ELEIÇÕES 2006
Editorial
A herança maldita de Lula
“Os primeiros efeitos além da esfera política da crise do falso dossiê contra o candidato tucano ao governo de São Paulo, José Serra, começaram a se manifestar no comportamento dos mercados financeiros, traduzindo uma mudança de expectativas dos agentes econômicos, movidos agora pelo pessimismo. É a primeira vez que isso acontece desde o início da infindável série de crises inaugurada pelo Waldomirogate. O que os inquieta não são os desdobramentos imediatos do novo escândalo nesta reta final da disputa pelo Planalto. São as perspectivas de que o chumbo trocado entre governo e oposição a partir da descoberta de mais essa proeza da ‘sofisticada organização criminosa’ que, na definição do procurador-geral da República, se instalou no governo, reduza dramaticamente as chances de as contas públicas serem resgatadas, a partir de 2007, da herança maldita do primeiro mandato do presidente Lula, sobretudo se ele for o seu próprio sucessor, como até agora parece provável.
O cenário de estreitamento das oportunidades políticas para um entendimento destinado a fazer o Estado brasileiro caber na economia brasileira – e é desse imenso desafio que se trata, em última análise – era tudo que o País não precisava. Antes da eclosão da nova lambança concebida pela patota do presidente, o quadro era já desalentador, embora escondido pela campanha eleitoral mais omissa de que se tem notícia sobre os problemas estruturais do setor público federal e seus reflexos sobre os investimentos e a atividade produtiva. De um lado, com a ficção martelada sem cessar por Lula sobre a condição celestial a que teriam chegado os fundamentos macroeconômicos no seu governo: estando tudo no melhor dos mundos e supostamente dadas as condições para um duradouro ciclo de crescimento vigoroso, nenhuma intervenção de fundo nos parâmetros da gestão do Estado se faria necessária.
Na verdade, não há a menor possibilidade de o ritmo de crescimento da economia brasileira se acelerar antes das reformas estruturais drásticas a que nenhum dos principais candidatos teve coragem sequer de se referir. De fato, também o candidato da oposição Geraldo Alckmin calou sobre o que ele, o seu partido e os seus aliados sabem ser imperativo mas impopular: um programa desassombrado de reformas, a começar pela Previdência, a causa primeira das contas que não fecham, sem as quais o naufrágio fiscal do Estado é apenas uma questão de tempo.
Tão sombrio é o quadro que, apesar do expressivo aumento da arrecadação de contribuições, o INSS terminará o ano com um déficit muito superior aos R$ 40 bilhões calculados no início do ano. Mas Lula e Alckmin, com o mesmo medo de desagradar, omitiram completamente o que o eleitor precisaria ouvir, como assinalou ontem neste jornal o economista Rogério Werneck, da PUC-Rio, no artigo apropriadamente intitulado Mundo da fantasia.
A diferença é que o primeiro tem a caneta. Neste ano eleitoral, ele a usou para produzir um apoteótico carnaval de irresponsabilidades: opulento aumento real do salário mínimo, pencas de reajustes a servidores, inchaço da folha de salários do Executivo, ampliação descomedida do Bolsa-Família – uma fatura agregada que tangencia R$ 20 bilhões. Para o ano que vem, a caneta do presidente já escreveu um conto de carochinha: no projeto do Orçamento-Geral da União enviado ao Congresso, antes até, sintomaticamente, da aprovação da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), o Planalto incluiu receitas imaginárias para cobrir os custos suplementares de suas bondades eleitorais e projetou um crescimento irrealista da economia. Essa história está fadada a um final infeliz: a economia continuará emperrada pela carga tributária e, se Lula continuar presidente, a tentação do populismo será quase irresistível.
É essa possibilidade mais do que evidente que fez que tanto o mercado brasileiro – que não se abalou nem quando Palocci deixou o Ministério da Fazenda – quanto os mercados internacionais, nos quais o risco Brasil vinha caindo em ritmo inédito em meio às sucessivas crises políticas, desta vez perdessem a calma.
E o pior é que, sendo a provável vitória de Lula a razão desse comportamento, nem uma vitória de Alckmin restabeleceria imediatamente a confiança perdida.”
