Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Folha de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Michele Oliveira

Lula e Alckmin fazem 1º confronto na TV

“O segundo turno na TV começa hoje, oficialmente, com o primeiro debate entre Luiz Inácio Lula da Silva e Geraldo Alckmin. Os presidenciáveis se enfrentarão na televisão, pela primeira vez nesta eleição, a partir das 20h30, na Band.

Após um primeiro turno em que Lula não compareceu aos três debates, o evento de hoje será a primeira oportunidade de o eleitor ver o tucano e o petista perguntando -e respondendo- um para o outro.

Assim será durante os cinco blocos desta noite, nos quais um candidato poderá questionar o outro sem temas definidos pela emissora. Os assuntos tratados serão da livre escolha dos dois presidenciáveis.

A primeira pergunta será feita pelo tucano, seguindo o sorteio realizado na última sexta. Depois, ainda no primeiro bloco, será a vez de Lula. Antes, os dois respondem a uma mesma questão feita pelo mediador, o jornalista Ricardo Boechat.

Os dois blocos seguintes serão dedicados inteiramente ao enfrentamento direto entre os candidatos, que poderão fazer cinco perguntas ao outro cada um. Lula será o primeiro a perguntar nos dois blocos. No quarto bloco, quatro jornalistas da emissora dirigem questões ao tucano e ao petista.

O candidato que não foi questionado terá direito a fazer um comentário, que poderá ser treplicado pelo primeiro. Por fim, o último bloco terá nova questão entre os adversários, além das tradicionais considerações finais.

A previsão é que o debate tenha duração de duas horas e 15 minutos. O evento começa a ser transmitido a partir das 20h, com imagens dos candidatos e notícias de bastidores.

Estratégias

A estratégia de Alckmin no debate de hoje vai transitar entre duas linhas: uma mais técnica, com números do seu governo, e outra mais emotiva, com frases de efeito, que incluirão o tema da ética.

A corrupção e os escândalos que atingiram a gestão do PT estarão presentes na fala do ex-governador, que planeja mencionar o caso do dossiê, do caseiro e do mensalão.

Mas, como agiu no horário eleitoral do primeiro turno, Alckmin deve atacar moderadamente, sem passar a impressão de que está desesperado, o que poderia ser aproveitado pelo adversário, que, nesse cenário, poderá retomar a tática do ‘Lulinha, paz e amor’ de 2002.

O tucano também está se preparando para ataques e comparações de Lula com o governo de Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Alckmin deverá se defender dizendo que FHC não voltará a governar.

Sua intenção é não repetir o que fez José Serra (PSDB) em 2002, que optou por rebater ponto a ponto as críticas do petista ao governo tucano. Já Lula está se preparando para responder sobre ética com dados do governo federal, como números de operações da Polícia Federal. E levantou munição sobre casos e suspeitas de corrupção da gestão de Alckmin em São Paulo e de FHC.

O petista deve ir para o ataque, mas com ‘atitude de presidente’, diz um auxiliar. Optou por dar tratamento respeitoso a Alckmin, chamando-o de governador, cumprimentando-o e considerando que o segundo turno propicia debates produtivos, uma forma de justificar as ausências na primeira fase. Lula tem dito que, nas áreas social e econômica, dá ‘um banho’ nos tucanos. Tem mesmo é preocupação com o campo da ética e com escândalos.

Primeira vez

No primeiro turno, o presidente Lula não compareceu a nenhum dos três debates. O caso do dossiê e a ausência do evento da Rede Globo, a três dias do dia da votação, foram apontados como motivos de Lula não ter vencido no domingo passado, como as pesquisas sinalizavam nas semanas anteriores. Sem o presidente, Alckmin, Heloísa Helena e Cristovam Buarque miraram no petista, que teve a cadeira reservada a ele, vazia, exibida.

Além do evento de hoje, Gazeta, Record e Globo planejam promover debates. O primeiro está programado para o dia 17, mas o petista dá sinais de que não participará. A Record ainda negocia com as duas campanhas a realização do seu. E a Globo finaliza o segundo turno, com seu debate no dia 27, dois dias antes da votação decisiva.

