Foi suspensa, na terça-feira (10/10), a transmissão do programa de TV satírico Le Iene, que afirmou ter testado secretamente 50 deputados italianos para uso de substâncias ilegais. O programa, conhecido por aplicar ‘pegadinhas’ que costumam envergonhar figuras públicas, anunciou ter descoberto que um terço dos deputados havia consumido drogas nas 36 horas anteriores ao teste; o exame de 12 deles deu positivo para maconha, e o de quatro, para cocaína.
O anúncio foi parar na primeira página da maioria dos jornais da Itália na terça-feira, levantando um acalorado debate e manifestações furiosas de parlamentares enganados. Um repórter do Iene, fingindo ser um entrevistador de um programa que não existe, pediu aos deputados que dessem suas opiniões sobre o orçamento para 2007. Na preparação para a entrevista, um falso maquiador, fingindo estar ajeitando a sobrancelha do deputado, coletava células para o exame de drogas.
O bloqueio do programa, que iria ao ar na terça, foi feito pela autoridade de privacidade italiana, com base na justificativa de que a coleta de material e os testes foram conduzidos de maneira secreta e ilegal. A decisão, em vez de esfriar o assunto, causou ainda mais polêmica, sendo chamada por alguns críticos de ‘censura’.
Rigidez
Italo Bocchino, do partido conservador Aliança Nacional, primeiro ameaçou processar o programa. Diante do debate público que dominou a sociedade italiana, entretanto, acabou concordando que testes de drogas deveriam ser feitos em todos os membros do parlamento.
Grupos liberais afirmaram que o Iene revelou a hipocrisia por trás das rigorosas leis antidrogas do país, opinião apoiada pelo ministro do Meio Ambiente, Alfonso Pecoraro Scanio, líder do Partido Verde. ‘Foram aprovadas leis absurdas que punem jovens por fumar um baseado, e então descobrimos que em altos cargos políticos as pessoas estão cheirando cocaína demais’, comentou.
O Iene é transmitido pelo canal Italia Uno, um dos três canais nacionais do grupo Mediaset, que por sua vez é controlado pela família do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi. Informações de Gavin Jones [Reuters, 10/10/06].