Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Comunique-se

ENQUETE
Comunique-se

Você tem orgulho de ser jornalista?, 3/11/06

‘Com tantos problemas, a profissão de jornalista pode ser até considerada um dom: não é qualquer um que agüenta a jornada de plantões e de longas horas de trabalho. Isso somada a baixa remuneração e o mercado de trabalho cada vez mais escasso. Então, vem a pergunta. Afinal, o jornalista tem orgulho da profissão?

Para responder a esta pergunta o Comunique-se realizou uma enquete com seus usuários contendo três perguntas: Você tem orgulho de ser jornalista? Você se sente realizado com a profissão? Você se arrepende de ter escolhido o jornalismo?

O resultado expôs o lado ‘mais romântico’ do jornalista brasileiro: 58,91% dos profissionais têm, sim, orgulho da profissão. Menos de um terço do total, 27,43% tem algum orgulho, 8,64% têm pouco orgulho e apenas 4,99% não tem nenhum orgulho de ser jornalista.

‘O resultado reflete as péssimas condições de trabalho, a existência de poucos jornais, e outros meios de comunicação. A última vez que tive acesso a esse tipo de estatística (e este quadro não deve ter mudado muito) havia uma proporção de quatro candidatos para um emprego. O que um jovem formado pode pensar a respeito da profissão diante de um quadro melancólico como esse?’, questiona Milton Coelho da Graça, colunista deste portal.

No entanto, apesar de mais da maioria dos votantes atestar que tem orgulho de ser jornalista, 51,93% dos entrevistados não se sentem realizado com a profissão. Os que se sentem plenamente realizados somaram 31,38% dos votos. ‘Eu poderia ser melhor remunerado, mas isso não tem a ver com realização. Eu sinto que, com o jornalismo que faço, contribuo de alguma forma com o mundo. Isso é muito bom!’, diz Magela Lima, repórter do Diário do Nordeste. Quase 6% dos usuários deste portal responderam que é impossível se sentir realizado nesta profissão.

A boa surpresa para o jornalismo brasileiro descoberta pela enquête é que, apesar de todos os pesares, 77,46% dos pesquisados não se arrepende de ter optado pelo jornalismo como profissão. É o caso de Fernanda Cunha, que foi coordenadora do site Brasil com Alckmin durante as eleições. ‘Quando penso no salário, na dificuldade de conseguir um trabalho legal, no dia-a-dia corrido, não ter horário, feriado ou fim de semana, aí me arrependo. Mas, quando penso no que o jornalismo me proporciona, acho que fiz a escolha certa. Embora às vezes eu entre em crise, não consigo me ver sendo outra coisa’, afirma.

Menos de 10% dos entrevistados se arrependem de ter escolhido jornalistas. Destes, 5% responderam que vão procurar outra faculdade.’



INTERNET
Bruno Rodrigues

A web merece respeito, 3/11/06

‘A Rede nasceu para todos, mesmo quando pertencia a militares americanos, nos idos dos anos 60, ou era a menina dos olhos de um círculo fechado de universidades, no início dos anos 90.

A internet foi criada para escorrer pelos dedos de quem tenta impingir-lhe cabresto, regras rígidas ou limites. A Rede é de quem quiser acessá-la – simples assim.

Desde o início, contudo, a noção de quem faz a internet e a de quem a utiliza se mescla o tempo todo. Aqueles que produzem conteúdo estimulam a interação com o visitante, que influi de imediato no que é produzido na Rede.

Por conta deste ping-pong, serviços são aprimorados e informações ficam mais completas, e uma quantidade cada vez maior de ferramentas de interatividade entre os ‘produtores’ de web e seus ‘consumidores’ é criada.

É perigoso? Sob o ponto de vista do que o ser humano pode produzir de pior, pedófilos e neonazistas estão na web para nos provar que sim – mas este não é um privilégio da internet, bem sabemos.

Se não é esta a questão, qual o problema entre a diminuição entre a distância entre ‘produtores’ e ‘consumidores’ de web? O respeito pelo que é produzido.

Quem até ontem era apenas usuário da web, hoje produz conteúdo. O blog, só para citar um exemplo, deu chance – e poder – a qualquer um que queira produzir informação na Rede. É muito fácil criar um blog, e você passa de receptor e emissor em um segundo.

Outro exemplo é o podcast. Para criar um programa de rádio, não é mais preciso dominar uma tecnologia até pouco tempo complexa. Basta um microfone na mão, uma idéia na cabeça e um software de edição no computador. E faz-se ouvir a voz do internauta.

O jornalismo, agora, é participativo, é ‘cidadão’. Os veículos estão de portas abertas à persona jornalista dos usuários web sempre que ele tiver uma boa ‘pauta’ ou, no mínimo, um fato noticioso ao alcance dos olhos. É como uma ‘Associação Mundial de Repórteres Amadores’, sempre a postos.

Calma. Não levanto aqui uma bandeira para cercear a criação de blogs, podcasts ou um cidadão que testemunhe um fato noticioso. Como eu bem disse, a alma da web é seu usuário, e muito do que a Rede é hoje se deve justamente à ‘simbiose’ entre ‘criador’ e ‘criatura’. Ganhamos com a interação com a web, e ela conosco – ponto pacífico.

Nós perdemos, sim, é com o descaso com o que é produzido na Rede.

Não se pode exigir que um adolescente mantenha atualizado um blog, mas não é de se esperar que um executivo, um consultor ou uma empresa o faça? A quantidade de blogs que é lançada a cada mês é absurda. Já ultrapassamos a casa dos 50 milhões de blogs há muito, e a luz de emergência já acendeu: a chamada ‘blogosfera’ corre o risco de se transformar em cemitério de informações em pouquíssimo tempo. Para quem acha blog ‘besteira’, ‘coisa de adolescente’, é um argumento contra e tanto. A situação dos blogs chega a envergonhar de tão constrangedora, e poucos ousam tocar no assunto.

O mesmo acontece com os podcasts. Eles são moda na internet desde que os mp3 players, como o iPod, popularizaram-se. Eu assino vários podcasts, e há meses percebo que grandes empresas que lançaram com estardalhaço seus podcasts, simplesmente os abandonaram na terceira ou quarta edição. Até conglomerados como a Disney, que tem na comunicação o seu foco e na mídia digital uma aposta, agora só produzem podcasts esporadicamente. Uma vergonha.

Quanto ao jornalismo ‘cidadão’, o que vejo é um material quase risível. No exterior, o ‘repórter de casa’ ainda é visto mais como uma experiência do que uma aposta. Já há casos em que a testemunha da notícia contribuiu muito mais para o jornalismo do que o ‘Le Monde’ ou o ‘The New York Times’ – mas ainda é exceção. Sou um grande defensor do jornalismo colaborativo, mas sempre coloco a mão na testa quando um veículo como o ‘Globo Online’ abre espaço em seu ‘Eu, Repórter’ para uma ‘matéria’ sobre o verão no Canadá, um galeria de fotos sobre o Jardim Botânico do Rio ou dá destaque à ‘testemunha ocular’… de um acidente de trânsito!

Mais respeito com a internet. Ela ainda se sustenta em bases frágeis, por mais que tenha conquistado a mídia, corações & mentes. Há seis anos, o ‘estouro da bolha’ por pouco não a reduziu a cinzas, e essa não foi, nem será, a única crise.

A grande lição, após uma década de web, é que a Rede é um espelho do que somos. Se não quisermos ver refletida, sempre, a imagem de um adolescente desleixado no espelho, esta é a hora de amadurecer.