Colaboraram JOSÉ ALBERTO BOMBIG , da Reportagem Local, e KENNEDY ALENCAR , da Sucursal de Brasília”



Elio Gaspari

Lembra do Freud? Ele tinha razão

“FREUD GODOY precisa ser explicitamente exonerado das suspeitas que o levaram a um patíbulo moral. De acordo com o atual estágio das investigações das traficâncias petistas, ele nada teve a ver com o episódio do dossiê Vedoin. Enquanto houver alguém assegurando o contrário, a injustiça e o linchamento prevalecerão sobre a lei e o direito.

Na madrugada de sexta-feira, 15 de setembro, o tabajara Gedimar Passos, preso enquanto mercadejava o dossiê por R$ 1,7 milhão, contou à Polícia Federal que agiu ‘a mando’ de um capa-preta do PT ‘chamado Froude ou Freud’.

No domingo, dia 17, o depoimento de Gedimar vazou para a imprensa e ligou-se (corretamente) o nome à pessoa. O capa-preta era Freud Godoy, parceiro de caminhadas de Nosso Guia no Torto e assessor especial da Presidência da República. O mundo desabou-lhe sobre a cabeça. Lula telefonou para sua casa, Freud demitiu-se do cargo, teve os passos acompanhados por dezenas de jornalistas e apareceu ao país barbado, de camiseta, com um olhar de Delúbio Soares.

No dia seguinte o procurador Mário Lúcio Avelar pediu sua prisão, negada pela Justiça Federal. Ele viria a pedi-la de novo, e Freud só não dormiu na cadeia porque foi beneficiado pela trégua da Justiça Eleitoral.

O envolvimento de Freud no caso Vedoin comparava-se ao de Gregório Fortunato no atentado a Carlos Lacerda, em 1954. Ele se apresentou à polícia, negou que soubesse da malfeitoria e ofereceu a quebra de todos os seus sigilos. Listou quatro encontros que teve com Gedimar, tratando da segurança do comitê do PT em São Paulo, todos em agosto. Foram acareados, mas Gedimar manteve-se em silêncio.

Na condição de condenado, Freud sumiu. Sua defesa foi desconsiderada e ele encrencou-se por ter recebido R$ 120 mil das empresas de Marcos Valério e Duda Mendonça.

Circulou uma história segundo a qual Gedimar pusera o nome de Freud na roda para poupar o churrasqueiro Jorge Lorenzetti. O ex-policial não saberia de quem estava falando. Tentando tirar a bola da pequena área, chutara contra o próprio gol. Parecia piada.

Duas semanas depois da manhã em que Freud Godoy desceu aos infernos, prevalece sua inocência diante da acusação que lhe fez Gedimar (nada a ver com os saques valerianos e as contas pagas por Duda). A comparação das chamadas de seu celular com as do aparelho de Gedimar confirmaram o que ele contara: conversaram em agosto. A Justiça cassou a ordem de prisão que o ameaçava. A Polícia Federal disse que não tem indícios para acusá-lo. O procurador Avelar disse aos repórteres Fábio Victor e Leonardo Souza que, com base nos elementos de que dispõe, não pode acreditar no envolvimento de Freud na operação.

Zero a zero, bola ao centro. Se alguém tiver algo contra Freud Godoy, que conte, mas a partir da acusação que lhe fez Gedimar Passos, nada se pode dizer dele.

Quanto mais clara for a exoneração de Freud do inferno onde foi atirado, melhor para a saúde das instituições nacionais. Para começar, Freud vai exonerado da condenação que sofreu numa referência do signatário na qual foram levadas em conta suas relações perigosas, mas desprezado o essencial: sua defesa. A ele, o devido pedido de desculpas.”



VÔO 1907
Elio Gaspari

Usaram o santo nome do Times em vão

“O ‘New York Times’ até hoje não esclareceu direito que o jornalista John Sharkey, passageiro do Legacy da Embraer que colidiu com o Boeing da Gol, escreve uma coluna semanal sobre o mercado de aviões executivos, mas estava a bordo do jatinho na condição exclusiva de free-lancer para a revista ‘Business Jet Traveler’, a convite da empresa ExcelAire.

