CRISE POLÍTICA
Crise política, mentira, democracia
‘Tem várias facetas a crise política que o País está vivendo, gerada pela
conduta de importantes próceres do governo federal e de relevantes figuras da
direção do PT – o partido de sustentação e origem do presidente da República.
Uma das mais significativas para a dinâmica da democracia é o empenho de
governantes e de seus colaboradores, e de muitos parlamentares do PT, em ocultar
ou negar ilegalidades provenientes de espúrio relacionamento do poder público e
do partidário com o dinheiro.
O empenho no ocultar e no negar abrange ‘os ilícitos amplamente conhecidos
sob o epíteto de mensalão’. São estes os termos do relatório do deputado Osmar
Serraglio, da CPMI dos Correios, que adquirem densidade jurídica própria com a
denúncia encaminhada ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da
República, Antonio Fernando Souza. A denúncia qualifica o esquema do mensalão
como uma organização criminosa com três núcleos: o político-partidário, o
publicitário e o financeiro. Os relacionamentos apurados pela CPMI e pelo
procurador-geral da República põem em questão a moralidade da administração
pública e comprometem, na interação Executivo-Legislativo, o livre exercício dos
poderes constitucionais.
Cabe lembrar que idêntica disposição para esconder também se traduz na
insistência em dissimular o uso da máquina do Estado com o objetivo de
constranger, desqualificar e silenciar pessoas. É o caso da ilegal violação do
sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa.
O poder que busca ocultar-se pelo segredo e que oculta escondendo-se atrás da
mentira é um poder que resiste a apresentar-se à luz do sol. Vale-se da
estratégia do não dizer e do dizer falso, que caracteriza regimes autoritários
que agem na sombra, para ferir um dos pressupostos básicos da democracia, que é,
para lembrar Bobbio, o do exercício em público do poder comum. O fundamento do
princípio da publicidade do poder dos governantes é o de dar aos governados
condições de julgá-los. A cidadania deve ser colocada em condições de saber para
se valer de suas prerrogativas democráticas de fiscalização e controle dos seus
representantes.
Kant afirma o imperativo republicano da transparência do poder não apenas
pelas razões políticas acima mencionadas, mas também por uma necessidade moral.
Afirma que a publicidade é um critério de moralidade, pois entende que são
injustas todas as ações relativas aos direitos dos outros homens que não são
suscetíveis de se tornar públicas. As condutas desvendadas pelo jornalismo
investigativo e pelos meios de comunicação, o número dos envolvidos e dos
ilícitos arrolados no relatório do deputado Serraglio e na denúncia do
procurador-geral da República se converteram kantianamente em escândalos
precisamente à medida que se tornaram públicos, ou seja, porque as transgressões
a normas e valores não puderam ser acobertados pelo segredo ou ocultados pela
mentira.
Segredo e mentira não são a mesma coisa, mas podem confluir. O segredo, como
o que é apartado do conhecimento geral, pode ser legítimo e merecer proteção
jurídica. É o caso do direito à intimidade e do sigilo bancário ou telefônico.
São situações em que a confidencialidade é a regra e o direito à informação, a
exceção. Na vida política, no entanto, a disposição de esconder tende a se
avizinhar da impropriedade e freqüentemente deságua na mentira. É o que está
acontecendo em nosso país, pois governantes e seus colaboradores, ao se
prenderem à preservação do segredo de suas transgressões, buscam não revelá-lo –
quando podem, pelo silêncio e, na impossibilidade do silêncio, pela mentira.
A mentira, como uma criação da mente com a intenção de enganar, é uma
condenável transgressão ética. Aristóteles diz, na Ética a Nicômaco, que ‘a
verdade é nobre e merecedora de aplauso e a mentira é vil e repreensível’. A
proibição do falso testemunho é um dos 10 mandamentos. ‘Não espalharás notícias
falsas nem darás a mão ao ímpio para seres testemunha da injustiça’, ordena a
Bíblia no Êxodo (23,1). O Talmude equipara a mentira à pior forma de roubo:
‘Existem sete classes de ladrões e a primeira é a daqueles que roubam a mente
dos seus semelhantes através de palavras mentirosas.’ O padre Antonio Vieira, no
Sermão da Quinta Dominga da Quaresma pregado em 1654 no Brasil, explica: ‘A
verdade é filha legítima da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é seu.
