônia, depois das ausências de Harold Pinter (no ano passado) e Elfriede Jelinek (2004).’
TELEVISÃO
O duelo da MTV versus PlayTV
‘A considerar o target que interessa à MTV – classe A/B, de 15 a 29 anos – a emissora tem respirado com folga em relação à concorrência prometida pela Play TV, novo nome do Canal 21, do Grupo Bandeirantes. A Play TV é produzida pela Game Corp, empresa que conta com Fábio Lula, filho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre os sócios, e com o know-how de André Waisman, ex-diretor da MTV.
Em números de telespectadores atingidos por minuto, a MTV fechou o mês de setembro com média de 11.819 na programação de segunda a sábado, entre 17 horas e 22h30. Na Play TV, esse número foi de 2.121.
Na segunda quinzena de agosto, essa mesma referência de público e horário rendeu um placar de 11.282 à MTV, contra 2.424 para a Play TV. E, na primeira quinzena de agosto, a comparação de segunda a sábado, das 18 horas às 22h30, retratou média de 16.654 a 2.424 a favor do canal da Abril. Os números são do Ibope/Telereport da Grande São Paulo com projeção nacional, a considerar a cobertura de cada canal.
BRIGA ANTIGA
Em junho passado, a Play TV e a MTV duelaram pelos números nesta mesma coluna do Estado. O canal do Grupo Bandeirantes argumentava que havia vencido a MTV por 232 dias, entre agosto de 2005 e abril de 2006.
Como tratavam-se de números absolutos, a MTV rebateu que o parâmetro não valia, visto que estamos falando aqui de canais segmentados para a platéia jovem. ‘Não faço programa para a minha avó nem para a minha mãe’, respondeu, na época, o presidente da MTV, André Mantovani. E, na faixa dos 15 aos 29 anos, classe AB, informava Mantovani, a MTV havia batido a concorrência no período reivindicado pela Play TV.’
Etienne Jacintho
House e Heroes só no ano que vem
‘O Universal Channel anuncia a aquisição da terceira temporada de House. A série protagonizada por Hugh Laurie vai entrar na programação do canal apenas no ano que vem. Nos Estados Unidos, a estréia rendeu mais de 19 milhões de espectadores, no dia 5 de setembro. Outra série com entrada garantida em 2007 no canal da Globosat é Heroes, dos produtores de Crossing Jordan e House, que conquistou a audiência americana com a história de pessoas comuns com habilidades especiais. Já a 17.ª temporada de Law & Order estréia no Universal este ano, no dia 27 de novembro.’
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