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Governo usa tese do golpismo para isolar presidente da crise
“O petista Jorge Lorenzetti, que participou da negociação de entrevista do empresário Luiz Antônio Vedoin à revista IstoÉ, depôs ontem à Polícia Federal e apresentou versão que conflita com declarações de outros acusados e com dados objetivos da investigação.
Os depoimentos dele e de Expedito Veloso, ex-diretor do Banco do Brasil envolvido no caso, isentaram pessoas próximas ao presidente Lula, como Freud Godoy, assessor especial que trabalhava a alguns metros do gabinete presidencial, atuava na campanha da reeleição e foi quem coordenou a ação de intermediários presos com R$ 1,75 milhão em dinheiro. O presidente do PT, Ricardo Berzoini, afastado da campanha de Lula, também foi poupado por Lorenzetti – mas a PF quer ouvi-lo, por considerar que pode ajudar a elucidar o caso.
Em sintonia, ministros de Lula deram declarações minimizando a importância do dossiê Vedoin e da negociação da entrevista. Tarso Genro falou em golpismo e culpou a imprensa, a oposição e as ‘elites’ pela crise. O presidente seguiu em linha semelhante. ‘É preciso ficar de olho, porque tem gente neste país que ainda não aprendeu a viver na democracia’, disse Lula, em encontro com prefeitos. ‘Estão ansiosos para ver se existem outros meios, que não da relação democrática da eleição, para evitar que as pessoas dirijam este país’.
O delegado Edmilson Pereira Bruno, que prendeu os intermediários com o dinheiro, disse ter ouvido de Gedimar Passos e Valdebran Padilha que estavam negociando com Vedoin um dossiê mais amplo do que o material apreendido. Seriam mais de 2 mil páginas, com informações que comprometeriam o próprio PT e outros partidos com a venda de ambulâncias superfaturadas.
A PF abriu novas frentes de investigação. Os agentes apuram se os dólares destinados a Vedoin chegaram ao País em um jatinho. Também trabalham com a possibilidade de Expedito Veloso ter usado seu cargo no BB para violar o sigilo bancário de Abel Pereira, dando munição a Vedoin para apresentá-lo como intermediário de um esquema que envolveria o ex-ministro Barjas Negri.”
Vannildo Mendes, Lígia Formenti
Chefe da ‘Abin do PT’ admite que negociou dossiê
“Em depoimento na Superintendência da Polícia Federal, em Brasília, o petista Jorge Lorenzetti, ex-chefe do serviço de inteligência da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, assumiu a responsabilidade pela operação destinada a comprar e divulgar um dossiê contra os tucanos montado pelos empresários Luiz Antônio e Darci Vedoin, donos da Planam e chefes da máfia dos sanguessugas. Lorenzetti isentou o presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), que se afastou da coordenação da campanha por causa do escândalo produzido pelo episódio, mas disse que os dois emissários que enviou a Cuiabá para encontros com Luiz Antônio tiveram as passagens pagas pelo PT.
Os emissários são os também petistas Expedito Veloso e Gedimar Passos, que fizeram três reuniões com o empresário. Churrasqueiro preferido de Lula e ligado ao ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu, Lorenzetti negou que nesses encontro tenha negociado dinheiro em troca do dossiê.
Ele disse que os encontros ocorreram por orientação do coordenador de comunicação da campanha de Aloizio Mercadante ao governo paulista, Hamilton Lacerda, afastado por conta desse episódio. Lorenzetti disse à PF que, antes de estabelecer contato com os petistas, os Vedoin tinham sido procurados pelo empresário Abel Pereira, supostamente interessado em comprar o dossiê que acabaria encomendado pelo PT. Abel Pereira é apontado pelos Vedoin como intermediário da liberação de verbas para a compra de ambulâncias nos tempos em que o Ministério da Saúde era comandado por Barjas Negri – braço direito de José Serra na pasta e depois seu sucessor quando saiu para disputar a eleição presidencial de 2002 .
Nervoso após mais de três horas de depoimento, Lorenzetti não quis falar com a imprensa. O advogado Aldo de Campos Costa, que o acompanhou no depoimento, disse que o objetivo das viagens dos emissários foi verificar a autenticidade do dossiê e a importância do material para a campanha de Mercadante. Ainda segundo o advogado, Lorenzetti contou tudo o que sabia sobre o episódio e não foi indiciado porque, segundo garante, ele não cometeu nenhum crime.