E isto é o que faz e o que diz a verdade, ao contrário da mentira. A mentira ou
vos tira o que tendes ou vos dá o que não tendes; ou vos rouba ou vos condena.’
O Direito Positivo, atento ao valor da preservação da veracidade, impõe pena
à mentira. Sanciona a fraude, a simulação, a calúnia, destrutivas da confiança
na palavra, base do justo relacionamento jurídico entre as pessoas.
Politicamente, uma democracia necessita da extensão igualitária da confiança
recíproca entre os cidadãos. Por isso pressupõe a eliminação, tão completa
quanto possível, da palavra que esconde, simula e engana. O princípio da
prevalência da boa-fé, subjetiva (a disposição de honestidade) e objetiva (os
comportamentos), no Direito e na política, responde a este imperativo.
O governo fere o Direito e a democracia, iludindo a boa-fé dos brasileiros. A
dos seus adeptos e também a dos seus opositores que aceitavam, até a eclosão da
crise política, a postulação da integridade moral afirmada pelo PT na sua
trajetória e tão flagrantemente desmentida no exercício do poder. Sei que os
teóricos da razão de Estado, na tradição que remonta a Maquiavel, justificam a
derrogação da ética da veracidade se ela permite, como se lê em O Príncipe,
‘gran cose’. Não há a hipotética e discutível justa causa de ‘gran cose’ na
situação presente. Há solerte pequenez. Isto é uma vergonha, como diria Boris
Casoy, lamentavelmente afastado da condução do Jornal da Record por indevidas
pressões do governo ao direito à informação da cidadania.
Celso Lafer, professor titular da Faculdade de Direito da USP, foi ministro
das Relações Exteriores no governo Fernando Henrique Cardoso’
TV DIGITAL
Disputa na TV digital não acabou
‘Os japoneses encontraram uma maneira de as emissoras de TV e as operadoras
de telefonia conviverem harmoniosamente no ambiente da convergência. Pelo menos
por enquanto. ‘O serviço One Seg é uma cooperação entre telecomunicações e
radiodifusão’, afirmou na semana passada Kunio Ishikawa, vice-presidente sênior
da NTT DoCoMo, maior operadora celular do Japão.
O One Seg, lançado no começo deste mês no Japão, permite receber de graça o
sinal digital de TV aberta no celular, transmitido pela própria emissora de
televisão. A operadora celular oferece os serviços interativos, que são
cobrados. Dessa forma, os dois modelos de negócio são preservados. O
radiodifusor continua a transmitir seu conteúdo grátis e amplia a audiência, e a
empresa de telecomunicações continua a cobrar pelo conteúdo que ela provê.
Uma comitiva brasileira, com os ministros Celso Amorim (Relações Exteriores),
Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Hélio Costa (Comunicações), visitou o
Japão semana passada. Foi assinado um memorando que delineia os compromissos
assumidos pelo Japão caso seu padrão de TV digital, chamado ISDB, seja adotado.
O presidente Lula deve confirmar a escolha, pois os ministros consideraram um
sucesso a negociação.
Os radiodifusores, que comemoraram o acordo, queriam o sistema japonês por
três motivos principais. Em primeiro lugar, o Japão conseguiu oferecer um
financiamento para a transição ao digital considerado vantajoso por essas
empresas. Os japoneses seguiram a estratégia mais acertada ao convencer primeiro
as emissoras de televisão, antes do governo. Em segundo, viram no ISDB uma
maneira de garantir que receberiam um canal completo, de 6 MHz. Em países da
Europa, os radiodifusores receberam somente metade, pois a tecnologia digital
permite transmitir vários programas simultâneos, com qualidade padrão, em um só
canal. Em terceiro, o sistema japonês foi preparado, desde o começo, para enviar
o sinal para celulares dentro do canal de TV, sem interferência da operadora, o
que ajuda a garantir o modelo atual de negócios.