Uma coisa é ouvir o que diz um ‘repórter do Times’. Bem outra é ouvir um free-lancer da ‘Business Jet Traveler’ que viaja a convite de uma companhia com interesses envolvidos na questão. A diferença entre as duas situações está na credibilidade que a patuléia dá aos padrões jornalísticos das reportagens do ‘Times’. Cobrindo o caso, o repórter Paulo Prada não teve o noticiário contaminado pela dupla condição de Sharkey.

Num artigo publicado pelo jornal quatro dias depois do acidente, Sharkey narrou sua experiência. Mencionou a condição de passageiro free-lancer, mas isso não foi suficiente para evitar a confusão.

Sharkey pouco contribuiu para a explicação do ocorrido, mas seu ofício não é o de desvendar causas de desastres. Dias depois, em entrevistas à CNN e à rede NBC, que o qualificaram como ‘repórter’ do ‘Times’, criticou genericamente o sistema de proteção aérea da Amazônia e temeu pela segurança dos pilotos que estão retidos num país onde meteram-se num acidente que matou 154 pessoas.

Noves fora o ‘Times’, pode-se imaginar o seguinte: um jatinho de uma empresa brasileira rasga um Boeing de uma empresa americana e derruba-o sobre o Grand Canyon do Colorado. É exagero acreditar que os sete tripulantes e passageiros do Legacy acabarão em Guantánamo. Mas não é exagero garantir que nenhum deles será rapidamente liberado para escrever um artigo e dar entrevistas lançando suspeitas sobre o governo americano.”



CASO CICARELLI
Raul Juste Lores

Paparazzo de Cicarelli cobra ‘ética’ da mídia

“Parece brincadeira, mas quem anda reclamando da ética da imprensa por causa do polêmico vídeo de Daniela Cicarelli e seu namorado em uma praia espanhola é o paparazzo espanhol Miguel Temprano, 42, autor da filmagem.

Para muitos, ele é o vilão que estragou o que seria um dia de paixão explícita na praia de Tarifa, sul da Espanha, perto do Estreito de Gibraltar.

O paparazzo se diz desgostoso com a falta de ética dos meios brasileiros que ‘não pagaram pelo que exibiram’.

Enquanto Daniela Cicarelli pediu que todos cuidassem de sua vida e a deixassem em paz (e anuncia processos milionários), Temprano se sente injustiçado e também pretende ganhar seu dinheirinho.

‘Estou muito bravo com os meios de comunicação brasileiros, que não agiram eticamente’, disse Temprano à Folha, de Madri, onde vive. ‘Aquelas imagens são fruto de muito suor, de trabalho honrado. Não pagaram por essas imagens, isso é roubo!’

Temprano acusa a mídia brasileira de ‘pirataria’. Sobram também ataques ao YouTube. Como os barões da música que atacavam o MP3, o fotógrafo diz que o YouTube é ‘100% ilegal’. ‘Eles usam as imagens sem nenhum copyright. Vou denunciá-los, eles terão que me pagar direitos de autor.’

Temprano se recusa a falar do dia em que filmou Cicarelli, da ética do seu trabalho ou mesmo de detalhes mais picantes. ‘Não posso falar enquanto não for pago.’ Como não é de ferro, diz que ‘dará uma entrevista superdivertida’ a quem pagar pelas fotos. Não admite ser confundido com um vigarista. ‘Não sou um paparazzo qualquer, sou formado, tenho diploma, sou jornalista!’

Uma colega do fotógrafo não resistiu e conta mais detalhes sobre o episódio. ‘Temprano ficou na praia vários dias. Ele já tinha feito imagens dela e até perguntado para a Cicarelli o nome de seu novo namorado. Ela sabia que tinha paparazzi lá’, revela Gema López, uma das fofoqueiras mais famosas da Espanha, apresentadora do programa ‘Donde Estás, Corazón’, sobre celebridades.

Para Gema, Cicarelli foi ‘imprudente’. ‘Ela estava em uma praia pública, freqüentada por fotógrafos, e ainda assim ficou no ‘toqueteo’.’

‘O nome dela na Espanha sempre esteve ligado a escândalo. Primeiro aquele casamento ostentoso, que não foi bem um casamento. Depois, aquela separação. E agora o showzinho na praia’, conta.