(*) É autor do primeiro livro em português e terceiro no mundo sobre conteúdo online, ‘Webwriting – Pensando o texto para mídia digital’. Ministra treinamentos e presta consultoria em Webwriting e Arquitetura da Informação no Brasil e no exterior. Em seis anos, seus cursos formaram 1.200 alunos. Desde 1997, é coordenador da equipe de informação do website Petrobras, um dos maiores da internet brasileira, com 4.000 páginas em português e versões em inglês e espanhol e é citado no verbete ‘Webwriting’ do ‘Dicionário de Comunicação’ (Editora Objetiva, 2001), há três décadas uma das principais referências na área de Comunicação Social no Brasil.’



REFLEXÃO
Milton Coelho da Graça

Voltemos à leitura de Maquiavel, 1/11/06

‘Maquiavel oferecia aos vencedores de guerras três possibilidades de como tratar os vencidos (de acordo com minha carioca, contemporânea e jornalística interpretação do texto de ‘O Príncipe’):

1. destruir tudo, arruiná-los, acabar com a raça deles;

2. ocupar o território, substituir seus deuses e leis, mas, diante de um chopinho e ouvindo chorinho, na maior harmonia, impor a cada vencido o que terá de fazer.

3. permitir um governo autônomo (mas resignados, como o presidente do Afeganistão ou a Fiesp), com licença para cuidar de seus interesses mais diretos. A única exigência: aceitação e cumprimento das leis dos vencedores.

Os ingleses, com a vitória na batalha de Culloden, acabaram definitivamente com a pretensão dos escoceses à independência e, seguindo a possibilidade mais recomendada ao Príncipe por Maquiavel, mataram tudo o que se mexia no meio e no entorno do campo de batalha: feridos, crianças, cachorros, cabritos, tudo. Muitos anos depois, a Escócia afogou suas justas mágoas com o melhor uísque possível e aceitou fazer parte do Reino Unido, caindo na real da terceira hipótese. O sonho da independência ficou só por conta do 007 Sean Connery e seus companheiros ultra-nacionalistas.

Bush, após dominar os iraquianos, sonha e fala sobre a terceira hipótese, mas vai mesmo executando a segunda no Iraque. Enquanto tem dúvidas sobre o que fazer, já matou 650 mil, o que tem jeitinho de primeira.

Bornhausen defendeu explicitamente a primeira, ‘se’ a alternativa Alckmin desse certo. Felizmente não deu.

Lula, de volta à versão Lulalá, chama todo mundo para conversar. Dizem que está se preparando para esses papos, conhecendo o pensamento de Maquiavel através de Marco Aurélio Garcia. E se ele resolver tratar a imprensa – patrões e jornalistas -, segundo o receituário do florentino?

O diálogo entre aquele delegado federal e os repórteres de Veja é uma peça para reflexão.

(*) Milton Coelho da Graça, 75, jornalista desde 1959. Foi editor-chefe de O Globo e outros jornais (inclusive os clandestinos Notícias Censuradas e Resistência), das revistas Realidade, IstoÉ, 4 Rodas, Placar, Intervalo e deste Comunique-se.’



TRANSIÇÃO
Cassio Politi

Coluna O Dia D se despede. Raio-X vem aí, 3/11/06

‘Quero me despedir da coluna O Dia D contando como ela surgiu.

Nos últimos cinco anos e meio, ministrei os cursos de Jornalismo Online e Videorrepórter para mais de 2 mil pessoas. No curso em que se ensina videorreportagem, invariavelmente o ministrante exibe vídeos. Particularmente, sempre gostei de exibir matérias e apontar erros. Entendo ser uma forma de ensinar.

Entre esses vídeos, gosto de exibir uma reportagem investigativa que fiz em 2004, na fronteira da Bolívia com o estado de Rondônia. Disfarçado de turista, me aventurei por aquela região para denunciar quadrilhas que roubam carros no Brasil e os vendem na Bolívia. O pior de tudo: com o aval do governo boliviano, que legaliza por lá os carros roubados chamados de ‘indocumentados’.

Nas aulas, tento apontar os erros, seguindo aquela linha: ‘se fosse fazer essa mesma matéria novamente, mudaria muita coisa nas fases de produção, gravação e edição’. Mas os alunos sempre se interessam pelos bastidores. ‘Como você conseguiu achar esse cara?’. Quase sempre, se referiam a um sujeito que, para reaver sua moto, atravessou a fronteira e assaltou o boliviano que comprou seu veículo.

Eu sempre respondi, tentando logo voltar ao aspecto técnico da reportagem. ‘Vejamos os erros’. Em vão. Logo vem outra pergunta sobre os bastidores. E assim acontece em todas as matérias que tenham alguma dose de adrenalina.

Eis que um dia eu decidi contar as histórias dos bastidores do Jornalismo. Não as minhas histórias, pois elas são ínfimas diante da riqueza de boas reportagens nas emissoras brasileiras. Mas contar as histórias dos outros. Assim surgiu, em janeiro deste ano, a coluna O Dia D, que agora se despede do Comunique-se, envolta em um projeto de, quiçá, tornar-se um livro.

A coluna O Dia D, portanto, se despede do Comunique-se. Mas seu autor não. Nos próximos dias, estréia a coluna ‘Raio-X’. Também oriunda da curiosidade da platéia — de seminários e palestras —, a coluna falará do mercado de trabalho, condições profissionais e pessoais dos jornalistas brasileiros. O pontapé inicial será dado semana que vem, dia 10/11, com base em uma pesquisa que estou concluindo no Comunique-se.

Aos que debateram a área de comentários de O Dia D, fica o agradecimento. A todos, fica o convite para mais debates na nova coluna.

(*) Cassio Politi é jornalista formado pela Faculdade Cásper Líbero. Atuou como videorrepórter de matérias de Cidades e Especiais no Uol News, comandado por Paulo Henrique Amorim até 2004. Trabalha com Internet desde 1997. Esteve em projetos pioneiros em jornalismo na Web, como sites da Zip.Net. Ministra cursos de extensão há cinco anos e deu aulas em 24 estados brasileiros para quase 2 mil jornalistas e estudantes de Jornalismo. Atualmente, tem suas atenções voltadas para a área de Marketing. Ocupa o cargo de Diretor da Escola de Comunicação, a unidade de cursos e seminários do Comunique-se.’



VEJA
Eduardo Ribeiro

As eleições e a mídia, 1/11/06

‘Uma despretenciosa charge publicada pelo Jornal do Comércio de Porto Alegre, de autoria do cartunista Santiago, comparando a revista Veja a uma revista de sacanagem, foi a deixa que a publicação considerou oportuna para esclarecer aos seus leitores e à opinião pública, em editorial, que seu jornalismo é sim crítico, mas nunca de perseguição a quem quer que seja.

Para os leitores do Comunique-se entenderem melhor, na charge, Lula está numa banca e pede uma revista de sacanagem: ‘A ‘Veja’, aquela que só me sacaneia!’.