SEM VOLTA
De qualquer maneira, o desafio das emissoras é grande. Durante a Futurecom,
evento realizado em Florianópolis em outubro de 2005, José Francisco de Araújo
Lima, consultor jurídico da Diretoria de Relações Institucionais das
Organizações Globo, disse: ‘Não estamos no jogo da convergência, porque não
temos canal de retorno.’ Ou seja, para ser realmente interativa, recebendo
informações enviadas pelo usuário, a televisão depende da infra-estrutura de
terceiros.
E essa relação não é simples. O modelo de negócios da TV aberta é vender
audiência ao anunciante, o que não casa bem com o modelo de cobrar do cliente
das operadoras de telefonia. Quando as teles falam que o negócio das redes de TV
é produzir e vender conteúdo, só conseguem deixá-las mais irritadas e temerosas.
O ministro Hélio Costa tinha dito que as transmissões de TV digital
começariam experimentalmente na Copa do Mundo e estreariam de forma comercial no
dia 7 de setembro. Depois, admitiu que o cronograma pode atrasar. Na realidade,
deve ser necessário um período de um ano a um ano e meio para o sistema começar
para valer. As emissoras precisam trocar os equipamentos, os fabricantes
precisam preparar as linhas de produção e, mais complicado, o governo precisa
regulamentar a TV digital, juntamente com o Congresso.
A legislação atual não prevê sua entrada em operação. Nessas discussões, as
emissoras terão que brigar de novo por fatores como a garantia do canal inteiro
e a transmissão de seu sinal, de graça, dentro do canal, sem passar pela
operadora.
O consumidor não precisa se preocupar com a TV digital hoje, se não quiser.
Por um período de 10 a 15 anos o sinal analógico continuará a ser transmitido,
ao mesmo tempo que o digital.’
REVISTA DAS REVISTAS
Em época de eleições, repensar a globalização
‘Enquanto a Itália ainda vive a ressaca da disputadíssima eleição entre
Berlusconi e Prodi, o semanário L’Espresso saca do bolso um curioso artigo
intitulado A Bússola Enlouquecida do Capitalismo Global. Assinado por Giorgio
Bocca, o comentário apóia-se no livro Lo Specchio del Diavolo (O Espelho do
Diabo), de Giorgio Ruffolo, publicado pela Einaudi.
Basicamente, o livro afirma que o tanto o ‘Professore’ Prodi quanto o
midiático Berlusconi não passam de marionetes no grande jogo do capitalismo
global. Quem puxa os fios desse teatro seriam as grandes corporações. Com a
economia global na mão dessa gente, constata o autor, qualquer pretensão à
justiça social não passa de ilusão. A nova ordem relegou a papel secundário
tanto a classe trabalhadora quanto a ‘burguesia produtiva’, que era elogiada
pelo próprio Marx. Hoje, a economia está nas mãos da especulação financeira e
esta não tem pátria ou outro objetivo senão o lucro.
É essa ausência de valores do neocapitalismo que, ‘anarcóide e incontinente’,
segundo Ruffolo, a tudo devasta: política, justiça, esporte, espetáculo. Estaria
na origem profunda da corrupção, ‘o solvente corrosivo da confiança que está na
base de toda a atividade de mercado’. Portanto, segundo Ruffolo, a questão (para
a direita e para a esquerda) não é a alternativa entre mercado ou não mercado,
pois ela não se coloca mais. Ela diz respeito ao ambiente em que este mercado
tem de funcionar. Ruffolo só vê uma saída feliz para o impasse: a possibilidade
de a política retomar o controle sobre a economia. Para quem não vê luz no fim
do túnel, Ruffolo, no final do ensaio, lembra que é a nossa fixação no presente
que nos impede de vê-lo como história – quer dizer, dinâmico e mutável.
Conclusão: ‘Nosso futuro não está já escrito’. Mas Bocca, o autor do artigo,
finaliza com um traço de ceticismo: ‘Será mesmo?’ E conclui dizendo que, com a
idade que tem, o máximo que pode fazer é desejar boa sorte aos filhos e netos.
