Desde sexta-feira (6/12), quando o governador eleito Jacques Wagner anunciou o seu secretariado, aguardo o pronunciamento das entidades que deveriam preservar os interesses dos jornalistas acerca da indicação de um engenheiro eletricista para assumir a pasta da Comunicação da nova administração estadual. Não ouvi um pio de quem quer que seja.
Veja a ironia: quem devia estar zelando pela categoria silencia. O cargo é de confiança. É. Mas, certamente, se fosse reeleito Paulo Souto e na hipótese de que nomeasse um decorador ou o diabo que fosse para a área de Comunicação, todo mundo cairia de pau. Paulo Souto ou ACM ou César Borges, não importa. Eu seria o primeiro a protestar. Um esclarecimento: não tenho nada, absolutamente nada, contra o futuro diretor da Agecom. Nem o conheço. Nunca ouvi falar em seu nome.
Mas, deixemos de ser hipócritas: os jornalistas baianos, na sua totalidade (corro o risco de cometer uma injustiça, mas vale a pena), estão voando. Não sabem de quem se trata. Há uma única certeza: a indicação é do deputado Walter Pinheiro (PT-BA). Ótimo. O nobre parlamentar é um político sério e coerente. Mas nem por isso deve ser endeusado. É obrigação dele ser sério, honesto e coerente, como é obrigação de todo cidadão, seja de direita, de esquerda ou o escambau. Portanto, não faz nenhum favor.
Felizes e satisfeitos
Ora, o PT tem quadros fantásticos atuando na mídia. Não vou citar nomes. Todos, reconheçam ou não, foram preteridos. Mas o que mais irrita é que nossas entidades de classe fazem de conta que tudo está uma beleza, uma maravilha.
Não defendo pressões sobre Wagner (a decisão está tomada) nem sobre ninguém. Apenas que as instituições que agregam os jornalistas se pronunciem. Nem que seja para dizer que concordam com a indicação, que é isso mesmo, que jornalista e nada é nada. Assumam, pois, uma posição, mesmo que contrária à categoria. Dizer amém, jamais. Hoje passo a entender melhor a defesa intransigente da Fenaj e de alguns de seus filiados da criação do Conselho Federal de Jornalistas. Interessava ao presidente Lula. Felizmente, a famigerada proposta foi abortada.
Volto a repetir: o governador eleito pode cultivar – e eu o respeito por isso – profundo desdém por nossa classe. É um problema dele. Mas é uma lástima que isso aconteça. Ou talvez mereçamos a indiferença. Afinal, todos os sinais emitidos em direção a Wagner indicam que estamos felizes e satisfeitos pela discriminação.
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Editor de Política da Tribuna da Bahia