EXPEDITO
O ex-diretor de gestão e risco do Banco do Brasil Expedito Veloso, confirmou em seu depoimento à PF que se reuniu duas vezes com os Vedoin para tratar do dossiê. Também confirmou que acompanhou a entrevista dos donos da Planam à revista Isto É, na qual tentaram relacionar Serra à máfia dos sanguessugas.
Demitido do cargo por seu envolvimento no escândalo, Expedito repetiu o argumento de Lorenzetti e disse que suas idas a Cuiabá foram para conferir a autenticidade do dossiê . ‘Fui lá exercer uma função técnica’, disse ele à saída. O depoimento durou seis horas e, para a PF, foi improdutivo porque pareceu se encaixar numa estratégia do PT para evitar imputações criminais contra os envolvidos.
Expedito confirmou que, no material que compõe o dossiê, havia depósitos, cujo montante não soube precisar, em contas de pessoas indicadas por Abel Pereira durante a gestão de Serra na Saúde. Até a 0h15 de hoje, o ex-chefe de gabinete do Ministério do Trabalho Oswaldo Bargas, acusado de oferecer o dossiê à revista Época e depois de participar da negociação com a IstoÉ, continuava depondo.”
Paulo Baraldi
Dossiê era contra todos os partidos, inclusive o PT
“O dossiê que seria vendido com supostas denúncias contra candidatos tucanos tem cerca de 2 mil páginas e inclui informações que envolvem partidos políticos de ‘A a Z’, incluindo o PT, afirmou ontem o delegado da Polícia Federal em São Paulo Edmilson Pereira Bruno. Segundo ele, os R$ 750 mil encontrados com o petista e ex-agente da PF Gedimar Passos seriam para pagar o documento. Nos papéis, disse Bruno, havia informações de ‘todos os partidos, inclusive do PT’, conforme Gedimar esclareceu quando interrogado, na sexta-feira da semana passada.
De acordo com o delegado, o material apreendido com fotos dos candidatos tucanos José Serra e Geraldo Alckmin em cerimônias de entrega de ambulâncias que teriam sido negociadas pela máfia dos sanguessugas era apenas ‘uma isca’ de todo o material. O R$ 1 milhão apreendido com Valdebran Padilha, empresário e amigo da família Vedoin, era um sinal para conseguir todo o material, da família Vedoin.
Valdebran e Gedimar foram presos no Hotel Ibis, em São Paulo, com R$ 1,75 milhão. O material deveria custar R$ 2 milhões, mas, segundo Gedimar, o PT não havia conseguido a quantia.
‘O PT estava interessado não era nas fotos e nas fitas, já de domínio público. Existia um dossiê que não falava só da operação sanguessuga, mas outras coisas que envolviam todos os partidos, inclusive o próprio PT’, explicou Bruno, na superintendência da PF em São Paulo, ontem à tarde.
Segundo o delegado, o PT comprava informação contra o próprio partido e em nenhum momento Gedimar falou em PSDB. ‘Era um pacote de denúncias’, disse. Contou ainda que toda a negociação teve início quando Luiz Antônio Vedoin e seu pai, Darci, estavam presos na Polinter em Cuiabá. A PF ainda investiga onde estão as 2 mil páginas, desaparecidas depois da operação. Bruno disse que Valdebran estava em São Paulo ‘só para concretizar o negócio’.
Valdebran chegou a pensar em desistir, mas o ex-analista de risco e mídia da campanha do presidente Lula, Jorge Lorenzetti, que se disse chefe de Gedimar, pediu-lhe paciência. ‘Ele disse: ‘Eu ia receber o dinheiro do Gedimar, ligar para o Luiz (Vedoin) e falar ok, o dinheiro existe’, afirmou Bruno.
Na madrugada de sexta-feira, por volta das 3h30, os policiais chegaram nas proximidades do hotel e só entraram em ação às 6 horas. Foi quando Valdebran entregou Gedimar, no quarto ao lado. Durante as diligências, Bruno afirmou que o empresário recebeu ligações de Vedoin para saber se estava tudo certo. Sem saber da presença da PF, Valdebran disse que sim. Em depoimento, Valdebran recebeu quatro ligações de Vedoin. Para Bruno, Gedimar ‘é a pessoa-chave’ do caso.”