Na Carta ao Leitor da edição que foi às bancas no último final de semana, Veja diz que o cartum é apenas uma piada e não deve ser levado a sério, mas acrescenta que ‘a charge gaúcha, ao brincar com um ponto de vista equivocado e difundido entre as hostes petistas – o de que Veja tem o objetivo de ‘perseguir’ o presidente Luiz Inácio Lula da Silva –, fornece uma boa oportunidade a esta revista’. O texto afirma que a figura de Lula poderia ser substituída pela de outros governantes, como Collor e FHC, ambos também, segundo o texto, duramente criticados pela revista ao tempo em que governaram o Brasil. ‘A missão a que Veja se propôs é a de fiscalizar todos aqueles que estão no poder, não importa a agremiação a que pertençam’, afirma o artigo que, antes de encerrar, rememora ter o PT sido derrotado em duas ações que movia contra Veja no Tribunal Superior Eleitoral – TSE, instituição que, segundo a revista, ‘deixou claro que a liberdade de imprensa ampara justamente o direito de opinião’. Ao final, afirma que ‘o lado de Veja é do lado do Brasil’.

O próprio autor da charge, Santiago, não aceita esta explicação da revista, tanto que não a autorizou a usar a ilustração. Em entrevista ao site ColetivaNet, que tem sede em Porto Alegre e cobre o segmento de comunicação, particularmente do Rio Grande do Sul, ele disse considerar ‘a Veja muito adjetiva’ e ‘tendenciosa’. Para protestar, disse que redigiria uma carta para a revista, na expectativa de que fosse publicada, ainda que lá, segundo ele ‘normalmente só saem as cartas elogiosas’.

Para Santiago, o editorial publicado soou como ‘uma confissão de culpa’ e ‘um pedido de desculpas aos leitores’. O lado bom, segundo diz, é que essa postura não deixa de ser um avanço: ‘É bom que a mídia faça uma autocrítica, ela que nunca enxerga as próprias falhas’, falou.

Santiago, mesmo concordando que a charge seja uma piada como diz o texto de Veja, retruca, lembrando que a charge faz rir, mas tem também o lado da crítica: ‘É para rir num primeiro momento e refletir num segundo momento. Esse é o intuito do cartunista e eu espero que os leitores também entendam o trabalho dessa forma’.

Se Veja exagerou ou não nas críticas e no tom, é assunto controverso. Mas vale aqui reproduzir um diálogo que o presidente Lula teve, dias antes das eleições, com um graduado executivo com fortes ligações com o comando na Abril, inclusive revista Veja, num encontro pessoal. Foi um desabafo, ao qual este Jornalistas&Cia teve acesso: ‘A imprensa brasileira fez duras e contundentes críticas contra o meu governo e mesmo contra mim, talvez como poucas vezes se viu na História do Brasil. Democraticamente, mesmo discordando, aceitei todas elas. Mas a revista Veja foi rasteira, me humilhou, me tratou de forma indigna, como nunca ocorreu em toda a minha vida. Isso não é jornalismo’. Foi uma referência a algumas das edições que ele considerou ofensivas à sua honra, entre elas a que traz na capa uma ilustração na qual leva um pé nos fundilhos no imbróglio envolvendo a decisão do governo boliviano de expulsar a Petrobras do País, de forma unilateral.

Outro tema que está agora mobilizando Veja é a intimação dos repórteres Marcelo Carneiro, Júlia Duailibi e Camila Pereira no inquérito aberto pela Polícia Federal para apurar a veracidade das informações dando conta de um encontro clandestino de Freud Godoy, ex-assessor de segurança de Lula, com Gedimar Passos, preso com parte do dinheiro arrecadado pelo PT para comprar à Máfia dos Sanguessugas o dossiê contra políticos do PSDB. Os três estiveram nesta 3ª.feira (31/10) pela manhã na sede da PF em SP e foram interrogados pelo delegado Moysés Eduardo Ferreira. Nota postada no final da tarde por Ricardo Noblat, no Blog do Noblat, fala que os três teriam sido intimidados pelo delegado, mas o mesmo Noblat, pouco depois, divulgou a versão do delegado, defendendo-se das acusações.

Veja Online diz, em chamada (Abusos, ameaças e constrangimentos a jornalistas de Veja), que ‘para surpresa dos repórteres sua inquirição se deu não na qualidade de testemunhas, mas de suspeitos’. Acrescenta a nota que ‘as perguntas giraram em torno da própria revista que, por sua vez, pareceu aos repórteres ser ela, sim, o objeto da investigação policial’. Mesmo ressalvando não ter havido violência física, a nota conclui: ‘o relato dos repórteres e da advogada que os acompanhou deixa claro, no entanto, que foram cometidos abusos, constrangimentos e ameaças em um claro e inaceitável ataque à liberdade de expressão garantida na Constituição’.

Sobre o tema, J&Cia recebeu e-mail do editor de IstoÉ Dinheiro, Leonardo Attuch, no qual recapitula as denúncias de Veja contra ele na chamada Operação Gutenberg, subproduto da Operação Chacal (contra Kroll e Opportunity): ‘Passaram-se dois anos e a própria Veja passou a escrever que, naquele caso específico, a Polícia Federal pode ter se vendido à Telecom Italia para promover a Operação Chacal (ler artigo ‘Notícias da Itália’, de Diogo Mainardi). Lembro de ter escrito naquela ocasião, em artigo publicado neste mesmo Comunique-se: ‘Hoje sou eu, amanhã serão eles’.’

O ataque de Brasília

Os acirrados ânimos da última disputa eleitoral provocaram uma outra situação de intolerância em Brasília, na última 2ª.feira (30/10), quando militantes petistas atacaram alguns jornalistas durante as comemorações pela reeleição do presidente Lula. Os alvos principais foram a revista Veja e a TV Globo. O episódio foi duramente condenado pela ANJ, por meio de seu diretor-executivo, Fernando Martins, que afirmou: ‘Procedimentos dessa natureza têm origens naqueles que não entendem o pleno exercício da liberdade de informação, que só entendem a linguagem da truculência’. Sérgio Murillo de Andrade, presidente da Fenaj, também repudiou a ação, mas ressalvou que houve excessos da imprensa e que isso contribuiu para acirrar os ânimos, devendo ser motivo de reflexão.

O desabafo da equipe da Globo

‘Com revolta, perplexidade e pesar, nós, jornalistas da Rede Globo, nos vemos no dever de denunciar a insistente tentativa de atingir nossa honra e nossa correção profissional por alguns supostos colegas nestes dias que antecedem o encerramento das eleições 2006.’ Assim começa o manifesto assinado por 172 jornalistas da Rede Globo e divulgado no último dia 27/10 em protesto contra as acusações de ‘tentativa de manipulação do resultado do primeiro turno das eleições presidenciais’ e de ‘negligência na divulgação dos fatos envolvendo a tragédia do vôo 1907 da Gol, para supostamente favorecer as denúncias contra petistas no episódio do dossiê Vedoim contra os tucanos, incluindo a divulgação de fotos do dinheiro apreendido’.

Foi uma resposta a uma matéria publicada pela revista Carta Capital que coloca sob suspeição a cobertura da Globo, considerando-a tendenciosa a favor do tucano Geraldo Alckmin. Diz o manifesto: ‘O que não toleramos é que, no caso dos profissionais da Rede Globo, a nossa postura correta de cautela e busca da precisão seja transformada numa mentira covarde e desonesta de um certo grupo de detratores. Estes, sim, traidores de um compromisso ético do jornalismo – porque nos acusam sem o menor pudor, sem conhecimento nenhum de nossos procedimentos. Em nome de nossa honra, nós, jornalistas da Rede Globo, registramos publicamente nosso repúdio às calúnias que têm sido feitas contra nosso trabalho na cobertura das eleições 2006. Somos jornalistas compromissados com a nossa profissão. Confiamos cada um no trabalho do colega ao lado. Jamais tomaríamos parte de complôs de natureza partidária, ou de qualquer outra, que, na verdade, têm vida apenas na cabeça daqueles que, dominados pela paixão política, não se envergonham de caluniar profissionais honestos.’

