Tuesday, 26 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Meninos de saia
>>Escolas sem sentido

Meninos de saia

Os jornais do final de semana apresentam um mosaico de assuntos gerais: a comprovação de que o governo americano invade a privacidade de seus cidadãos como defesa contra o terrorismo, pesquisas sobre a popularidade de governantes, casos de nepotismo na política, queda da inflação e conflitos entre indígenas e fazendeiros são alguns dos destaques.

No meio do debate sobre a questão da segurança pública em São Paulo, ainda há espaço para o registro de um recuo na taxa de inflação e o rescaldo das manifestações que resultaram em depredação e confrontos com a polícia na capital paulista. 

Como curiosidade, registre-se o esforço da revista Época em se tornar cada vez menos relevante depois de haver conquistado uma fatia importante do público que andava descontente com Veja, ainda a líder do mercado.

Nesta semana, o tema principal da revista da Editora Globo é o papel da crença religiosa no combate à depressão.

A reportagem tem como base conhecidos estudos sobre o efeito psicológico da fé, e sua principal atração é um depoimento do padre pop star Marcelo Rossi.

Pode ser um caminho para o sucesso. Afinal, o tema da autoajuda tem produzido grandes safras de best sellers e não exige complicadas racionalizações. 

As edições desta segunda-feira (10/06) seguem no mesmo ritmo, com mais explicações de pesquisas de opinião sobre governantes, a comemoração de uma vitória da seleção brasileira sobre a França e um registro interessante sobre uma das causas da violência em São Paulo: as delegacias da capital paulista só prendem 3 de cada centena de autores de crimes graves.

Dos 55,3 mil crimes violentos cometidos em São Paulo nos quatro primeiros meses deste ano, incluídos os casos de homicídio, estupro e roubos, só foram identificados e presos 1,7 mil delinquentes como resultado de investigação policial. 

Mas uma página que chama atenção nos jornais é a seção de Educação publicada pelo Estado na segunda-feira.

A reportagem principal trata de uma polêmica produzida no tradicional Colégio Bandeirantes porque dois alunos resolveram comparecer à aula vestindo saia.

Logo abaixo, outra reportagem, em espaço muito menor, fala sobre a evasão de alunos do ensino médio nas escolas públicas. 

Escolas sem sentido

Na longa reportagem sobre a punição imposta pela diretoria do colégio particular aos dois alunos que quebraram a regra do vestuário, com direito a opinião de médico e sexólogo, anuncia-se para esta segunda-feira uma manifestação mais ampla, com muitos estudantes e até ex-alunos do Bandeirantes vestindo roupas não convencionais.

Tudo começou como uma brincadeira, quando uma estudante propôs a um colega trocarem de papel na festa junina. Ao se apresentar à aula com uma saia sobre a calça e um lenço na cabeça, o aluno foi ofendido por um professor.

Com a repercussão do caso, outro aluno resolveu aparecer no dia seguinte vestindo saia, e foi suspenso. 

No rodapé da mesma página, o Estado apresenta uma pesquisa inédita da Fundação Víctor Civita na qual se constata que 1,7 milhão de jovens entre 15 e 17 anos estão abandonando os estudos porque não veem sentido em frequentar a escola.

O trabalho se refere, é claro, às escolas públicas e a jovens oriundos de áreas pobres.

Segundo a pesquisa, os estudantes dizem que as disciplinas não fazem sentido, os professores faltam muito e o projeto pedagógico ignora a tecnologia digital. 

Interessante observar que mais de 80% dos jovens pobres declaram utilizar a internet para estudar, mas menos de 50% das escolas oferecem acesso à rede.

Os professores, que usam apenas apostilas e quadro negro, são considerados ruins porque não conseguem compartilhar o interesse dos estudantes pelo conhecimento disponível na web.

A reportagem cita o caso de uma professora que queria passar um desenho para a classe mas não sabia como. Os alunos sugeriram que ela usasse o Facebook, mas ela não sabia o que era. 

Um  texto no rodapé é pouco para apresentar a complexa questão da educação em tempos de ruptura tecnológica, e alguns diriam que, entre as duas pautas, a situação da escola pública seria muito mais importante que o desejo de estudantes ricos de usar saia durante a aula.

Mas jornais são feitos para as famílias dos alunos de escolas como o Bandeirantes, não para os jovens pobres da periferia.

De qualquer maneira, mesmo indiretamente, o jornal está mostrando, com suas escolhas, que o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer até reduzir as diferenças sociais.