Lisandra Paraguassú, Tânia Monteiro
Tarso ataca imprensa, oposição e as ‘elites’
“Em um discurso de menos de dez minutos, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, conseguiu atacar a imprensa, a oposição e as ‘elites’ e culpá-las pela crise que o PT e a campanha à reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva estão atravessando. No papel de petista fervoroso, Tarso acusou a todos de manipular resultados e fraudar informações, ao falar em um encontro de Lula com uma frente de prefeitos que o apóiam, ontem, no Hotel Nacional em Brasília.
‘A veia democrática do povo brasileiro não permitirá que o resultado das urnas seja fraudado pela manipulação da informação, pela manipulação eleitoral e pela forma absolutamente arbitrária com que o governo vem sendo atacado’, afirmou o ministro durante um discurso exaltado, para cerca de 500 prefeitos que se reuniram em Brasília para declarar apoio a Lula. ‘Esses prefeitos estão aqui para responder àqueles que, já derrotados nas urnas, querem melar o processo eleitoral, preparando a instabilidade política futura.’
O ministro já começou o discurso com críticas. Afirmou que a ‘manipulação de informações’ no País sempre foi clara e a ‘unilateralidade da divulgação das notícias sempre foi programada’. ‘A agressividade política do conservadorismo, a agressividade política das elites sempre se concentrou nesses momentos, nos grandes momentos da eleição, do progresso histórico e da transformação democrática do nosso país.’
Tarso voltou ao antigo discurso da guerra de classes. Afirmou que sabia que esses momentos pré-eleição seriam os mais difíceis porque ‘os debaixo ousaram levantar suas cabeças’.
A fala de Tarso agradou aos prefeitos, apesar de muitos ali não serem nem mesmo do PT. No fim de seu discurso, que abriu o encontro, os presentes começaram a cantar a tradicional música de campanha de Lula e aplaudiram de pé o ministro.
Tarso Genro defendeu também a elevação em um ponto porcentual do Fundo de Participação dos Municípios da arrecadação tributária federal.”
ITÁLIA
O Estado de S. Paulo
Rede espionou 100 mil na Itália
“Uma rede de escutas clandestinas, que espionou por uma década mais de 100 mil pessoas na Itália – incluindo políticos, empresários, artistas e jogadores de futebol -, foi desmantelada na quarta-feira com a prisão de seus supostos criadores: o ex-responsável pelo sistema de segurança da operadora Telecom Italia Giuliano Tavaroli e o dono de um escritório de investigações particulares de Florença Emanuele Cipriani.
Outras 18 pessoas, entre as quais 11 policiais, também foram presas por envolvimento no caso. Segundo as apurações da polícia italiana, a rede existia desde 1997 e tinha ramificações nos serviços secretos italianos.
Entre as personalidades que foram vítimas da rede de escuta estão os empresários Giuliano e Luciano Benetton, Carlo de Benedetti (Olivetti), Diego della Valle (dono de uma indústria de calçados e do time de futebol Fiorentina), o jogador Christian Vieiri (Atalanta) e a eurodeputada Alessandra Mussolini, neta de Benito Mussolini (1883-1945).
A descoberta da rede aconteceu poucos dias depois da demissão do ex-presidente da Telecom Italia Marco Tronchetti Provera, após uma discussão pública com o Romano Prodi, primeiro-ministro italiano. Prodi acusou Tronchetti de mentir por não ter informado o governo das negociações para a venda da TIM, a divisão de celulares da empresa, com grupos estrangeiros. Prodi também tem acenado com a possibilidade de renacionalizar a divisão de telefonia fixa da Telecom.
Tronchetti Provera não foi submetido a nenhuma investigação sobre o caso das escutas, mas os jornais italianos lembraram ontem que Tavaroli era seu principal assessor na empresa. ‘É possível que um sistema tão sofisticado pudesse nascer e se manter sem que os mais altos executivos da Telecom Italia soubessem?’, perguntava ontem um dos mais conhecidos jornalistas investigativos da Itália, Marco Travaglio.