CALCIO
Na mesma edição da revista, um interessante artigo lembra que a proximidade
da Copa do Mundo tem inspirado cineastas locais a adotarem como tema o ‘calcio’,
o futebol. Assinado por Cesare Balbo, o texto constata que os dois filmes que
estão estreando na Itália – A Due Calci Dal Paradiso e 4-4-2: il Gioco Più Bello
del Mondo – não mostram o lado mais glamouroso do ‘beautiful game’, o belo jogo,
que é como os ingleses definem a sua invenção, agora planetária.
Como faz Ugo Giorgetti com seus dois Boleiros, também os cineastas italianos
buscam personagens que muitas vezes ficam à margem de tudo aquilo que o jogo da
bola proporciona de mais desejável, a fama, o dinheiro, as conquistas. Em A Due
Calci dal Paradiso (A dois chutes do Paraíso), o diretor Fabio Martina conta a
história de duas jovens promessas do futebol, que tentam a sorte na equipe
juvenil da Internazionale de Milão, mas não conseguem se livrar das marcas de
uma infância muito pobre e problemática.
4-4-2 (alusão ao esquema tático mais utilizado hoje em dia) é um filme de
episódios. Quatro episódios que mostram a presença desse esporte na vida
cultural italiana. Um deles, Meglio di Maradona (Melhor que Maradona), do
diretor Michele Carrillo, tem como personagem um garoto napolitano craque de
bola, que se perde pela rebeldia e falta de disciplina. O autor do artigo lembra
ainda que o documentário sobre o verdadeiro Maradona, ídolo para sempre da
torcida do Napoli, está sendo filmado por Marco Risi, com o ator Marco Leonardi
no papel do craque argentino.’
TELEVISÃO
‘Bang Bang’ Paga Pelo Ônus De Ousar
‘Acaba esta semana a novela que serviu de cachorro morto para todos os chutes
desferidos contra os males que afligem o ibope da Globo nos últimos meses. Se o
Jornal Nacional ia mal, a culpa era de Bang Bang, se a novela da Record ia bem,
a culpa era de Bang Bang, se a novelinha Rebelde abocanhava mais do que o SBT
merece, a culpa era de Bang Bang. ‘A culpa é toda minha’, anuncia o autor do
argumento original, Mario Prata.
E também da direção da Globo, que apostou numa história cujo miolo era
absolutamente clássico – o mocinho que volta a uma pequena cidade para vingar a
morte dos pais e acaba se apaixonando pela filha dos algozes -, mas ousou
desafiar regras básicas do folhetim. Ainda bem. Experimentar, nessa era em que o
vício de ‘dar ao povo o que o povo quer’, nivela tudo pela mediocridade, às
favas a pontuação do Ibope: para ficar bem na fita, experimentar é preciso.
Não que Bang Bang tenha sido uma obra-prima da experimentação. Prata acredita
que houve aí uns ‘10% de abuso’, nada além disso. Só não contava com a força do
hábito que afastou 30% da audiência do horário já no segundo capítulo. ‘A novela
caiu de 37 para 30 pontos já no segundo dia. Esse público viu o primeiro
capítulo, não entendeu nada e nunca mais voltou’, espanta-se. Como bem disse
Leila Reis neste suplemento do Estado em 9 de outubro, ‘se o público tiver
disposição para pelo menos experimentar, Bang Bang pode inaugurar um novo estilo
de fazer telenovela’.
Não houve muita disposição. A queda desde a primeira semana endossa que o
problema crucial de Bang Bang não foi, pelo menos a princípio, o afastamento do
autor, que deixou a história com 30 capítulos prontos e saiu de cena em razão de
uma tendinite. Prata se chateia pela suspeita criada na mídia em torno da
seriedade de sua doença. ‘Ninguém teve a idéia de ligar para o meu ortopedista’,
queixa-se. Entre um exame e outro, diagnosticou também uma osteoporose precoce.
