A Semana, maior revista noticiosa da Colômbia, foi repreendida publicamente pelo presidente Álvaro Uribe pela cobertura de denúncias de fraude nas eleições de 2002, de uma conspiração para assassinar ativistas e sindicalistas de esquerda e do vazamento de informações a narcotraficantes e grupos paramilitares de direita. A revista também noticiou ostensivamente as alegações de que funcionários da agência de segurança nacional teriam armado um plano para desestabilizar o governo do presidente venezuelano Hugo Chavez.
As denúncias contra o governo de Uribe ganham destaque na opinião pública em um péssimo momento. Com a proximidade das eleições presidenciais na Colômbia, marcadas para 28/5, ele aproveitava uma confortável liderança nas pesquisas de intenção de voto pela sua reeleição. O presidente é considerado o maior aliado do governo americano na América do Sul.
Bronca
Uribe foi severo com o editor Alejandro Santos durante a transmissão de um programa de rádio. Segundo nota de Frank Bajak [AP, 17/4/06], o discurso do presidente foi considerado por organizações de direitos humanos e de defesa da liberdade de imprensa, entre elas a Human Rights Watch, como uma assustadora tentativa de ‘amordaçar a imprensa em um país onde o jornalismo já é uma profissão perigosa’.
Falando da cobertura sobre as denúncias do plano para prejudicar Chavez, Uribe afirmou, durante o programa, que o assunto é tão delicado que ela deu base para que o governo seja considerado ilegítimo. ‘O dano [causado pela cobertura] não é para o Alvaro Uribe. O dano é para a legitimação da democracia colombiana, para um país que, pela primeira vez, começa a ver crescimento econômico’, completou.
Sem respostas
Uribe é conhecido por perder a paciência com jornalistas. Em outro programa de rádio, o presidente disse que não iria ‘permitir acusações de que o governo assassinou líderes trabalhistas ou esteve envolvido em uma conspiração contra a Venezuela ou deixou que eu roubasse nas eleições de 2002’.
Ainda assim, ele tem deixado uma série de questões sem respostas em suas manifestações públicas sobre as denúncias. Entre elas, está a sobre Jorge Noguera, ex-diretor da agência de segurança nacional, acusado de prestar favores a líderes paramilitares e traficantes, como apagar suas fichas criminais. Em vez de ordenar uma investigação criminal depois que Noguera foi forçado a deixar a agência, em outubro do ano passado, Uribe o nomeou ao posto de cônsul-geral em Milão, na Itália.