Nesta 2ª.feira (30/10), os jornalistas da Globo receberam o apoio integral da própria Direção da emissora. Em carta a eles endereçada, o presidente do Conselho Editorial, João Roberto Marinho, afirmou: ‘Nossa redação agiu com responsabilidade, correndo para levar informação o mais rapidamente possível aos espectadores, mas sem sucumbir diante da pressa: cuidadosa para não levar angústia desnecessariamente a lares brasileiros, pôs no ar a notícia apenas quando ela estava confirmada, sem possibilidade de erro. Isso é prova de maturidade. Fomos também vítimas de acusações infames e injuriosas, uma forma de pressão que eu supunha já superada entre nós. Mas até mesmo esses momentos foram muito importantes. Pude ter certeza absoluta de que os colaboradores da Rede Globo sabem que podem e devem discordar das decisões editoriais no trabalho cotidiano que levam à feitura de nossos telejornais, porque o bom jornalismo é sempre resultado de muitas cabeças pensando. Ao mesmo tempo, eu me convenci de que esses mesmos colaboradores conhecem a casa para a qual trabalham porque, diante de calúnias e infâmias, reagem, não com dúvidas ou incertezas, mas com repúdio e indignação. Chamo isso de lealdade e confiança, sentimentos sem os quais é impossível criar um laço de longo prazo…Nossa aliança é exclusivamente com a ética, com a busca da verdade e da isenção.’

Um dos editores da Globo diz que a carta de João Roberto no fundo é o reconhecimento explícito de que a equipe cumpriu com profissionalismo e ética a sua missão.’



JORNAL DA IMPRENÇA
Moacir Japiassu

Duas oncinhas, 3/11/06

‘o homem só, velho e cansado, olha para a frente e nada vê.

(Moacy Cirne in Continua na próxima, 1994)

Duas oncinhas

Deu em tudo quanto é jornal daqui e d’alhures:

Onça ferida invade hospital no Mato Grosso do Sul.

Janistraquis, que na juventude ganhava a vida a dar banho em onça na beira dos rios, achou deveras interessante a notícia que reforçou mundo afora a idéia de nosso atraso:

‘O episódio nos remete ao resultado da eleição, considerado; na briga das duas oncinhas, a analfabeta saiu ilesa e foi pros jardins do Torto sorver sua agüinha fresca, aquela mesma que passarinho não bebe; a outra onça saiu ferida mas, como sabe ler, procurou logo um hospital.’

Moral da fábula: saber ler pode não ser a melhor vingança, mas bem que quebra o galho…

Ora, as urnas!

O considerado Jorge Arthur de Mello Alves, advogado em Porto Alegre, pede licença ‘para um pequeno desabafo’:

Tenho lido aqui e ali que não se deve falar em impeachment porque ‘é preciso respeitar o resultado das urnas’. É, sem dúvida, muito engraçado, porque quando o atingido foi Collor, não apareceu ninguém pedindo respeito ao resultado das urnas. E Collor foi legitimamente eleito. Ou não?

É verdade, Jorge, porém Janistraquis confessa que não deu a mínima para o destino de Collor porque em 1989 seu candidato foi Leonel Brizola.

Na internet

Ainda bem que a mulher veio da costela, porque se tivesse vindo do filé mignon só rico ia poder comer.

De privatizações

Carta de leitor da Folha de S. Paulo:

‘Ouvi muitos eleitores dizerem que votaram em Lula por medo de que, em uma hipotética vitória de Alckmin, as privatizações voltassem a ocorrer. Daí eu perguntei: ‘mas por que Alckmin privatizaria?’. O eleitor me responde: ‘o FHC privatizou’. Não entendi e retruquei: ‘Mas FHC não é candidato’. O cujo respondeu: ‘Mas é do mesmo partido!’.

Pois bem, se fôssemos considerar as ações futuras de um eleito tomando por base os integrantes do seu partido, alerto a todos: vai ter mensalão de novo. Teremos mais sanguessugas, mais caixa dois.’

LEANDRO JOSÉ VIEIRA (São Paulo, SP)

Estadista

O considerado Leomir Tavares Serpa, de Porto Alegre, enviou bem-humorada mensagem à coluna, da qual Janistraquis extraiu o seguinte fragmento:

‘(…) e na terça-feira à noite, escutei, pejado de esperança, que Lula iria falar da cadeia; infelizmente, o homem falou em cadeia de rádio e TV. Aí, discursou à moda dos grandes estadistas, como se fosse um Paulo Maluf.’

Iiiiiiihhh, Serpa, os petistas leitores da coluna não vão gostar da comparação, a qual, para muitos deles, é pior do que cadeia.

Parábola

A considerada Iracema Torquato recebeu do Professor Jorge K. Ijuim, jornalista e docente da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), interessante parábola sobre um empreiteiro de obras cujos empregados tinham por hábito roubar os clientes. Ele mesmo nunca sabia de nada.

Leia no Blogstraquis a íntegra dessa historinha exemplar.

No mesmo time

Janistraquis acompanha a carreira de Roberto Requião desde os tempos heróicos de Haroldo Leon Peres, admira a valentia dele e, depois da leitura das últimas diatribes do homem, chegou à seguinte e surpreendente conclusão:

‘Considerado, se você observar bem, o Requião joga no mesmo time do Eurico Miranda.’

Achei prudente não perguntar se isso é bom ou ruim.

Moacy Cirne

Leia no Blogstraquis a íntegra do Poema Final, cujo excerto encima esta coluna.

Derrota certa

Chamadinha na capa do Globo Online:

Presidente eleito terá que lutar contra os números para ter maioria dos deputados.

Janistraquis leu e suspirou:

‘Ah, considerado, o segundo mandato vai ser aquele sufoco! Agora, além de lutar contra as palavras, o reeleito vai se atracar com os números.’

É, não será moleza, principalmente porque todos os estudiosos garantem que a guerra em duas frentes é meio caminho para a derrota.

Vida mansa

Antes de viajar para fazer talassoterapia em Porto de Galinhas, porque já não suportava mais o poluído ar da capital brasileira, o considerado Roldão Simas Filho, diretor de nossa sucursal no Planalto, cercada por todos os lados pelos eflúvios procedentes da Residência do (moralmente) Torto, pois Roldão, profissional de grande responsabilidade, deixou pronta esta notinha:

‘O Correio Braziliense fez excelente cobertura do desastre com o vôo 1907 da Gol e chegou a dedicar ao caso catorze páginas, em duas edições seguidas. Só não entendi por que grafaram o nome da fábrica do avião com inicial minúscula – boeing – , como se fosse um substantivo comum.’

Mestre Roldão não informou o nome da empresa nem o avião que o levou à vida mansa em Porto de Galinhas.

Lesão grave

Debaixo do título Dunga convoca Brasil com cinco novidades, lia-se no UOL Esportes:

‘(…) Ricardo Oliveira, por sua vez, volta à seleção depois de perder a última Copa do Mundo, em razão de uma lesão grave.’

Janistraquis botou a cabeça pra pensar, pensou, pensou, pensou um pouco mais e somente então abriu a boca:

‘Considerado, não consigo me lembrar que Ricardo Oliveira tenha perdido a última Copa ‘em razão de uma lesão grave’. Você se lembra?’