O escritor ofereceu a cabeça. Pediu demissão e a Globo recusou. Ofereceu-lhe
estrutura para se tratar no Rio. Mas, como ousadia sem efeito comercial não
enche barriga, falou mais alto a inconveniência de abrir terreno para a
concorrência e a Globo rebolou para não deixar a peteca cair além da fatia que
já havia rejeitado o western. Mandou devolver ao folhetim parte dos vícios antes
descartados e convocou Carlos Lombardi para entrar em campo.
Funilaria
‘Minha maior dificuldade foi continuar a obra de outro autor, cuja sinopse já
tinha se exaurido’, justifica Lombardi. ‘Fui chamado para achar uma trama,
fazendo alterações tópicas mas sem se afastar do universo faroeste nem da
estrutura que tinha ali. Tive dificuldade em ter o perfil de personagens que não
fui eu que estabeleci, até na estrutura da produção – sou um autor de externas e
o Prata é um autor de estúdio. Também foi difícil fazer mudanças fundamentais
para mim, porque teria de mexer com talentos e criações de gente respeitada.’
Na reforma de Lombardi, inclui-se o perfil do mocinho da novela, Ben Silver
(Bruno Garcia), que deixou de ser tão ‘bom moço’. ‘Quando entrei, Ben Silver era
um caubói que podia ser coroinha. Faz parte da mitologia do caubói não ser
santinho e mexi nisso. Da mesma forma, Diana ficou mais durona e até mais
egoísta, acho que combina melhor com o desenho feito para o personagem pelo
próprio Prata’, conta Lombardi.
Ele concorda que o medo de inovar tem feito muitos autores se renderem às
mesmas fórmulas. ‘É evidente que atravessamos uma fase de banalização da
narrativa das novelas. Há muito tempo não via tanto clichê junto, muita gente
jogando na retranca, se garantindo com o já conhecido’, fala o autor, que
defende que a ‘inovação’ de Bang Bang está no desenho dos personagens, na
ambientação e no figurino. ‘A linguagem da novela não é moderna’, fala ele.
‘Bang Bang foi um acontecimento totalmente fora do padrão. Tinha uma ambientação
diferente, figurino lindo, mas estilizado demais e os nomes dos personagens em
inglês. Não são defeitos, são inovações, que dificultaram o relacionamento do
público com a novela.’
Rotulado na mídia como ‘o autor dos descamisados’ – dado o hábito de despir
belos dorsos em cena -,Lombardi se considera um inovador. Não exagera. Bebê a
Bordo e Quatro por Quatro inauguraram a linguagem clipada na telenovela. ‘Claro
que preferiria que fosse apontado como autor de ótimos diálogos, mas entendo que
essa coisa do rótulo vem do fato de a imprensa não poder acompanhar a novela com
assiduidade, o rótulo facilita a vida de todo mundo’, alfineta. ‘Mas continuo
dizendo que descamisamento é tendência mundial. Nos EUA, ninguém acusa Damon
Lindloef, autor de Lost, de descamisamento – mas pedem para ele continuar
tirando a roupa do elenco. O que não quer dizer que não vejam o mocinho, Matthew
Fox, como bom ator. Aqui é que tem um pouco daquela dualidade, belo =
superficial, sem talento.’
Só para lembrar: Lost se passa em uma ilha tropical, com sobreviventes da
queda de um avião – de modo que nem fica bem ver personagens absolutamente
vestidos por muito tempo.
Para Prata, a grande concorrente de Bang Bang era a mexicana Rebelde, do SBT,
e não Prova de Amor, da Record. Lombardi concorda que Prova de Amor recorre a
conflitos e fórmula já consagradas. ‘Mas não se pode esquecer que Prova de Amor
é careta, mas muito bem conduzida pelo Tiago (Santiago) e Avancini (Alexandre)’,
avalia. ‘E eles não deram certo por serem caretas e sim por serem
competentemente caretas.’
Autor de Prova de Amor, Santiago rejeita o título de ‘careta’. Alega que
durante três décadas esse tipo de novela foi marca registrada da Globo e nunca
outra emissora conseguiu fazer algo parecido com tamanho sucesso. ‘Todas as
novelas que fizeram sucesso fora da Globo eram de época ou rurais’, argumenta.
