Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

O que faz a primeira-dama?

Está na hora de a mídia brasileira copiar a imprensa americana num item da cobertura de eleições: o destaque que os jornais dão às esposas dos candidatos. Antes de ser eleita senadora, Hillary Clinton sempre teve um grande destaque na mídia americana, mesmo antes do escândalo que envolveu seu marido.

No Brasil, nem os sucessivos escândalos do governo do PT serviram para colocar Dona Marisa na mídia. Durante os quatro anos de mandato de seu marido, ela apareceu raras vezes na imprensa, e sempre por motivos fúteis. A primeira aparição foi na cobertura da posse, graças ao elegante vestido vermelho. Nas vezes seguintes, só mereceu algumas linhas por fazer reformas, nada essenciais, em sua moradia em Brasília: trocou a roupa de cama do palácio, modificou o projeto paisagístico do belo jardim com uma estrela de flores vermelhas e dedicou-se, acima de tudo, a se manter em forma (com direito a personal trainer) e com uma aparência bem cuidada.

Teve também o caso do gabinete que ela ganhou – ou exigiu – no mesmo andar em que despacha o marido presidente – onde, por dever do cargo, deveria fazer o trabalho de coordenação do Fundo Social da Presidência. Se fez e o que fez, a imprensa ainda não contou.

Como se sente?

Talvez seja hora de a imprensa informar ao público quais são os direitos e deveres da primeira-dama. Já que uma parte do orçamento da União é reservado para que a mulher do presidente faça um trabalho, os eleitores têm direito de saber se o dinheiro é bem gasto. Considerando que há chances de Dona Marisa ficar mais quatro anos como primeira-dama, seria interessante saber se ela fez alguma coisa nesse mandato que termina agora, além de mudar a cor do cabelo e detalhes da decoração do Palácio da Alvorada.

Seria bom que alguém a entrevistasse para revelar a sua rotina diária em Brasília e seus planos para uma eventual volta ao apartamento de São Bernardo do Campo.

Seria divertido saber como ela se sentiu sendo recebida por reis, usando roupas com que jamais sonhou em seus tempos de mocinha, recebendo reverências mundo afora.

Se seu marido – o candidato-presidente – faz questão de dizer que ouve muito a opinião dela, o público tem direito de saber o que pensa Dona Marisa.

Como terá se sentido essa mulher que trabalhou tanto para se manter enquanto viúva, ao ver parlamentares – do seu partido e dos partidos aliados – sendo cassados ou processados sob acusação de manipular dinheiro escuso? Como se sente Dona Marisa ao ver o marido correndo o risco de ter que abandonar o cargo tão sonhado? Quais os planos do casal Lula-Marisa para quando deixarem a presidência da República, agora ou daqui a quatro anos?

Voto popular

Seria oportuno fazer o mesmo tipo de reportagem com Dona Lu Alckmin, mostrando o que podemos esperar dela como primeira-dama. Os paulistas já viram perfil dela em Veja, quando tornou-se primeira-dama do estado. Souberam também que a filha do casal trabalha na Daslu e que Dona Lu – “por ingenuidade”, como garantiu o marido – aceitou indevidamente roupas de um costureiro paulista. Na época em que a notícia estourou, ela afirmou que os vestidos tinha sido doados ao Fundo Social do Estado.

Devido ao incidente, o candidato Geraldo Alckmin preferiu manter Dona Lu longe da campanha. Mas, se o ex-governador de São Paulo chegar à presidência da República, isso tudo será outra assunto da mídia.

Podemos ter certeza de que uma dessas duas mulheres vai virar notícia no dia em que seu marido for declarado vencedor. A pergunta é: por que a mídia não se antecipa e começa já a mostrar aos leitores, e eleitores, em quem eles estarão “votando” para primeira-dama. Se isso não desperta interesse nos homens, é certo que as mulheres votantes quererão saber um pouco mais sobre a primeira-dama.

Se ela tem direito a todas as mordomias pagas com o dinheiro dos eleitores, se ela tem um trabalho a fazer, é importante que o leitor conheça melhor essa futura ocupante do Palácio da Alvorada. Isso, é claro, até o dia em que uma mulher chegue ao palácio, e às decisões sobre o país, pelo voto popular. Para ser não a primeira-dama, mas a presidente do Brasil.

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Ligia Martins de Almeida