Não me lembro de jeito nenhum e se o considerado leitor desta coluna tem boa memória, por favor nos dê alguma luz, tá certo?

Maioria contra Lula

De todos os considerados leitores que enviaram mensagem ao colunista com voto de solidário pesar, o mais otimista foi Pedro Rodrigo Fernandes, de Salvador, que preferiu fazer algumas contas:

Lula foi reeleito com pouco mais de 58 milhões de votos; as abstenções consumiram 23.914.326 votos; some-se mais 4.808.500 nulos e 1.351.443 brancos e teremos um total de 30.074.269 votos jogados no lixo. Geraldo Alckmin teve 37.543.028 de votos. Se o considerado juntar tudo, veremos que, dos 126 milhões de eleitores brasileiros, 67.617.297 não estão inteiramente satisfeitos com lulalá.

Janistraquis, que anda apavorado com essa história de ‘Poupança Fraterna’, confisco capaz de solidificar a amizade entre Lula e Collor, cumprimenta o baiano Pedro Rodrigo, certamente um dos muitos e muitos que estarão com as barbas de molho, os dois pés atrás e várias pulgas no cangote, para vigiar o comportamento da horda petista nos próximos quatro anos.

Lugar comum

O considerado leitor Filipi Manuel de Oliveira, assessor de imprensa na Literal Link Comunicação Integrada, do Paraná, lia o boletim Bonde News para ficar em dia com o que acontece no mundo quando foi soterrado por este titulão metido a escorreito:

Três homicideos em Londrina nas últimas 48 horas.

Filipi, que adora a letra i, achou um absurdo terem surrupiado a simpática vogal da palavra homicídio:

Até procurei saber se existia uma variação do latim ou sei lá o quê. Mas não. Erro mesmo. Distração.

Na abalizada opinião de Janistraquis, ó Filipi, ocorreu um quarto assassinato ou, pelo menos, lesão corporal de natureza grave em Londrina. E repetiu o chavão segundo o qual a vítima foi a língua portuguesa.

‘Todavia, o autor pode ficar tranqüilo’, avisa meu secretário; ‘é que me informei e o delito ainda não figura entre os crimes hediondos.’

Esculhambação

A considerada leitora Vera Pereira Vargas, de São Paulo, ficou revoltada com matéria do site Última Instância, cuja chamada saiu na capa do UOL com o seguinte título: Estudo do Ilanud revela que Lei de Crimes Hediondos não reduziu criminalidade.

(…) Elaborada a partir de dados de 1990 a 2003, sobre os índices de violência dos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e sobre a população carcerária brasileira, a pesquisa aponta para uma velha questão sobre a criminalidade: adotar uma legislação penal mais dura no Brasil é um caminho para reduzir a violência? As conclusões do estudo aquecem ainda mais esse debate, ao indicar que o endurecimento a lei não inibe a prática do crime, que deve ser enfrentada por meio de políticas criminais mais conseqüentes (…)

Vera apelou às maiúsculas para expressar sua revolta:

É CLARO QUE A LEI DE CRIMES HEDIONDOS NÃO REDUZIU A CRIMINALIDADE; A LEI SIMPLESMENTE NÃO É CUMPRIDA NESTE IRRESPONSÁVEL PAÍS!!! E ESSA ‘PESQUISA’ É PARA VER SE ACABAM DE VEZ COM ELA.

Janistraquis e eu estamos com você Vera, e não abrimos de jeito algum.

Nota dez

A considerada Barbara Gancia escreveu na Folha de S. Paulo, sob o título Segundo mandato será de lascar:

O EXERCÍCIO da futurologia não é o meu forte. Mas, hoje, só de farra, vou dar uma de Mãe Dinah e arriscar alguns palpites sobre o que irá acontecer depois das eleições do próximo domingo.

Leia no Blogstraquis a íntegra das divertidas previsões.

Errei, sim!

‘A FOLHA E O TEMPO – José Nêumanne, jornalista de escol, escritor de prosa e verso, andarilho de Barcelona à Borborema, envia por fax seu espanto juntamente com este subtítulo da Folha de S. Paulo: Equipe do Parque São Jorge vence São Paulo nos pênaltis, ontem à tarde.

Vence ontem! Janistraquis concorda, Nêumanne: é mesmo a relativização do tempo, que nem Einstein tinha ousado imaginar – o presente no passado!!!’ (abril de 1995).

Colaborem com a coluna, que é atualizada às quintas-feiras: Caixa Postal 067 – CEP 12530-970, Cunha (SP) ou moacir.japiassu@bol.com.br).

(*) Paraibano, 64 anos de idade e 44 de profissão, é jornalista, escritor e torcedor do Vasco. Trabalhou no Correio de Minas, Última Hora, Jornal do Brasil, Pais&Filhos, Jornal da Tarde, Istoé, Veja, Placar, Elle. E foi editor-chefe do Fantástico. Criou os prêmios Líbero Badaró e Claudio Abramo. Também escreveu oito livros, dos quais três romances.’



RELACIONAMENTO VIRTUAL
Marcelo Russio

Jornalistas de Orkut, 31/10/06

‘Olá, amigos. Nos últimos tempos, um dos maiores meios de pesquisa que o jornalismo ganhou é a internet, especialmente o esportivo, que em algumas cidades possui barreiras quase intransponíveis no acesso aos atletas. Com a chegada dos comunicadores, é possível fazer entrevistas com atletas e repercutir o que for possível com eles, sem a presença dos assessores de imprensa.

Entretanto, nenhum mecanismo hoje supera as páginas de relacionamentos, que tem sido um verdadeiro dínamo de pautas para jornalistas esportivos. Através destes sites, é possível saber detalhes da rotina dos atletas, preferências clubísticas, paradeiro e muito mais coisas, que auxiliam a montagem das matérias.

Claro que nada supera a apuração ‘ao vivo’ com jogadores e fontes. Mas, conforme o tempo vai passando, começam a surgir jornalistas especialistas em buscas nos sites de relacionamento. Alguns conseguem descobrir até mesmo detalhes sobre negociações de atletas através de buscas nas páginas dos boleiros.

Como já havia sido dito anteriormente, este vem sendo um valioso meio de pesquisa e de geração de idéias para pautas sobre os jogadores, mas, claro, a apuração e a feitura das matérias não pode ficar apenas no resultado das pesquisas.

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Quem lê as colunas sabe que eu sou um crítico do comportamento de técnicos e jogadores em coletivas de imprensa. Aliás, sou um crítico das coletivas em si, por achar que inibe a criatividade dos jornalistas.

Entretanto, na semana passada, fui obrigado a dar razão a Vanderlei Luxemburgo. Em uma coletiva no CT Rei Pelé, em Santos, o treinador se irritou com repórteres que, durante a coletiva, levantavam e deixavam a sala de entrevistas, ameaçando parar de falar com os jornalistas.

Luxemburgo está certo. Já que os profissionais estão na coletiva, devem cumprir o seu papel e, como o técnico disse, respeitar o entrevistado, evitando deixar o recinto antes do fim da entrevista. Claro que ninguém é obrigado a ficar em local nenhum, mas em uma coletiva pós-treino, é interessante ficar até o fim, porque sempre se pode colher alguma informação interessante de um personagem como Luxemburgo.