INSTRUMENTO DE PRESSÃO
Segundo as investigações da Promotoria de Milão, as escutas se destinavam inicialmente a monitorar chamadas de funcionários da Telecom e da Pirelli, da qual Tronchetti Provera era e continua sendo presidente. Com o tempo, a rede se converteu em ‘um instrumento evidente de pressão, intimidação, ameaça e extorsão concentrada nas mãos de um pequeno grupo de pessoas’, segundo definiu a promotoria nas ordens de prisão.
Os investigadores apuram agora se a morte do ex-responsável pelos sistemas de segurança da Telecom, Adamo Bove – que supostamente caiu de um viaduto em Nápoles, em 21 de julho -, está ligada à rede de escutas. Antes de morrer, Bove tinha sido convocado para prestar depoimentos à promotoria napolitana, que já investigava o caso.
Outro envolvido no caso é o ex-número 2 do serviço de inteligência militar italiano Marco Mancini, que forneceu à CIA, a agência de inteligência americana, dados confidenciais que permitiram a captura do líder muçulmano radical Abu Omar, supostamente implicado nos atentados contra trens de Madri, em 11 de março de 2004.”
INTERNET
Robert J. Samuelson
Uma web de exibicionistas
“Podem chamá-la de exibicionet. Acontece que a internet desencadeou o maior surto de exibicionismo em massa da história humana. Nem todo mundo pode ter, como sugeriu Andy Warhol, 15 minutos de fama. Mas todos têm o direito correr atrás de seus 15 minutos, ou 30, 90 ou muito mais. Temos blogs, sites de ‘relacionamento’ (MySpace.com, Facebook), YouTube e todos seus rivais. Tudo nesses sites é um clamor por atenção: olhem para mim, escutem-me, riam comigo – ou de mim.
Já não se trata de um comportamento limitado a alguns. O MySpace tem 56 milhões de ‘membros’ americanos. O Facebook – que começou como um site para estudantes universitários e se expandiu para alunos do colegial e outros – tem 9 milhões. (Para os não-iniciados: o MySpace e o Facebook permitem a seus membros inserir páginas pessoais com fotos e textos.) Cerca de 12 milhões de americanos adultos (8% dos usuários da internet) são blogueiros, estima o Pew Internet & American Life Project. O YouTube – um site onde qualquer um pode postar vídeos domésticos – diz que 100 milhões de vídeos são vistos diariamente.
O exibicionismo é hoje um grande negócio. Em 2005, a News Corp. de Rupert Murdoch comprou o MySpace por anunciados US$ 580 milhões. Todos esses sites visam a ganhar dinheiro, principalmente com anúncios e tarifas. O interessante do ponto de vista cultural e político é que sua popularidade contradiz a crença de que as pessoas receiam que a internet acabe violando seu direito à privacidade. Na realidade, milhões de americanos estão alegremente abrindo mão de seu direito à privacidade – ou, pelo menos, comprometendo-o. Eles estão postando material pessoal e íntimo em locais onde milhares ou milhões podem vê-lo.
As pessoas parecem mais desejar popularidade ou celebridade que temer a perda de privacidade. Parte dessa extroversão não passa de autopromoção vulgar. A internet é uma maneira barata de divulgar idéias e projetos. Qualquer um pode postar um vídeo no YouTube de graça; pode-se abrir um blog grátis (algumas empresas não cobram para ‘hospedar’ um site). Na semana passada foi revelado que uma popular série de vídeos, Lonelygirl15, no YouTube era um script escrito por três aspirantes a cineasta, e não meditações aleatórias de uma adolescente.
Mas a exibicionet é mais que um instrumento de marketing. O mesmo impulso que leva pessoas a expor sua intimidade no Jerry Springer ou participar de reality shows na TV (The Real World na MTV e afins) agora achou onde dar vazão em massa. O público-alvo do MySpace tem de 18 a 34 anos; muitas páginas são orgulhosamente obscenas. O US News & World Report recentemente descreveu o MySpace como ‘um lugar onde todas as mulheres são fáceis (e) os homens, uns beberrões’.
A blogosfera costuma ser vista principalmente como uma arena política. Isso é um mito. Segundo estimativas do Pew, a maioria dos blogueiros (37%) se concentra em ‘minha vida e minhas experiências pessoais’. Política e governo estão num distante segundo lugar (11%), seguidas por entretenimento (7%) e esportes (6%). Mesmo esses números podem exagerar a importância da política. Metade dos blogueiros diz que está mais interessada é em se expressar ‘criativamente.’