Tudo pelo social

Para mostrar que é um paparazzo de bom coração, Temprano diz que seus futuros processos contra a imprensa brasileira não são movidos por sede de mais dinheiro.

‘Ganho muito aqui na Espanha, vivo bem.’ Ele promete doar tudo que receber dos seus direitos de imagem a uma organização não-governamental. ‘Podem escolher alguma ligada à Amazônia, às crianças das favelas, aos ianomâmis. Não quero deixar o dinheiro para as multinacionais, ou para engravatados dos meios de comunicação.’ Justiça de paparazzi.”



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Indústria paparazzi no Brasil é mais ‘modesta’

“Se na Espanha a poderosa indústria das fofocas (chamada ‘prensa del corazón’) pode sustentar centenas de fotógrafos à espreita de celebridades nas praias, a espionagem no Brasil ainda é mais modesta.

‘As celebridades que freqüentam essas praias são conhecidas no mundo inteiro. Um flagra de traição de um personagem famoso pode custar US$ 1 milhão internacionalmente’, conta Marcelo Liso, paparazzo da revista ‘Quem’, que há três anos trabalha só com flagras de famosos.

Ele clicou as fotos de Paris Hilton depois de um pit-stop no banheiro de um posto de gasolina em São Paulo e fez as imagens aéreas do casamento de Athina Onassis e Doda Miranda, tiradas de helicóptero. O ator Murilo Benício já atirou garrafinhas de água no fotógrafo, que também foi agredido por seguranças de Doda.

O boom da indústria paparazzi no Brasil tem apenas cinco anos, quando fotógrafos começaram a ser escalados para cuidar exclusivamente de ‘flagras’ em celebridades. Uma reportagem completa, com fotos, identidades dos casos amorosos e histórias picantes, pode ser vendida por até R$ 8.000 a publicações especializadas.

Para Liso, Cicarelli não terá sucesso em seus processos. ‘Meu advogado diz que invasão de privacidade é de foto em sacada de prédio, piscina de casa, não na praia.’

O fotógrafo free-lancer Gustavo Scatena, que trabalha para a revista ‘Caras’, acha que em São Paulo o trabalho ainda é mais difícil. ‘Em uma cidade verticalizada, onde as pessoas saem da garagem para outro lugar fechado, sempre de carro, flagrar é difícil’, reclama. Informação sobre as estrelas -em que lugar vão jantar, com quem estão namorando, em que hotel se hospedam- é tudo.

Apesar das dificuldades e da história breve, a indústria paparazzi nacional já tem seus feitos. Chico Buarque teve seu ‘momento Cicarelli’, enquanto namorava uma mulher casada na praia do Leblon. Um suposto namorado de Luma de Oliveira agrediu um paparazzo ao ser descoberto com a modelo. O boxeador aposentado Myke Tyson bateu na cabeça de um cinegrafista do SBT no ano passado enquanto se divertia em uma boate paulistana.

Realeza ociosa

Os quatro minutos e meio de amor de Cicarelli fazem parte da engrenagem da poderosa e milionária indústria ‘del corazón’ na Espanha. Lá, existem sete revistas semanais de fofocas e fotos de celebridades. Juntas, vendem 3 milhões de exemplares -em um país de 44 milhões de habitantes.

Na TV espanhola, o mexerico é onipresente. Há 25 programas dedicados à vida dos famosos, cheios de perseguições em aeroportos a celebridades munidas de óculos escuros e com o ‘nada a declarar’ nos lábios.

O canal Tele 5, que pertence a Silvio Berlusconi, ex-premiê da Itália, tem 30% da programação dedicada ao que os espanhóis chamam de ‘telebasura’ (TV lixo). Cenários dos programas e penteados e maquiagem dos apresentadores denunciam que Almodóvar tem à mão uma fonte inesgotável de inspiração kitsch.

Em ascensão desde os anos 60, com o retorno da família real espanhola ao país, ela se alimentava da nobreza ociosa, misteriosa e com uma vida de luxo e glamour para os plebeus. No Reino Unido, a princesa Diana foi considerada vítima, mas sedenta pelos flashes. Mas só a nobreza não faz negócio.