Por outro lado, o ego do treinador ficou claramente ferido ao ver repórteres deixando a sala, como se não lhe dessem importância ou se não precisassem ouvir as suas palavras. Pensando bem, a vontade de levantar e ir embora deve ter sido muito grande…

(*) Jornalista esportivo, trabalha com internet desde 1995, quando participou da fundação de alguns dos primeiros sites esportivos do Brasil, criando a cobertura ao vivo online de jogos de futebol. Foi fundador e chegou a editor-chefe do Lancenet e editor-assistente de esportes da Globo.com.’



PARAPSICOLOGIA
José Paulo Lanyi

Cuidado com o padre Quevedo… , 31/10/06

‘…porque ele ainda zanza por aí… Tenha calma, vou abandonar esta linguagem arcana. Ocorre que, fuçando aqui e ali, encontrei um texto interessante para todos nós que, como os vendedores e os políticos, nos metemos a ganhar a vida tagarelando. Pelo bem da humanidade, é claro.

O artigo, Parapsicologia no Brasil: Entre a cruz e a mesa branca, foi escrito pela parapsicóloga Fátima Regina Machado, pesquisadora da PUC/SP, e publicado no site Ceticismo Aberto, que pretende ‘promover o ceticismo na análise dos fenômenos ditos paranormais e ufológicos’.

A professora Fátima Regina concentrou-se em uma das partes de sua dissertação de mestrado em Ciências da Religião, na PUC/SP- intitulada ‘A Causa dos Espíritos: Um estudo sobre a utilização da Parapsicologia para a defesa da fé católica e espírita no Brasil’.

A análise publicada na Internet destaca principalmente o desenvolvimento da parapsicologia no nosso país e enfatiza os desvios que teriam levado à desinformação sobre a verdadeira natureza dessa ciência- também conhecida como metapsíquica, pesquisa psíquica e pesquisa psi: ‘Ao ouvirmos falar em ‘Parapsicologia no Brasil’, nos vem à mente um misto de idéias que envolvem crendices, superstições, religiões, ocultismo. Realmente observa-se uma miscelânea de assuntos e práticas que, ao longo do tempo, foram abrigados sob o guarda-chuva denominado ‘Parapsicologia’ para onde tudo o que é estranho, bizarro e aparentemente fora do normal foi empurrado’.

Mais adiante ela busca esclarecer: ‘Segundo o Foundations for Parapsychology , publicado em 1986 nos EUA, escrito por membros da Parapsychological Association , a mais importante associação internacional de pesquisadores(as) psi, a Parapsicologia seria ‘…o campo científico que estuda as interações sensoriais e motoras que aparentemente não são mediadas por nenhum mecanismo ou agente físico conhecido’.

As estrelas do artigo publicado no Ceticismo Aberto são, por assim dizer, dois conhecidos pesquisadores da religião: Oscar Gonzáles-Quevedo (sim, ele mesmo, o tá-em-todas Padre Quevedo) e Hernani Guimarães Andrade, engenheiro estudioso do Espiritismo de Allan Kardec. Democraticamente, a professora desce a lenha nos dois.

Uma pausa agora para falar a língua que todos compreendem: Quevedo ainda está vivo; Hernani já morreu. Vamos, contudo, usar o tempo presente para nos referir aos dois, pois, você sabe, uma coisa é tida como certa: autores nunca morrem (infelizmente, às vezes …).

De acordo com a articulista, Quevedo e Hernani fizeram o suficiente para derreter por todo o sempre no inferno da Ciência. Ambos teriam se apropriado da parapsicologia para corroborar as suas teses religiosas. ‘…Pretendendo-se cientistas, não conseguem primar pela busca da tão desejada neutralidade científica’.

Vale a pena ler o texto inteiro, são muitos os argumentos. Fico, entretanto, com estas duas passagens, uma para cada um:

‘Quevedo foi criticado pelo psicólogo porto-riquenho Alfonso Martínez Taboas em um artigo publicado, entre outros meios, pela Revista Brasileira de Parapsicologia (1993). Nesse artigo, Taboas afirma que não se pode negar que os livros e artigos de Quevedo citem, como referência, grande quantidade de obras clássicas, porém,

[afirmação textual de Taboas; o negrito é obra deste colunista] …se fazemos uma revisão crítica e detida em seus [de Quevedo] argumentos e documentação, nos defrontaremos com algo que nos causa estranheza. O que pareciam ser citações fidedignas de documentos, em ocasiões não infreqüentes, são distorções dos originais; seus raciocínios se debilitam consideravelmente ao nos depararmos com a sutileza com que usa diversas falácias; o que parecia ser uma conclusão irrefutável, ao tratar-se de verificá-las nos documentos citados, mostrou-se insustentável, devido ao manejo de documentos. (Taboas, 1993, p. 20).

(…)

[prossegue a autora, linhas depois] Andrade, por sua vez, afirmou também em entrevista a mim concedida em 1996, em Bauru, que começou por um caminho de busca pessoal por explicações a respeito da origem e manutenção vida. Ele se dizia um ‘franco-atirador’, não-religioso, sem ligação formal com nenhuma associação. Curiosamente, porém, publicou vários textos no jornal Folha Espírita defendendo explicitamente o Espiritismo utilizando-se de pseudônimos para assiná-los, quais sejam K.W. Goldstein e Lawrence Blacksmith’.

O artigo da professora Fátima Regina, metodologicamente apoiado em várias fontes, é uma contribuição não só à parapsicologia mas a todos aqueles que se proponham a buscar uma verdade. Este colunista não desmerece a luta dos que dão a cara para bater na mídia, na defesa legítima daquilo em que sinceramente acreditam – e que até pode (vai saber…) ter respaldo em uma, duas ou muitas verdades. Havemos de ouvi-los com atenção e respeito. Afinal, trabalhar é sempre mais difícil do que condenar, por esporte ou soberba…

Mas este mesmo colunista chama a atenção para a necessidade de um método que leve, no tempo necessário (décadas, séculos, milênios…), a uma verdade verificável, ainda que (vai saber…) essa verdade seja o nada, para desespero de muita gente.

A nós, jornalistas, cabe uma advertência: tenhamos cautela no trato com as fontes, sobretudo nessas questões que nos são estrangeiras. Parapsicólogos nem sempre são ‘tão parapsicólogos assim’, para ficarmos no exemplo de hoje. A nossa imprudência provoca a ignorância do público. Isso pode ser bom para a audiência de certos programetes de TV. Mas é um míssil teleguiado e carregado de obscurantismo, direto na cabeça de cada pessoa.

Do lado de cá da palavra, o nosso abrigo deve ser o de sempre: ler, ver, ouvir, conhecer, observar, informar-se sobre tudo o que pudermos. Afinal (eu não resisto), é como Sartre dizia: o inferno são os outros…

(*) Jornalista, escritor, dramaturgo, ator, escreveu quatro livros, um deles com o texto teatral ‘Quando Dorme o Vilarejo’ (Prêmio Vladimir Herzog). Compositor, é autor da Sinfonia Atlântica, em parceria com o músico paulistano Flávio Villar Fernandes. No jornalismo, tem exercido várias funções ao longo dos anos, na allTV, TV Globo, TV Bandeirantes, TV Manchete, CNT, CBN, Radiobrás e Revista Imprensa, entre outros. Tem no currículo vários prêmios em equipe, entre eles Esso e Ibest, e é membro da APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes).’



