COPA 2006
Imprensa felicita seleção de Scolari e lamenta despedida de Figo, 9/7/06
‘A imprensa portuguesa elogia neste domingo o técnico brasileiro Luiz
Felipe Scolari e a seleção nacional, depois do quarto lugar obtido no sábado na
Copa do Mundo, a segunda melhor campanha do país na história dos Mundiais.
‘Perdemos ontem, mas isto não tem nenhuma importância. Passamos dias
fantásticos’, afirma o jornal 24Horas depois da derrota de 3-1 para a Alemanha,
sábado, na disputa do terceiro lugar.’Portugal está satisfeito com o quarto
lugar na final de consolação contra a Alemanha’, opina o Diário de
Notícias.Portugal só havia participado de três Copas do Mundo antes do Mundial
da Alemanha. Em duas ocasiões o país foi eliminado ainda na primeira fase.A
melhor campanha lusitana em Copas foi o terceiro lugar de 1966, com direito a
uma derrota (1-2) nas semifinais para o país sede e futuro campeão, Inglaterra.A
derrota de Portugal para a Alemanha foi a despedida do veterano Luis Figo,
capitão da equipe, da seleção. Muitos jornais lamentam o fim de uma era para o
futebol lusitano.’Já sentimos falta de Figo’, destaca o jornal esportivo A Bola.
O concorrente O Jogo publica uma foto do jogador fazendo uma saudação aos
torcedores portugueses com a legenda: ‘Obrigado e adeus’.Alguns meios de
comunicação lamentam o fato da última partida de Figo, a 127ª pela seleção, não
ter coincidido com uma vitória.’Figo não merecia dizer adeus desta maneira’,
afirma o jornal Público.’Adeus amargo’, destaca o Correio da Manhã, que tem uma
fotografia de Figo deixando o gramado na primeira página.’
Alberto Dines
Da utilidade das derrotas, 7/7/06
‘Em Frankfurt, junto ao rio Main, tivemos o nosso Waterloo. A derrocada
final de Napoleão Bonaparte, aconteceu na Bélgica, não muito longe de onde fomos
destroçados pela tropa de Zidane, há 191 anos quase exatos (15 de junho de
1815).
Batido pelos ingleses e prussianos, o artífice da nova Europa (e também de
uma nova América do Sul) abdicou pela segunda e última vez. Waterloo tornou-se
símbolo de algo que transcende ao desastre militar. Significa ruína,
desmoronamento, declínio, soçobro e também decadência, esgotamento, caducidade,
obsolescência.
Enganam-se aqueles que ainda discutem o que fazia agachado o lateral Roberto
Carlos no momento em que Tierry Henry, num salto de bailarino, despachava os
canarinhos para casa. A tragédia – como todas – não aconteceu no tempo
regulamentar. Começou muito antes, envolve mais gente do que os jogadores
convocados e a Comissão Técnica.
A superpotência futebolística chamada Brasil (a expressão é do ‘Economist’)
não poderia ruir com um gol apenas. Alemanha, Inglaterra, Portugal, Argentina e
Equador não foram destroçados. Caíram. O mesmo certamente dir-se-á do perdedor
deste domingo.
Fomos destroçados. Literalmente. Destroçados pela empáfia mas também por um
desfibramento que comprometeu não apenas o empenho de atletas mas a nossa
resistência às tentações e às facilidades. A forma resignada com que aceitamos a
absolvição dos mensaleiros e provavelmente aceitaremos a sua reabilitação em
Outubro, tem muito a ver com o processo de monetização que, através do
marketing, pretendeu vender a idéia de uma infalibilidade futebolística
fantasiosa e distante.
O gramado é uma metáfora da vida. Certos jogos — e mesmo algumas peladas —
têm o poder de representar figuras, situações, esquemas, sistemas, valores e
conceitos que não entraram em campo mas estão ali, participando de todos os
lances.
Nosso Waterloo, tal como o original, precisa ser estudado, debatido,
aprofundado, levado às últimas conseqüências. Só assim será exorcizado. A
perversa ingenuidade que nos levou ao vexame precisa ser examinada com
estetoscópios, microscópios e telescópios de modo a deixar de ser um episódio
infeliz para converter-se num paradigma a ser substituído. Se não o fizermos com
o futebol não conseguiremos evitar a contaminação do resto.
Derrotas podem ser mais úteis do que triunfos, desde que se convoque um
ingrediente chamado coragem para encará-las. Derrotas produzem verdades com mais
durabilidade do que as produzidas por triunfos. Mas as verdades precisam ser
ditas não apenas ao longo da próxima semana mas enquanto durar o intervalo até a
próxima prova.
Muito se falou nesta Copa sobre a cobertura da mídia, eletrônica ou impressa.
Não foi uma casualidade, não é um fenômeno isolado. Quando uma cobertura vira
notícia, alguma coisa está errada com esta cobertura e as notícias que produz.
O jornalismo como espetáculo produz distorções. Distorções que podem parecer
insignificantes ou pitorescas mas num mundo em que tudo é relevante –
principalmente o sistema de fabricar relevâncias – elas não podem ser escondidas
debaixo do tapete. Distorções ou torções precisam ser corrigidas, podem levar um
campeão para o banco dos reservas.
Nosso Waterloo também ocorreu na longínqua Europa. Cada vez mais longínqua.
Mas começa aqui: num gramado que tem as dimensões de um continente, com um
placar que exige atitudes drásticas e num torneio em que as mudanças são
obrigatórias.’
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