No Brasil, uma das (várias) ervas daninhas do jornalismo é a cultura da mediocridade que parece acentuar-se cada vez mais nas redações. Um corporativismo não-sadio que gera uma situação deprimente para quem atualmente cursa Jornalismo na universidade ou para os recém-formados que não encontram emprego. Jornalistas que não querem se aprimorar como profissionais, que só fazem o feijão-com-arroz, ocupam o lugar de tantas outras pessoas que poderiam fazer um trabalho melhor e, com isso, aquecer toda uma cadeia de produção jornalística: incentivando colegas, conquistando mais leitores, vendendo mais jornal e deixando o dono mais rico. Não é o que eles querem, afinal?
É um consenso mundial de que não existe desenvolvimento sem educação. De igual modo, é impossível esperar jornalismo de qualidade sem jornalistas de qualidade – não necessariamente bem preparados por natureza, mas dispostos a tal. Contudo, assim como a história do Brasil sempre deixou de lado a educação, a história do jornalismo brasileiro parece seguir o mesmo caminho e, diante de “atuais conjunturas econômicas e de mercado”, esquece a qualidade do material que apresenta aos leitores – e depois reclama pomposamente, nos congressos internacionais, que a internet está roubando o público de jornal.
A situação atual em várias redações do Brasil é que a qualidade tem deixado de ser critério há bastante tempo. Por uma questão financeira, bons jornalistas da velha guarda são demitidos para dar lugar a jovens repórteres, geralmente sem um pingo de bagagem cultural, com ideologias universitárias abstratas e inócuas, e oriundos de uma classe média-alta sem reais valores sociais. Há exceções, talvez várias exceções entre esses jovens repórteres, que se transformam em excelentes profissionais e, justamente por isso, são despedidos do mesmo jeito. Afinal, podem colocar em risco o cargo de um editor medíocre que, por amizade ou seja lá o motivo que for, esquenta a cadeira e se acha o máximo.
Idéias multiplicadas
Ninguém nasce bom no que faz e ninguém é obrigado a ser bom no que faz. Mas, aqueles que não querem melhorar e continuar aprendendo, baixando a bola e deixando um pouco o ego de lado, deveriam dar lugar a quem quer. O problema é que ninguém quer sair do pedestal. No entanto, poucos editores e chefes de reportagem parecem se dar conta de que uma redação-geladeira de mediocridades coloca em xeque, justamente, a credibilidade (e competência) dos próprios editores frente aos colegas e ao público-leitor.
É cena comum encontrar editores que reclamam da baixa qualidade dos estagiários e dos recém-contratados. É um fato. Ocorre que um determinado fato não anula outros fatos. E outro fato é que há milhares de estudantes dedicados, empenhados e dispostos a aprender e a melhorar, mas que não têm oportunidade, simplesmente, pela falta de boa vontade de um punhado de editores com medo de repassar conhecimento e experiência. Hoje em dia, tornou-se difícil encontrar jovens repórteres que consigam fazer até o feijão-com-arroz numa matéria, então, quando um jornalista medíocre faz apenas o feijão-com-arroz dentro do deadline, é quase abençoado.
Sou metódico em poucas coisas na vida. Uma delas é a profissão, pelo simples fato de que lá fora há milhares de pessoas que dependem da qualidade do seu trabalho para formar uma opinião. Com opinião formada, as pessoas multiplicam idéias. Não importa se você concorda com uma determinada opinião ou não, se você considera uma determinada idéia boa ou ruim. É direito de cada um. Acontece que uma opinião baseada em argumentos medíocres multiplica idéias medíocres e forma leitores ainda mais medíocres. É por isso que, a cada ano, tenho a impressão de que me torno ainda mais ranzinza com jornalismos medíocres.
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Jornalista (www.rebelo.org)