O XIS DA QUESTÃO
Carlos Chaparro

A esperteza de usar a imprensa e dizer mal dela, 3/11/06

‘Se levássemos ao pé da letra os conceitos que o sr. Marco Aurélio Garcia emite sobre jornalistas e jornalismo, seríamos obrigados a acreditar numa idiotice: a de que o fenômeno Lula foi um produto da mídia.

Com arrogância de dono de poderes, falando não se sabe se como membro do governo ou como presidente interino do PT (ou ambas as coisas), o sr. Marco Aurélio Garcia marcou conversa com jornalistas, dia 31 de outubro, para lhes dar um puxão de orelhas, em jeito de ordem: façam uma ‘auto-reflexão’ sobre a cobertura das eleições. E acrescentou que a mídia devia ao país a explicação de que o mensalão não teria existido. Esqueceu, coitado, que há um processo correndo na Justiça, contra uma certa ‘quadrilha’ identificada pelo Procurador Geral da República…

Mas aconteceu o que o sr. Marco Aurélio queria: o dito foi publicado. Virou notícia, sem contestações nem desmentidos. Transformada em notícia, a fala do ministro ganhou força de ação discursiva de largo alcance. E com efeitos imediatos – um dos quais, subjetivo, o incentivo político a agressões da militância petista aos jornalistas.

Além do destaque dado à fala do ministro, as edições do dia 1º de novembro socializaram, também, a polêmica ideológica e política instalada no PT pelo chamado grupo ‘desenvolvimentista’ (do qual o sr. Marco Aurélio faz parte). O grupo quer ‘o fim da era Palocci’ e a derrubada de Henrique Meirelles da Presidência do Banco Central.

E o que fizeram eles para colocar a polêmica na discussão pública?

Chamaram os jornalistas e, pela fala do ministro Tarso Genro, disseram o que, depois de dito, não poderia deixar de ser publicado: ‘Acabou a era Palocci’. A frase de efeito, ampliada pelo poder de difusão do jornalismo, ganhou significado de lance ousado no tabuleiro político dos cenários pós-eleitorais, antes que as alianças e os acordos dividam o poder. Na verdade, a metáfora queria dizer exatamente o seguinte: o PT dará tom e rumo ao segundo mandato.

O presidente Lula, que de bobo nada tem, e precisa fazer com sucesso as alianças de que necessita, logo chamou os rebeldes às falas e lhes passou o devido pito: ‘Quem dá tom e rumo ao governo sou eu’. E os desenvolvimentistas de novo chamaram os jornalistas de plantão para que, no dia seguinte, novo recado fosse espalhado ao mundo político: fica o dito pelo não dito, porque ‘quando o presidente fala, dá linha para todo o governo e enquadra politicamente todos os seus ministros’. Mas o lance estava dado e produzira os efeitos desejados, colocando a polêmica no principal espaço da discussão pública, o jornalismo. Afinal, os senhores políticos que tanto se queixam da imprensa, sabem muito bem como usá-la, nas brigas políticas do seu interesse.

Nem tudo, porém, é explícito. No caso desta rusga preventiva, que tanto interessa ao atual núcleo de poder do PT, era preciso deixar veredas abertas para a possibilidade de atribuir à imprensa a culpa da crise criada pelo profetizado fim da era Palocci. Assim, em movimento taticamente combinado, o ministro Marco Aurélio Garcia voltou a receber os jornalistas, para a socialização de novo recado. Como diriam os sábios gaúchos, molhou o couro antes da chuva: fez profissão de fé na liberdade de imprensa e condenou as agressões da militância aos jornalistas. Para logo em seguida produzir, mais uma vez em tom de ordem, a frase que lhe convinha, jornalisticamente irrecusável: ‘Cuidem das redações, que nós cuidamos do PT’.

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Como dono de poderes, o sr. Marco Aurélio Garcia é um hábil manipulador. Sabe como e consegue colocar na pauta jornalística tudo o que quer dizer, no seu agir político. Tem o espaço que quer na mídia, e quando quer. Ao mesmo tempo, tenta acuar jornais e jornalistas, acusando-os, sem argumentos, mas com frases cortantes, de fabricarem invencionices. Levanta suspeições partidárias sobre os critérios editoriais. Mas, quando em idos tempos era oposição, sabia como alimentar a polêmica política pela divergência, usando o jornalismo como espaço e linguagem de ação – práticas que agora considera pecaminosas.

Felizmente, além de dono de poder, o sr. Marco Aurélio Garcia é também dono de sofisticado saber. E como intelectual, sabe muito bem que na sociedade globalizada pelas tecnologias de difusão, o jornalismo se tornou o espaço público mais importante e a linguagem mais eficaz para que os conflitos da democracia aflorem e se realizem. O jornalismo não tem, portanto, compromissos com o governo, nem com partidos políticos; tem compromissos com a sociedade, que vem a ser o resultado dinâmico da lógica dos conflitos e acordos que continuamente a reelaboram.

Por saber academicamente adquirido e experiência política própria, sabe também o sr. Marco Aurélio Garcia que os protagonistas da narração jornalística não estão nas redações, mas nos espaços institucionais onde, de forma democrática, os grupos humanos organizados geram e resolvem os conflitos dos quais resultam os avanços civilizatórios.

Esse é o papel dos sujeitos sociais que dão vida e articulação institucional à democracia – os partidos políticos oponentes, os que votam e os que são votados, os que governam e os que são governados, os que exercem o poder de governar e os que assumem deveres de oposição, os que têm a obrigação institucional de servir e os que têm o direto a ser servidos, os que divergem e os que concordam, os que querem mudar e os que lutam para que nada mude. Todos têm direito a ocupar o espaço público do jornalismo, para os embates discursivos próprios da democracia. Nos antagonismos dos seus dizeres e fazeres, eles são os produtores dos conteúdos que ao jornalismo cabe socializar.

Se levássemos ao pé da letra os conceitos que o sr. Marco Aurélio Garcia emite sobre jornalistas e jornalismo, seríamos obrigados a acreditar numa idiotice: a de que o fenômeno Lula foi um produto da mídia.

Ora, todos sabemos que nas redações não se faz História. No caso de Lula, quem fez as greves e celebrou acordos, quem enfrentou a repressão, quem reformulou sindicatos e quem liderou a fundação do PT foi o operário Luiz Inácio da Silva, não os editores e repórteres que espalhavam ao mundo o que ele dizia e fazia, nas lutas por liberdade, justiça e democracia. Mas também é verdade que, sem o relato e a difusão jornalística do que Lula fez e disse, as transformações que hoje fazem a sua biografia não teriam acontecido.

Claro que a imprensa tem de ser vigiada e criticada, mas não pelas razões convenientes às táticas de poder do sr. Marco Aurélio Garcia. O jornalismo tem de ser vigiado e criticado pelo que nele tem de ser essencial: o dever do relato veraz e da elucidação honesta.

Ao tentar fazer da imprensa marionete dos seus jogos partidários, o sr. Marco Aurélio Garcia presta um mau serviço à Nação e à democracia.