‘Prova de Amor é a primeira novela contemporânea, gravada no Rio e feita com
sucesso, fora da Globo.’ O autor também se defende da acusação de clonagem:
‘Nunca tinha visto a trama dos gêmeos inspirada em O Príncipe e o Mendigo em
novela, mesmo sabendo que o Marcos Rey fez isso em algum momento.’ Para o autor
da Record, ‘Prova de Amor se apóia em estruturas de folhetins clássicos, como
Oliver Twist, porém há muita criação original na novela.’
É consenso que o público e as emissoras, de alguma forma , pressionam os
autores a seguirem as mesmas fórmulas de sucesso, mas sempre há alguém disposto
a inovar. Como ‘Beto Rockefeller, O Rebu, Saramandaia, Que Rei Sou Eu e
Pantanal’, exemplifica Santiago.
‘Inovação são as coisas feitas pelo Braulio Pedroso. Algumas foram sucesso de
público, como Beto Rockefeller, O Cafona, outras não, como O Rebu e O Bofe.
Inovação é risco, mas sem inovação o gênero já teria morrido’, diz Lombardi.
Mario Prata, que em 1976 fez bonito com Estúpido Cupido, pondera. Acredita
que algumas das novelas que se mostraram inovadoras em seu tempo hoje não
surtiriam efeito. ‘Quando fiz Estúpido Cupido, as classes D e E não tinham
televisão, era mais fácil encontrar uma linguagem que alcançasse todos’, diz .
‘Se você apresentar uma sinopse de Saramandaia, hoje, na Globo, não vinga.’
Da estréia até o dia 8 de abril, Bang Bang somou média nacional de 30 pontos
de audiência e 50% de share. Não é o que se pode chamar de retumbante fracasso,
mas fica aquém do que a Globo almeja para o horário. As Filhas da Mãe, outra
produção das 7 que fugia do bê-a-bá convencional, estacionou igualmente nos 30
pontos. Nada que tenha ofendido Silvio de Abreu. O autor que fez de Guerra dos
Sexos um divisor de águas na teledramaturgia nacional, em 1980, conhece bem
riscos e vantagens de se ousar. E não crê que um ou outro resultado modesto no
ibope vá inibir a experimentação na Globo.
Prata também não aposta que o sacrifício tenha sido em vão. Sabe que há um
interesse na Globo para buscar inovações. Ele próprio, entretanto, diz que quer
distância desse ofício.’
O Estado de S. Paulo
Beleza arrumada
‘A beleza brasileira mora no Sul. E não estamos falando de Gisele Bündchen. A
mulher mais bonita do País é gaúcha, tem 19 anos. Trata-se de Rafaela Zanella,
eleita a Miss Brasil 2006, ao vivo, pela TV Bandeirantes, há uma semana.
Rafaela sucede à catarinense Carina Beduschi que, com direito à emoção
maquiada de um concurso de miss, lhe passou coroa e faixa ao fim do programa que
durou duas longas horas. A segunda mulher mais bonita do Brasil é Maria Cláudia,
do Acre, e a terceira, Beatriz Neves, de Santa Catarina.
Com 52 anos de idade, é incrível que o concurso tenha fôlego suficiente para
justificar investimentos em cachês importantes (como o da cantora Simone), no
deslocamento de um exército de pessoas de ponta a ponta do território nacional,
na farfalhante movimentação de sedas e tafetás, na contratação de profissionais
de primeira linha do mundo fashion, como Marcelo Sommer, que desenhou o
figurino, e Fernando Torquato, que cuidou da maquiagem. Colgate e o governo de
Estado do Rio de Janeiro estão entre os que entraram com o pagamento da conta.
O programa registrou 6 pontos de média no Ibope na Grande São Paulo, 8 no Rio
de Janeiro e 9 em Porto Alegre, em plena noite de sábado. A cada ano é de
espantar a fidelidade da platéia à competição de beleza. Especialmente nos dias
de hoje, em que é possível se comprar um pouco da beleza negada pela natureza.