‘Nos últimos anos, até namoradas de ex-participantes do ‘Big Brother’ merecem capas. É um lixo’, diz o crítico de TV José Javier Esparza.

A realeza americana, Hollywood, alimenta a ‘People’, revista que vende 3 milhões de exemplares semanais. O atual casal coroado dessa realeza, Brad Pitt e Angelina Jolie, vendeu fotos da filha, Shiloh Nouvel, por US$ 4 milhões. Doados a ações humanitárias.”



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Especialistas dizem que não houve invasão

“Quando há invasão de privacidade? Essa é uma questão que aflige fotógrafos e artistas ‘espionados’ e freqüentemente vai parar nos tribunais.

‘Há um conceito bem desenvolvido na doutrina e na jurisprudência de que personalidades famosas, funcionários públicos e políticos têm uma esfera de privacidade reduzida’, diz a advogada Taís Gasparian.

‘Um artista vive da exposição dele. Naquela praia, Cicarelli não estava presumindo que ninguém a observava. Ela pode pedir a retirada do vídeo da internet, mas não acho que tenha direito à indenização -ela estava em local público’.

Os especialistas concordam com essa interpretação. Para o promotor Roberto Wider, quando celebridades são flagradas em espaço público não há invasão de privacidade. No caso de ‘ato obsceno’, a jurisdição brasileira também não considera que houve atropelo à privacidade se for em lugar ‘exposto’ ao público, como a sacada de um apartamento, por exemplo.

‘Quando o fotógrafo sobe em um muro para fotografar o que acontece à beira de uma piscina, aí a invasão é clara’, diz Wider.

O advogado Celso Vilardi fala das garantias individuais. ‘Interceptação de conversas telefônicas, invasão da casa e até perseguição de carro a um pessoa invadem a intimidade.’”



AFEGANISTÃO
Folha de S. Paulo

Jornalistas alemães são mortos no norte

“Dois jornalistas alemães foram mortos a tiros, ontem, na região norte do Afeganistão.

Ambos -um homem e uma mulher- trabalhavam para o canal estatal alemão ‘Deutsche Welle’ e viajavam pela Província de Baghlan. No momento do atentado, segundo o Ministério do Interior, eles passavam a noite em uma tenda.

Os atiradores, de acordo com o porta-voz do ministério Zemari Bashary, ainda não foram identificados. Wakil Asas, repórter da rede em Cabul, disse que os dois estavam no país há pouco tempo e viajavam por conta própria, já que não tinham base na capital.”



RÚSSIA
Folha de S. Paulo

Jornalista que criticou Putin é assassinada

“Uma proeminente jornalista russa, conhecida por suas reportagens críticas à campanha do governo Putin na Tchetchênia, foi assassinada a tiros em Moscou. Segundo a polícia, o corpo de Anna Politkovskaya foi encontrado ontem no elevador do prédio em que morava, no centro da capital.

Politkovskaya ficou conhecida no país ao escrever sobre abusos cometidos pelas tropas russas na Tchetchênia. Por sua cobertura crítica da guerra no Cáucaso, a jornalista sofria constante pressão do governo.

Politkovskaya, que chegou a ser presa para averiguações, reclamou em várias ocasiões que recebia ameaças de morte. Em 2004, ela deixou de cobrir o ataque terrorista tchetcheno à escola de Beslan (Ossétia do Norte) porque teve quer internada por intoxicação alimentar, após beber chá no vôo que a levava à região.

Junto ao corpo da jornalista a polícia encontrou um pistola e quatro balas. Politkovskaya, que trabalhava para o ‘Novaya Gazeta’, jornal de linha marcadamente crítica ao Kremlin, escreveu um livro sobre a campanha russa na Tchetchênia em que documentava violações de direitos humanos cometidas por soldados.

Geórgia

A polícia russa prendeu ontem doze manifestantes que participavam de um protesto contra as medidas de pressão adotadas pelo governo nos últimos dias contra a Geórgia, que incluíram bloqueio postal e de transportes, restrição de vistos e deportações.

Os jovens presos participavam de uma manifestação em frente à embaixada da ex-república soviética em Moscou.”