(*) Carlos Chaparro é português naturalizado brasileiro e iniciou sua carreira de jornalista em Lisboa. Chegou ao Brasil em 1961 e trabalhou como repórter, editor e articulista em vários jornais e revistas de grande circulação, entre eles Jornal do Commercio (Recife), Diário de Pernambuco, Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, Diário Popular e revistas Visão e Mundo Econômico. Ganhou quatro prêmios Esso. Também trabalhou com comunicação empresarial e institucional. Em 1982, formou-se em Jornalismo pela Escola de Comunicação de Artes, da USP. Também pela universidade ele concluiu o mestrado em 1987, o doutorado em 1993 e a livre-docência em 1997. Como professor associado, aposentou-se em 1991. É autor de três livros: ‘Pragmática do Jornalismo’ (São Paulo, Summus, 1994), ‘Sotaques d’aquém e d’além-mar – Percursos e gêneros do jornalismo português e brasileiro’ (Santarém, Portugal, Jortejo, 1998) e ‘Linguagem dos Conflitos’ (Coimbra, Minerva Coimbra, 2001). O jornalista participou de dois outros livros sobre jornalismo, além de vários artigos (alguns deles sobre divulgação científica pelo jornalismo), difundidos em revistas científicas, brasileiras e internacionais.’



GOVERNO E MÍDIA
Antonio Brasil

A TV brasileira no segundo governo lula, 30/10/06

‘O presidente Lula foi reeleito pela grande maioria dos brasileiros. Mais uma vez, os brasileiros demonstraram que preferem evitar ‘mudanças’. É a velha teoria, produto de muitos anos de crises e decepções com o novo: ‘Está ruim, mas pode ficar pior’.

Para variar, a televisão brasileira teve um papel fundamental nas campanhas eleitorais. Quem soube fazer TV com um mínimo de competência foi eleito. Televisão no Brasil é mais importante do que a maioria das nossas instituições políticas. Televisão no Brasil é mais poderosa do que qualquer partido político. A TV não elege. Mas, no Brasil, influencia a opinião pública e pode ‘derrubar’ presidentes.

Até aí, tudo bem. O problema é que no Brasil, a TV se confunde com uma única empresa. A Rede Globo. Ela não elege presidente. Mas nesses últimos dias, na virada do primeiro turno, deu uma demonstração inquestionável da sua força. No momento, está meio adormecida, mas não está morta. Ainda digere as vantagens e os privilégios obtidos com a ‘providencial’ decisão do governo Lula pela implantação de um sistema de TV digital no últimos dia do seu primeiro mandato.

Pode ser mera coincidência. Mas essa decisão ‘política’no apagar das luzes de um governo em crise, também pode ter sido mera coincidência ou até mesmo produto de negociações secretas. O tempo, a história ou o jornalismo investigativo se encarregará de revelar a verdade. Afinal, o que não falta nesse governo, são vazamentos de informações de ‘inteligência’ consideradas estratégicas e confidenciais. Tem muitos ‘meninos aloprados’ soltos por aí tentando ajudar o governo a governar.

E a TV brasileira? Como será no próximo governo Lula? Quem será o próximo todo poderoso ministro das comunicações que terá como tarefa implantar a TV digital no país?

Creio que o ministro Hélio Costa já está em campanha para permanecer no cargo. Normalmente, os assessores do ministro ligam para ‘criticar’ a crítica. Já estou acostumado. Mas, esta semana, Hélio Costa, experiente jornalista e na velha tradição dos políticos mineiros, fez questão de ligar para o ‘crítico’ pessoalmente.

Reuniões e decisões

Se eu entendi bem, ele ligou para dizer que não gostou do último artigo desta coluna onde o Boni ‘critica’ a implantação da TV digital brasileira. Sobre a questão mais importante das reclamações do Boni, que declarou durante a sua palestra na UniverCidade que os empresários do setor não teriam sido ouvidos pelo governo, Hélio Costa citou um número impressionante de reuniões que foram organizadas pelo ministério das Comunicações para ‘ouvir’ todas as partes envolvidas.

Na oportunidade, relembrei ao ministro, que o próprio Boni em seus tempos de ‘superintendente’ da TV Globo costumava dizer (ou assim diz a lenda) que ‘toda a vez que você não quiser tomar uma decisão, convoque uma reunião’. É a nossa velha e tradicional tendência da administração brasileira para formar grupos de trabalho ou comissões executivas e no final do processo, uma única pessoa, muito poderosa e apoiada por grupos ainda mais poderosos, acaba decidindo tudo sozinho mesmo.

Hélio Costa discorda. Diz que a decisão pela implantação de um sistema híbrido japonês e brasileiro, ou seja, único para o Brasil, foi democrática. Todos foram ouvidos e a maioria apoiou a decisão do governo Lula.

‘Passa lá em casa’

Para comprovar, o ministro fez questão de me convidar para uma visita ao seu gabinete em Brasília. Conheço Hélio Costa há muitos anos. Somos velhos colegas. Trabalhamos na implantação dos escritórios da Globo em Nova Iorque e em Londres no final dos anos 70. O político Hélio Costa sabe como lidar com os jornalistas. No telefone, foi cordial, ‘quase’simpático. Fez questão de citar muitos dados, demonstrou segurança e insistia que a decisão da TV digital brasileira não teria sido feita de forma ‘apressada’ ou para beneficiar determinado grupo econômico. Mais uma vez, reiterou o ‘convite’ para conversarmos pessoalmente.

Lidar com jornalistas quase sempre é muito bom. Mas não é tão fácil lidar com políticos. Políticos jornalistas devem ser ainda mais difíceis. Eles conhecem os segredos da nossa profissão. E nem todos os jornalistas conhecem os segredos da política.

No dia seguinte, liguei para a assessoria do ministro. Queria saber se o tal convite era ‘pra valer’, se era conversa de político em campanha para permanecer no cargo de ministro das comunicações, ou se era daqueles convites bem brasileiros no estilo ‘passa lá em casa’. Esses convites não acompanhados de dia e hora, normalmente significam um mero cumprimento e não um compromisso. Os pobres estrangeiros que visitam nosso país costumam ficar muito confusos como esse convite ‘passa lá em casa’.

Pergunte ao ministro

Estava disposto a ir do Rio à Brasília para ‘conversar’ sobre TV digital com o ministro. Por motivos éticos, faço sempre questão de pagar todas as minhas despesas quando recebo esse tipo de ‘convite’.

A assessoria do ministro Hélio Costa, como sempre, foi muito gentil. Mas, infelizmente, e para minha surpresa, fui informado que o ministro não poderia me receber nesta segunda, terça ou sequer na quarta. O ministro estaria de viagem marcada para o exterior.

Pena. Acho que era um convite no gênero ‘passa lá em casa’ mesmo. Mas vou continuar aguardando a oportunidade para conversar com o ministro Hélio Costa. Quem sabe? Também aproveito, para solicitar a colaboração dos nossos leitores. O que você gostaria de perguntar ao ministro das Comunicações Hélio Costa? Prometo repassar as perguntas. Um ministro das comunicações precisa se comunicar.

Afinal, com o apoio dos amigos e aliados certos, de ministro do governo Lula para o governo de Minas Gerais ou quem sabe, para a presidência da república, é só mais um passo de uma longa jornada.

(*) É jornalista, professor de jornalismo da UERJ e professor visitante da Rutgers, The State University of New Jersey. Fez mestrado em Antropologia pela London School of Economics, doutorado em Ciência da Informação pela UFRJ e pós-doutorado em Novas Tecnologias na Rutgers University. Trabalhou no escritório da TV Globo em Londres e foi correspondente na América Latina para as agências internacionais de notícias para TV, UPITN e WTN. Autor de diversos livros, a destacar ‘Telejornalismo, Internet e Guerrilha Tecnológica’ e ‘O Poder das Imagens’. É torcedor do Flamengo e não tem vergonha de dizer que adora televisão.’



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