Nos anos 50, fazia tanto sentido premiar a beleza natural da mulher que o
Brasil inteiro se mordeu quando Marta Rocha perdeu o título de Miss Universo por
causa de 2 ou 3 polegadas a mais no quadril. Se fosse hoje, o excesso de nossa
Marta sairia facilmente pela cânula da lipoaspiração ou por qualquer outra das
milhares de terapias vendidas em clínicas de estética.
Tanto é verdade que, uma noite dessas, o maquiador Duda Molinos reclamava
para Fernanda Young no canal pago GNT (Irritando Fernanda Young) da massificação
do acesso aos recursos estéticos. Dizia algo como: ‘Todo mundo faz branqueamento
nos dentes e as pessoas ficam com aquele sorriso branco azul…’ Esse é um
sintoma de que cada vez mais uma parcela da população brasileira (com bom poder
aquisitivo, claro) não se esquiva de lançar mão das alternativas disponíveis
para corrigir falhas ou acertar detalhes que não correspondem às expectativas.
Mesmo sabendo que as 27 moças do concurso Miss Brasil são passíveis de ter
dado uma força à própria natureza, o público comparece, torce, prestigia. Sinal
dos tempos também é o perfil das candidatas. No concurso de 2006, apenas 6 não
eram universitárias.
A apresentação de Nivaldo Prieto e Nayla Micherif (Miss Brasil 97) foi a
esperada. Assim como as poucas falas – ufanistas e bem-intencionadas – das
candidatas. O desfile em traje de banho e de festa foi muito bem marcado (as
meninas devem ter ensaiado bastante). O que ainda é muito mal resolvido é o tal
do traje típico. Feito em gravação externa, as cenas foram muito toscas e os
trajes… pouco típicos. Noventa por cento fantasiaram-se de indígenas – se
juntassem todas daria para formar uma ala do bloco Cacique de Ramos.
Assim como as candidatas, o corpo de jurados quase não teve direito a voz. O
designer de sapatos Fernando Pires foi o único chamado a dar um palpite,
enquanto Wanderley Nunes, Mariane Weickert, Dudu Bertolini, Mário Frias,
Emiliano Santiago, entre outros, dedicaram-se puramente à contemplação.
Inclusive as ex-misses Márcia Gabrielli (1985) e Adriana de Oliveira (1981), em
formíssima para a idade, exemplos vivos da eficiência da tecnologia estética.’
***
‘Hoje’ Resiste A ‘Chaves’ E Faz 35 Anos
‘O Jornal Hoje (JH) festejará seus 35 anos – que serão completados no dia 21
– com a estréia de quadros semanais. Até a apresentadora Sandra Annenberg sairá
por alguns minutos da bancada para atacar de repórter no quadro Hoje em Família,
que enfocará a relação entre pais e filhos, com dúvidas comuns e abordagem
didática. As reportagens irão ao ar às sextas, e a primeira delas, no dia do
aniversário do noticiário, mostrará uma mulher da mesma idade do JH dando à luz
seu primeiro filho.
Maria Cristina Poli terá dois quadros. Melhor É Impossível trará reportagens
de comportamento com temas como ciúmes, beleza e saúde. Histórias Inesquecíveis
será um papo com personalidades como a atriz Fernanda Montenegro, o arquiteto
Oscar Niemeyer e a bailarina Ana Botafogo. Melhor É Impossível vai ao ar às
quintas e Histórias Inesquecíveis, aos sábados.
Com esses quadros, o JH retomará temas femininos, que foram abandonados
quando Ana Maria Braga foi para a Globo, em 1999. E, apesar de ter sido
derrotado no ibope várias vezes pelo seriado Chaves, do SBT, o noticiário é o
único em rede nacional no horário do almoço.
Já Mercado de Trabalho, novo quadro de Fabiana Scaranzi, dará dicas sobre
empregos, novas profissões, ascensão na carreira e tendências. Irá ao ar às
segundas e substituirá o antigo Profissões. Às terças, o JH exibirá o Som da
Copa, que mostrará grandes compositores que já usaram o futebol como tema.
Nesta semana, o JH fará também uma projeção de como estará o Brasil e o mundo
nos próximos 35 anos.’
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