TELEVISÃO
Daniel Castro

Globo lança almanaque e faz documentário

“A Globo lança no final de novembro nas livrarias o ‘Almanaque da TV Globo’, um livro de 490 páginas que registrará a ‘memória afetiva’ da emissora.

A obra, escrita pelo jornalista Marcel Souto Maior, trará um histórico de todos os programas, de todos os gêneros, já produzidos nos 41 anos da rede.

Não será apenas um livro de consulta para pesquisadores e aficionados por televisão. Como nos almanaques vendidos em bancas nos anos 70 e 80, o da Globo trará curiosidades sobre as atrações da rede _por exemplo, a letra da música-tema do antigo ‘TV Globinho’. O livro será ilustrado com gráficos e fotografias marcantes, como as de Regina e Lima Duarte na novela ‘Roque Santeiro’ ou de Sônia Braga em ‘Gabriela’.

O almanaque faz parte do projeto Memória, criado há sete anos para manter atualizado um banco de dados audiovisual da rede. O projeto já gerou uma biografia de Roberto Marinho, o ‘Dicionário da TV Globo’, com fichas de todas as novelas e séries da emissora até 2003, e o polêmico livro sobre os 35 anos do ‘Jornal Nacional’, que vendeu 110 mil exemplares, algo extraordinário para o Brasil.

Outra obra com a história da Globo será um documentário de uma hora, recheado com depoimentos de centenas de artistas, autores, jornalistas e executivos da rede. O vídeo, no entanto, só terá uso institucional _apresentações em feiras e seminários, por exemplo.

CINE PARADISO 1A Globo criou um cineclube em Taperoá, cidade de 14 mil habitantes na Paraíba, onde se prepara para filmar a microssérie artesanal ‘A Pedra do Reino’, baseada na obra do escritor Ariano Suassuna. A localidade nunca teve cinema.

CINE PARADISO 2Todas as noites, o diretor Luiz Fernando Carvalho tem projetado filmes, em DVD, no galpão em que está ensaiando com o elenco e que serve de ateliê para os artistas plásticos que produzem cenários e adereços.

CINE PARADISO 3Nas sessões, abertas, já foram exibidos biscoitos finos como ‘Amarcord’, de Federico Fellini, ‘Que Viva México!’ (Sergei Eisenstein), ‘O Sétimo Selo’ (Ingmar Bergman) e ‘Luzes da Ribalta’ (Charles Chaplin).

MERA COINCIDÊNCIAA atriz Regina Duarte, eleitora do PSDB, contracenou com o boneco de um tucano no capítulo de quarta de ‘Páginas da Vida’. Teve gente que achou que foi propaganda subliminar. Mas foi só coincidência.

VIDA REALPróxima novela das oito da Record, ‘Vidas Opostas’ terá cenário de uma redação de telejornal. Na trama, haverá uma fictícia emissora de televisão, ainda sem nome, em que trabalhará um grupo de jornalistas.

EXPORTAÇÃOA Disney comprou a série ‘Um Menino Maluquinho’, produzida pela TVE do Rio. A obra, adaptação de criação de Ziraldo, já está sendo dublada para o espanhol. Em breve, será exibida pelo Disney Channel em toda a América Latina.”



Lorne Manly

Criadores estendem universo de ‘Lost’

