JN
Leila Cordeiro
A opinião do Jornal Nacional, 20/02/06
‘O que será que está acontecendo com o principal telejornal do país, como é conhecido o Jornal Nacional? Parece que a concorrência desta vez veio para incomodar mesmo. Prova disso é que o JN, que reinou décadas como ícone do noticiário televisivo, mais por hábito do que por conteúdo, está tentando mudar seu estilo formal e engessado. Seu noticiário, trocando os gabinetes de Brasília pelas ruas das cidades brasileiras, espera reconquistar o trono da audiência fortemente ameaçado pela concorrência.
Parece que a criatura voltou-se contra o criador. A fábrica dos melodramas e folhetins televisivos, criada pela ‘meca’ da dramaturgia brasileira, fez escola e ultrapassou os muros do Projac. Com um poder de fogo de tirar o folêgo da turma do Jardim Botânico, a Record já avisou que desta vez é para valer. A criatura está conseguindo abalar um monopólio de décadas. O Big Brother da comunicação começa a sentir os efeitos da sua própria escola, a teledramaturgia.
Com isso, a Globo entrou na dança do ‘estica-e-puxa’ das demais emissoras. A grade de programação global, outrora tão estruturada e conhecida do público, está hoje mais elástica e, por que não dizer, imprevisível. Quem diria que o JN, o intervalo mais caro da TV, iria esticar seus blocos de notícias por tanto tempo para conter o controle remoto dos telespectadores, ávidos por mais uma história urbana, muito parecida, aliás, com aquelas que o criador botou no mercado.
Fiquei sabendo pela Folha que ‘acabou a opinião no Jornal Nacional’. Na verdade, a emissora dos Marinho nunca se preocupou muito com opinião. Ao contrário, sempre evitou programas de debates e entrevistas, a não ser aqueles chatos e cheios de regras entre os candidatos na época das eleições. A Globo sempre teve opinião definida sim, sobre os principais assuntos e personalidades da vida pública, mas nunca precisou usar comentaristas para isso. A opinião é passada de maneira subrepticia, através do conteúdo (ou da falta dele) da informação.
Os comentaristas e o chargista agora afastados, na verdade, estavam lá apenas para tentar quebrar a rigidez do formato. Caruso, Jabor e Martins, todos com trânsito nas rodas da ‘intelligentsia’ carioca no passado, faziam o contraponto com a seriedade estudada dos apresentadores. Posso estar enganada, mas duvido que eles tivessem total autonomia para emitir alguma opinião pessoal que fosse contrária aos interesses da emissora. Mas isso é outro papo.
Agora exilados, em horários alternativos, eles vão continuar a ‘opinar’, mas longe, é claro, do cenário futurista do Jornal Nacional.
(*) Começou como repórter na TV Aratu, em Salvador. Trabalhou depois nas TVs Globo, Manchete, SBT e na CBS Telenotícias Brasil, como repórter e âncora. É também artista plástica e tem dois livros publicados.’
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