Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Os números do Brasil

A Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios, que o IBGE realiza continuamente desde 1967, atraiu maior interesse apenas do Estadão, que dedicou ao assunto um caderno especial no último sábado, dia 22, e seguiu analisando alguns dados nos dias seguintes.

Os demais jornais e as revistas semanais de informação ignoraram o tema, com exceção de umas poucas referencias.

No entanto, trata-se de documento essencial até mesmo para o futuro dos negócios, entre eles o das próprias empresas de comunicação.

Uma das informações que mais chamam atenção nas análises econômicas e demográficas referentes ao ano passado, que acabam de ser consolidadas na pesquisa, indica, por exemplo, a necessidade de refinar os estudos sobre o desenvolvimento.

Habituados a pontuar o estado do país apenas por referencias econômicas isoladas, como os dados de produção de riqueza, inflação, oferta de crédito e produção industrial, os jornais têm deixado de observar aspectos que, na consolidação da PNAD, compõem um retrato diferente daquele que costumam apresentar aos leitores no dia-a-dia.

Não foi apenas o Brasil que mudou com o fenômeno da mobilidade social e o crescimento da economia interna: as metodologias para avaliação do desenvolvimento também precisam mudar.

Uma dessas observações, que virou manchete do caderno especial do Estado de S. Paulo no sábado, índica que “economia lenta não freia avanço social; saneamento e educação destoam”.

Para quem vive lendo nos jornais e revistas reportagens e artigos sobre o baixo crescimento do Produto Interno Bruto há dois anos, pode ser uma surpresa descobrir que a sociedade brasileira continua melhorando nos níveis de trabalho, renda e desigualdade social.

Além disso, a continuação da tendência de redução nos movimentos migratórios entre as regiões brasileiras mostra que a situação melhora nos estados mais pobres, diminuindo a necessidade de os trabalhadores do Norte e Nordeste deixarem suas famílias para tentar a sorte no Sul-Sudeste.

São Paulo já não atrai migrantes também por outras razões: em uma década, a situação da cidade piorou em muitos aspectos, tornando-se a capital com o menor crescimento entre todas, e problemas crônicos como a falta de moradia, o favelamento, a violência e o custo de vida continuaram estagnados e, em alguns casos, até pioraram nesse período.

A melhoria das oportunidades nos Estados mais pobres faz com que os brasileiros prefiram ficar onde estão, o que também produz novos modelos regionais de desenvolvimento, com grande predominância de pequenos negócios.

Assim, quando se pensa que as pessoas buscam sempre melhores condições de vida, progressivamente a capital paulista vai perdendo seu valor como referencia de desenvolvimento regional.

Alguma coisa acontece

A melhoria das condições na maior parte do país tem deixado os analistas surpresos, considerando-se que, desde a crise financeira de 2008, o Produto Interno Bruto vem caindo, fato que levou a imprensa a cunhar a expressão “pibinho” para criticar a política econômica e contestar os dados oficiais de desenvolvimento.

No entanto, a PNAD revela que a oferta de emprego e a renda média vêm aumentando de maneira consistente, enquanto a taxa de desemprego caia a níveis nunca antes observados: apenas 6,7% dos brasileiros em idade produtiva estão sem trabalho remunerado e a formalização do emprego, com carteira assinada, apresentou um salto de 11,8% entre 2009 e 2011.

O relatório atual mostra a diferença de dois anos porque, como em 2010 foi realizado o censo, a coleta de dados para a Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílio não foi realizada.

Nesse período, o aumento da renda e a queda da desigualdade tiraram da miséria 5,6 milhões de brasileiros, dos quais 2,5 milhões saíram da pobreza extrema, aquele estágio em que os ganhos são insuficientes para uma alimentação adequada.

A proporção de brasileiros pobres em relação ao total da população caiu de 23,9% para 20,6%, ou seja, de 45,9 milhões para 40,3 milhões de pessoas.

Os extremamente pobres eram 16,1 milhões em 2009 e em 2011 passaram a compor um contingente de 13,6 milhões, o que representa uma redução de 8,4% para 6,9% da população em estado de miséria.

Se forem considerados os dados desde 2003, pode-se observar que o Brasil vem combatendo a pobreza com eficiência há quase uma década.

Naquele ano, 39,4% dos brasileiros eram considerados pobres e a miséria absoluta atingia 17,5% da população.

Esses números deveriam fazer a imprensa reconhecer que alguma coisa acontece por aí e não sai nos jornais.