O editor do Consultor Jurídico em Brasília, Rodrigo Aidar, falou nesta sexta-feira (3/8) sobre a cobertura jornalística do primeiro dia do julgamento do mensalão.
Rodrigo Haidar − Eu acho que a imprensa fez a cobertura possível diante dos debates de ontem, retratou bem o que aconteceu, porque ontem, a despeito da questão técnica que foi julgada, o que se viu foi um clima muito tenso, e os ministros gastando um dia inteiro de sessão para julgar uma questão de ordem. A cobertura da imprensa, é claro, foi puxada por isso, e como não houve mais debates técnicos, a não ser a leitura do relatório depois, eu acho que a imprensa fez a cobertura possível desse primeiro dia, dia bastante tenso, com os ministros todos armados, e isso foi bem retratado pelos jornais, e prestes a explodir a qualquer momento. O julgamento começou com um debate acalorado e um ministro acusando o outro colega de deslealdade. Eu acho que a imprensa retratou bem o que aconteceu ontem na sessão do Supremo.
O.I. − Você acha que vai haver uma certa teatralização por parte dos próprios juízes?
Haidar − Eu acho. Eu acho que o próprio Supremo está fazendo com que a imprensa cubra esse julgamento como um espetáculo, porque o Supremo criou o clima de espetáculo em torno desse julgamento, a partir de pequenas coisas e grandes, desde as credenciais especiais para poder entrar no plenário, dos advogados, da imprensa, de tudo, até os grandes debates que estão se dando no Supremo e o nervosismo deles.
Eu acho que esse clima de teatro está sendo criado pelo próprio STF, e ao manter esse processo com 38 réus no Supremo − isso que já foi decidido, e foi debatido ontem de novo −, o Supremo atrai para si esse clima de teatro que está dando o tom do julgamento, pelo menos até agora. Vamos ver se quando começarem as defesas, hoje é acusação, depois [começam] as defesas, vamos ver se esse clima de teatro fica mais ameno.
Sai Brito, entram Barbosa e Lewandowski
O.I. − O que eu pergunto a você, é uma preocupação que não aparece nos jornais, mas como é que vai ser a sucessão do ministro Ayres Brito?
Haidar − Eu acho que sucessão vai ser muito pesada, porque em novembro toma posse na presidência do STF o ministro Joaquim Barbosa, e o seu vice é ninguém menos do que o ministro Ricardo Lewandowski, e todo mundo sabe que o ministro Joaquim Barbosa tem alguns problemas de saúde sérios, e se ausenta às vezes do STF por conta deles, então vai ter mais rodízio do que é feito comumente entre o presidente e o vice no comando da corte. Eu não sei se essas feridas vão ter cicatrizado até essa troca de comando.
O.I. − Ainda mais em se considerando que, como você me disse numa conversa anterior, o julgamento talvez não termine nos prazos imaginados.
Haidar − Não, não, aquela previsão que se fez quando eles montaram esse cronograma, de que poderia terminar em agosto, é uma previsão muito ingênua, de alguns dos próprios ministros. Como se viu ontem, em uma questão de ordem eles levaram a tarde discutindo. Quando começarem os votos com os 33 advogados querendo esclarecer questões de fato na tribuna, é impossível que esse julgamento termine antes do meio de setembro, e isso numa previsão muito, muito otimista. Eu acho que ele vai até as eleições.
O.I. – E, portanto, logo depois há essa troca de presidentes.
Haidar − E como se viu ontem, o primeiro embate entre o ministro Joaquim Barbosa e o ministro Lewandowski, se viu que vai ter um ponto e contraponto que deve se estender por todo esse julgamento. Quando ele acabar, na minha estimativa ali para final de setembro, outubro, um mês depois se troca a presidência do STF, e aí vai ficar um clima meio ruim na Suprema Corte, eu acredito.
Demorar muito é bom para os réus?
OI − Uma questão que precisará ser agora trabalhada pela imprensa consiste em tentar avaliar se o prolongamento do processo favorece ou não réus que são candidatos, ou continuam na vida política, e seus respectivos partidos. Se pode atrapalhar em alguma medida o trabalho do governo. Mas, ao mesmo tempo, a mídia e seu público, em graus variáveis de aprofundamento e sofisticação, poderão se ver diante de um debate muito rico que envolve questões constitucionais, institucionais e políticas. Entre elas, o financiamento das campanhas eleitorais, que é um dos grandes atrativos para corruptos e candidatos a corruptos.