Auto-revelação e atitude são o que parece realmente atrair. Heather Armstrong mantém um dos blogs pessoais mais populares (Dooce.com). ‘Nunca tomei uma xícara de café até os 23 anos’, escreve ela. ‘Fiz sexo pré-marital pela primeira vez aos 22 anos, mas, por Deus, esperei mais um ano pelo café.’ Ela começou o seu blog em 2001, foi demitida do emprego de web designer em Los Angeles por escrever um livro sobre trabalho (‘Meu conselho a você é não seja assim tão estúpido’), virou ‘uma bêbada desempregada’, casou-se e mudou para Salt Lake City, onde teve uma filha.
Heather Armstrong é uma escritora graciosa e muitas vezes engraçada. (‘Não sou mais uma mórmon praticante ou alguém que acredita que Rush Limbaugh fala com Deus. Minha família está compreensivelmente desapontada.’) O popular site agora tem tantos anúncios que o marido dela largou o emprego. Postagens recentes incluem uma ode à sua filha de 2 anos, uma história sobre seu cachorro e um link para o livro de sua amiga Maggie, No One Cares What You Had for Lunch: 100 Ideas for Your Blog. Idéia nº 32: romper. Naturalmente, Armstrong nele expõe seus relacionamentos fracassados.
Até certo ponto, os blogs e sites de ‘relacionamento’ representam novas formas de bate-papo eletrônico – extensões do e-mail e da troca instantânea de mensagens. O diferente é a indisfarçável paixão pela autopropaganda. Mas mesmo entre os adeptos há dúvidas ocasionais sobre se isso é vantajoso. O Facebook recentemente anunciou um novo serviço. Seus computadores vasculhariam regularmente as páginas de seus membros e mandariam manchetes sobre as últimas postagens para as páginas dos amigos destes. Choveram protestos. Imagine que sua namorada resolva dar-lhe um chega pra lá. A potencial manchete para seus amigos: Susan deu o fora no George. Inúmeros estudantes consideraram ameaçadoras a implacável bisbilhotice eletrônica e a transmissão automática de mensagens – ‘sorrateiras’, como muitos colocaram. O Facebook mudou o serviço para permitir que seus membros optem por ficar de fora.
A realidade maior é que o exibicionismo de hoje pode durar toda a vida. O que entra na internet geralmente fica na internet. Algo que hoje parece inofensivo, tolo ou meramente impetuoso pode tornar-se ofensivo, estúpido ou imprudente em duas semanas, dois anos ou duas décadas. No entanto, estamos claramente num momento especial. Thoreau observou que ‘a maioria dos homens leva uma vida de tranqüilo desespero’. Graças à tecnologia, isso não é mais necessário. As pessoas agora podem levar uma vida de ruidoso e ostensivo desespero. Ou, pelo menos, podem tentar.
Robert J. Samuelson, economista, é colunista do jornal The Washington Post”
TELEVISÃO
Adriana Chiarini
Telefônica pode lançar TV este ano
“A Telefônica espera lançar ainda no fim deste ano serviços de televisão paga por satélite e pela internet. O diretor de Desenvolvimento de Negócios da empresa, Gilberto Sotto Mayor, explicou que o serviço de televisão por assinatura via satélite da Telefônica no Brasil está integrado ao projeto da companhia na América Latina, que será sediado no Peru, onde o grupo tem a empresa de televisão Cable Mágico.
Além disso, o grupo quer oferecer serviços na internet, como a possibilidade de escolher filmes ou vídeos para download no computador. O executivo disse que o grupo está negociando com vários canais internacionais.
Sotto Mayor informou também que o grupo está negociando individualmente com emissoras abertas de televisão para exibição desses canais nos pacotes que serão oferecidos. Ele não informou, porém, se os canais da TV aberta serão exibidos no novo serviço.
As emissoras de televisão dizem que a legislação de radiodifusão tem uma série de exigências que as operadoras não teriam condições de atender, como a limitação de participação de capital estrangeiro, o que dificultaria a atuação de empresas como a Telefônica.