“DO ‘NEW YORK TIMES’, EM BURBANK, CALIFÓRNIA – Na manhã posterior à entrega dos prêmios Emmy deste ano, em agosto, Damon Lindelof, 33, e Carlton Cuse, 47, os homens que comandam ‘Lost’, produção da rede de TV ABC, reuniram-se no escritório de Cuse no estúdio da Disney, como de costume, e começaram a mapear a estratégia para o dia de trabalho que os aguardava. Os dois tinham de cortar 22 minutos do episódio de estréia da nova temporada, que foi ao ar por lá na última quarta (leia ao lado), ajudar os roteiristas a encontrar o tom certo para o episódio cinco, responder a telefonemas do estúdio e escalar um ator secundário. Também precisavam revisar diálogos do terceiro episódio com o diretor e escrever o sexto episódio. Todas as tarefas se relacionam à produção da série, um drama ambíguo sobre os sobreviventes de uma queda de avião em algum lugar do Pacífico Sul. Mas são só parte das responsabilidades cada vez maiores que os dois agora precisam assumir. Supervisionar os subprodutos do programa ocupa cada vez mais o tempo de Cuse e Lindelof. Não se trata só de licenciamento tradicional, de lancheiras ou pôsteres -as promoções de ‘Lost’ podem ser tão complicadas quanto o seriado. A idéia é expandir a série usando tecnologia digital e misturando fantasia e realidade. Existem, é claro, camisetas, cartões, quebra-cabeças: todos os produtos envolvem participação de Lindelof e Cuse, que ainda escrevem 13 episódios para veiculação em celulares e ajudam a desenvolver um jogo de videogame que incorporará as cenas em flashback da série. A dupla também desenvolveu a produção promocional ‘The Lost Experience’, patrocinada pela nebulosa Hanso Foundation. O comercial instruía os espectadores a seguir pistas do site da Hanso. A brincadeira se tornou realidade numa convenção de quadrinhos, interrompida por um manifestante que denunciou a falsa fundação -na verdade, um ator contratado por Lindelof e Cuse.

Pirâmide

‘Lost’ tem um elenco com cerca de uma dúzia de personagens principais, uma equipe técnica e de produção com mais de 500 pessoas e um orçamento anual de mais de US$ 65 milhões. Os dois dirigentes estão no topo dessa pirâmide. Na última semana de agosto, Lindelof e Cuse foram a uma reunião na sede da ABC, que começou no ano passado a disponibilizar episódios de ‘Lost’ no site um dia após sua veiculação na TV. Eles pensavam em como convencer os internautas a estender a visita. Lindelof sugeriu criar um guru que respondesse às perguntas dos internautas, fazendo da ABC.com o lugar onde obter respostas e procurar pistas. Cuse apoiou. Mais tarde, no escritório do supervisor de desenvolvimento de negócios da ABC Entertainment e da Touchstone Television (outra subsidiária da Disney), Cuse soube de desdobramentos que lhe irritaram. No segundo trimestre, a Touchstone, por insistência de Cuse e Lindelof, fechou acordo com sindicatos de Hollywood para que os atores pudessem trabalhar em episódios para celulares. Foi o primeiro grande estúdio a fazê-lo. Mas nem todos os nomes de ‘Lost’ haviam assinado seus contratos. ‘Eles parecem pensar que ganharão milhões, e isso não vai acontecer’, disse Barry Jossen, vice-presidente executivo de produção da Touchstone Television.

Romance

A ABC encomendou versões em livro de ‘Lost’. Lindelof leu um deles e pensou: ‘Isso é horrível’. Resolveu, com Cuse, desenvolver o romance ‘Bad Twin’, de um tal Gary Troup. O fictício Troup sobreviveu à queda do avião, mas foi sugado para dentro de uma turbina a jato, não sem antes enviar ao seu editor um manuscrito. O livro oferece pistas para atrair os fanáticos de ‘Lost’. ‘Bad Twin’ aparece duas vezes na série, depois que um personagem encontra o manuscrito em meio aos destroços. Isso bastou para que o livro (ed. Hyperion) chegasse à lista de best-sellers do ‘New York Times’. Sucessos como esse aumentam a pressão para que se crie ainda mais. Lindelof se preocupa com que a atenção aos projetos extracurriculares os faça negligenciar sua responsabilidade primária. Embora não pare de propor idéias, a dupla tenta manter uma coisa em mente: ‘Se a série for ruim’, diz Cuse, ‘nada disso tem valor’.

Tradução PAULO MIGLIACCI”



Vinícius Queiroz Galvão

Os Outros protagonizam começo da 3ª temporada

“DE NOVA YORK – ‘As próximas duas semanas serão muito desagradáveis, Kate.’ Foi com esse alerta do falsário Henry Gale, um dos Outros, que começou, na última quarta-feira, nos EUA, a terceira temporada de ‘Lost’.

Antes de continuar a ler esta reportagem, decida: se você for fã da série e preferir esperar até março de 2007, data da provável exibição no Brasil, pare de ler este texto agora.

