Surpresas de campanha
As pesquisas eleitorais que se seguiram ao início da campanha na televisão parecem estar desmentindo a maioria das previsões feitas por analistas políticos na imprensa paulista.
Um dos fatos mais surpreendentes foi a queda das intenções de voto no candidato do PSDB, José Serra, que perdeu a liderança inicial, e a aparente solidez das apostas no candidato do pouco expressivo PRP, Celso Russomano.
Quando à ascensão do candidato petista, Fernando Haddad, os jornais esperavam que acontecesse de alguma forma, por conta da estreia do ex-presidente Lula da Silva no papel de garoto-propaganda.
Segundo as projeções feitas nas semanas anteriores ao início do horário eleitoral obrigatório na TV e no rádio, Serra e Haddad deveriam crescer de maneira equilibrada, pelo fato de terem direito a maior tempo de exibição, enquanto Russomano despencaria, justamente pela razão oposta.
Outro aspecto que foi levantado referia-se ao fato de Russomano optar por um discurso populista e menos denso, que, no longo prazo, tende a se esgotar na medida em que são expostos os problemas complexos que o futuro prefeito deverá enfrentar.
No entanto, o que houve foi a queda brusca de Serra, que já é considerada por alguns analistas como uma tendência perigosa e difícil de reverter, enquanto Haddad ascendia fortemente e Russomano mantinha o viés de crescimento.
Projeções e futurologia são sempre um exercício arriscado de reflexão, porque seu objeto é aquilo que ainda não aconteceu.
Ademais, existe neste ano eleitoral um elemento novo que não parece estar sendo considerado pelos observadores.
A chamada nova classe média, onde despontam jovens que representam a primeira geração de suas famílias a ingressar numa universidade, produz uma mudança no processo de escolha de grandes grupos de eleitores, que tendem a votar em bloco em função de seus vínculos familiares e comunitários.
Muitos desses jovens substituem prematuramente os pais no papel de conduzir as escolhas das famílias, pelo fato de serem mais “escolados”.
Esse novo elemento faz com que os candidatos tenham que construir discursos apropriados para esses novos líderes familiares e comunitários, cujo comportamento ainda é pouco conhecido.
O valor do consumo
Por outro lado, a persistência, até aqui, de Russomano na liderança pode ser explicada por outra característica dessa mesma classe ascendente: sua consolidação como estrato social se faz pela via do consumo, ou seja, trata-se de um grande contingente de eleitores cuja consciência de cidadania se concretiza pela recentemente adquirida capacidade de possuir bens e usufruir de serviços antes vedados aos mais pobres.
O discurso do candidato, que se apresenta como defensor dos direitos do consumidor, ativa justamente esse núcleo de valor simbólico, o que dá a ele uma consistência não percebida quando a análise se limita ao aspecto político de sua mensagem.
A análise política tradicional, principalmente aquela fundamentada na teoria crítica, despreza o consumo como elemento formador de consciência social.
No entanto, o fenômeno da mobilidade social, recente no Brasil, ainda reflete a capacidade de aquisição como alavanca de ascensão e signo de reconhecimento do novo status.
O outro elemento de valor é o ingresso no ensino superior.
Ter um filho ou filha na universidade é sinal de consolidação desse movimento para cima e para dentro da sociedade.
Enquanto conseguir sensibilizar um grande contingente de eleitores com o discurso da defesa do consumidor, Russomano estará se habilitando a manter os altos índices de preferência.
Seu maior adversário é ele mesmo, ou seja, o limite de sua capacidade de responder aos questionamentos mais complexos, quando começarem os debates.
Essa nova etapa começa justamente nesta segunda-feira, às 22h30, com o primeiro confronto, organizado pela Folha de S. Paulo e a RedeTV!
O mais provável é que Serra procure atacar o líder das pesquisas e que Haddad prefira evitar confrontos diretos, de olho no que sobrar do eleitorado de Russomano se ele não tiver um desempenho muito convincente.
Depois disso, será interessante observar como vai se comportar a imprensa, porque na pesquisa que será feita em seguida ficará bastante claro se o candidato do PSDB ainda tem chance de se recuperar ou se, batido por uma queda continuada nas intenções de voto, acabar em terceiro lugar a um mês e meio do primeiro turno.