Sotto Mayor não comentou a lei de radiodifusão. Mas disse que o serviço de IPTV funciona como uma oferta de vídeo pela internet, já existe no Brasil e ainda não foi regulamentado. ‘Não existe nenhuma restrição, nenhuma regra, nenhuma lei, nada que impeça a Telefônica de prestar serviço de TV por satélite no Brasil’, disse. O executivo, que participou, no Rio, do Primeiro Congresso Latino-Americano de Satélites, informou que o grupo já pediu à Anatel uma licença para TV por assinatura.
A decisão da Telefônica de ingressar no mercado de tevê por satélite provocou reação da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), que este mês protocolou na Anatel documento contra a prestação do serviço de televisão por assinatura via satélite. A ABTA alega concorrência predatória.
TV DIGITAL
O cronograma de implantação transmissão digital para a televisão aberta, a chamada TV digital, está atrasado. ‘A designação de canais, que estava prevista para acontecer em agosto, ainda não foi feita’, disse o gerente de desenvolvimento de projetos na área digital da TV Globo, Paulo Henrique Castro, que participou ontem do Congresso de Satélites. Ele não soube explicar os motivos do atraso. Mesmo assim, a expectativa é que a TV digital comece a funcionar na cidade de São Paulo a partir do terceiro trimestre do ano.”
Keila Jimenez
SBT promove ajustes
“Parece brincadeira, mas por incrível que pareça o SBT – emissora conhecida por sua programação inconstante – é uma das únicas emissoras a já terem sua grade de atrações pronta para depois das eleições.
Com o fim do horário eleitoral, na quinta-feira, a rede de Silvio Santos promoverá alguns ajustes. A novela Rebelde passa a ser exibida mais cedo, sai das 22h15 para as 19h15, seu horário antigo e que obtinha audiência maior. O folhetim, que termina em dezembro, será substituto por outro enlatado mexicano juvenil, Código Postal.
Já a novela Cristal irá ao ar meia hora mais tarde, passa das 19h30 para as 20 h, e, quando terminar, será substituída pela mexicana O Mundo das Feras.
Ana Paula Padrão também ganhou horário novo. Logo após as eleições o SBT Brasil passa das 18h50 para as 21 h. SS conseguiu convencer a jornalista a trabalhar até mais tarde. Na faixa das 21h40 entra a reprise de Pássaros Feridos. Sim, outro Chaves do SBT, de tanto que já foi reprisado.
Já em outubro estréiam o reality show de dança Bailando por um Sonho e a segunda temporada de Supernanny.
Exclusiva com Bin Laden
Recuperada de problemas de saúde, Glória Maria deve voltar ao Fantástico em 1.º de outubro. Antes, aparece no Multishow em entrevista a Alex Lerner no Por Trás da Fama de quarta-feira. No papo gravado em sua casa, Glória fala que sonha em entrevistar Bin Laden.
Entre-linhas
No staff da Band há conversas para uma possível terceirização da produção do Saca-Rolha. Enquanto isso não acontece, Mariana Weickert, Lobão e Marcelo Tas seguem contratados da casa com seus contratos em vigência.
O canal Mix TV está ganhando nova identidade visual e uma reformulação em sua grade de atrações. César de Castro é o novo apresentador e hostess do canal. Ele comandará o Espaço A, programa diário sobre novidades tecnológicas, design e estilo de vida.
Terça-feira é dia de debate na Globo. Chico Pinheiro comanda o debate promovido pela rede com os candidatos a governador em São Paulo e Márcio Gomes comanda o debate com os candidatos ao cargo no Rio. Foram convidados para participar os cinco candidatos melhor colocados nas pesquisas. Os debates vão ao ar às 22h30.
Demorou, mas logo South Park sairá em DVD. Os criadores do desenho estão reunindo os 10 melhores episódios da animação para o lançamento. A série está em sua 10.ª temporada nos Estados Unidos.
A Band resolveu ‘esquentar’ a estréia de sua nova novela: Paixões Proibidas. A rede está exibindo um boletim diário (inclusive aos sábados e domingos), sempre após o Jornal da Band, sobre o folhetim.
O Altas Horas de hoje, na Globo, recebe o grupo Skank e a atriz Alinne Moraes.”
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