O título do primeiro episódio, ‘A Tale of Two Cities’ (um conto de duas cidades), alusão ao romance homônimo do escritor inglês Charles Dickens (1812-1870), entrega (quase) tudo. Um grupo de desconhecidos discute amenidades numa casa com jardim, sem muros, cercada de vizinhos. Poderia ser qualquer subúrbio dos EUA. Não é. Parecia ser um daqueles medonhos flashbacks sobre um personagem específico. Não é.

Um tremor interrompe a conversa. Todos saem. No céu, o avião do vôo 815 da Oceanic se despedaça no ar. Henry Gale (Michael Emerson), que não é Henry Gale, dá a ordem: ‘Ethan, vá à praia e se passe por sobrevivente’.

Jack (Matthew Fox) está preso numa cela de vidro. Corta. Kate (Evangeline Lilly) surge num vestiário ao lado de um dos Outros, que a manda tomar banho. Corta. Sawyer (Josh Holloway) aparece numa jaula na selva, ao lado de um desconhecido, também engaiolado. A seqüência volta a Jack, que é apresentado a uma nova personagem, Juliette. Entendeu?

É com mais mistérios que segue a terceira temporada da série, cuja estréia teve 18,4 milhões de espectadores só nos Estados Unidos. Os episódios completos de ‘Lost’ podem ser vistos no site da rede ABC (www.abc.com), produtora do seriado, às quintas, dia seguinte à exibição, mas apenas nos EUA. Rodrigo Santoro deve aparecer como o personagem Paulo em duas semanas. Uma dica: o último episódio da segunda temporada, ‘Live Together, Die Alone’, termina com um diálogo em português.”



Bia Abramo

Homens, mulheres e carros

“VOCÊ , certamente, já deve ter visto a propaganda: uma câmera hiper-realista exibe imagens muito nítidas e bonitas de uma mulher (ou de um homem, numa segunda versão do mesmo ‘conceito’) e de um carro. ‘Você e seu…’ e o locutor enuncia a marca automobolística.

Primeiro, um plano americano mostra rosto e pescoço da mulher; depois, parte do capô de um carro. Detalhes de uma e de outro vão se alternando: olhos são comparados a faróis, o interior do veículo ao do corpo humano e assim vai. No início, as imagens do ser humano e do automóvel sucedem-se em intervalos maiores, que vão diminuindo, e o ritmo vai crescendo, como numa relação sexual, até o paralelo homem-máquina atingir uma espécie de paroxismo orgástico.

E vem a bonança: ‘Sabe que cada vez vocês estão mais parecidos?’. Aparece o logotipo, clássico, em prata sobre preto, e o resto é silêncio.

Estamos, provavelmente, diante de um marco histórico da publicidade a partir daqui, os automóveis estão pau-a-pau, parafuso-a-parafuso com seres humanos.

Homens e mulheres devem passar a procurar suas caras-metades entre carros, entre marcas de carro, entre modelos daquela marca específica, não mais, nunca mais, entre outros homens e mulheres.

Para a propaganda clássica, o carro nunca foi o veículo utilitário, barulhento, poluidor que de fato é, e, sim, um objeto de valor fálico, que confere poder, status, virilidade e sabe-se lá que outros buracos existenciais que se supõe que o carro possa preencher. Agora, abre-se uma nova era, em que de objeto o carro passa a ser sujeito. Uau!

É evidente que não é lá muita surpresa o fato de a propaganda não ter o menor pudor em atribuir significados afetivos, morais, espirituais aos objetos que tem por objetivo vender.

Digamos que, numa sociedade que colocou o mercado em uma posição de deus a ser apaziguado, com sacrifícios rituais em que excluídos, pobres e outros perdedores devem ser oferecidos em holocausto para agradá-lo, essa é uma operação que soa quase que natural.

O que indica estarmos em outro patamar de desfaçatez, digamos assim, é essa imposição de uma intimidade (desejável e necessária) entre homem e máquina, na qual não é o homem quem conduz a máquina, mas a máquina que impõe suas formas e seu ritmo ao homem. E disso extrai-se um novo tipo de gozo, não mais humano.”



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Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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