SEXO NAS BANCAS
Mulher real x mulher sintética – o duelo, 09/02/07
‘As bancas de fevereiro permitem ao voyeur mais chegado a um enfoque analítico – nada incompatível, ao contrário do que muitos imaginam, com sua atividade-fim – um interessante estudo sobre um conflito filosófico que hoje está no próprio coração da indústria da nudez. Um conflito que se poderia chamar, correndo o risco de simplificar um pouco demais a ópera, de natural contra sintético. Verdadeiro contra falso? Em muitas palavras, de um lado temos as mulheres emborrachadas, sintéticas e frias, supermulherões exuberantes com seus silicones, plásticas, lasers, recapeamentos dentários, dez mil horas de musculação, para não mencionar as correções digitais que computadores implacáveis tratam de adicionar ao conjunto, feito cereja num belo bolo com gosto de papelão; do outro, mulheres como elas realmente são, com pequenas imperfeições, um ou outro pêlo pubiano extrapolando o limite da calcinha, dobra na barriga quando elas se abaixam para desabotoar a sandália, e, dando foco a tudo isso, uau, aquele olhar entre desafiador e vulnerável, tímido e sacana, indiferente e apaixonado que você, leitor, deve conhecer bem. Olhar de gente, da melhor gente que existe: gente-mulher.
Montado o cenário, vamos à disputa. À nossa direita, representando as mulheres sintéticas, temos a morenaça sul-mato-grossense Gracyanne Barbosa, rainha de bateria do Salgueiro e capa da ‘Playboy’: reparem nos seios estufados com suas aréolas riscadas a compasso, na dura definição das coxas musculosas, nos lábios picados na medida por abelhas imaginárias. Encantos inegáveis, reconheça-se, embora provavelmente excessivos, e muito bem explorados pelo ensaio que JR Duran ambienta num barracão de escola de samba, entre alegorias de isopor e gesso que compartilham com Gracyanne um clima de faz-de-conta.
Finalmente, à nossa esquerda, representando as mulheres naturais, vemos (e como vemos, detalhes por detalhe, oba!) a gaúcha Michelle Gemelli, uma quase-anônima como a maioria das modelos da ‘Sexy’, embora contracene com Silvio Santos no quadro televisivo ‘Topa ou não topa’ – mulher saudável, carnuda e meio peludinha, seios ponderáveis e cabelos precisando de uma boa escovada, sola do pé gloriosamente suja de andar na areia da praia e, atenção, linda, linda, linda nos melhores cliques de André Andrade. Isso eu garanto, leitor desconfiado. Não se deixe enganar pela péssima foto escolhida para a capa da revista pelos editores da ‘Sexy’, em que Michelle parece ser duas coisas que não é: feia e gorda. A capa passa muito longe de fazer justiça ao charme setentoso da moça.
Iniciado o combate, quem ganha? Lamento se não consegui manter o suspense até aqui: como o juiz sou eu mesmo, Santiago, é claro que ganha a mulher de verdade. O troféu Sexo nas Bancas de fevereiro vai para Michelle Gemelli, deixando o segundo lugar para Gracyanne, que, afinal, é mesmo um mulherão, ainda que militando no lado escuro da força. O resultado é, além de uma questão de justiça, uma tentativa de ver se o pessoal pára um pouco para refletir. Quem sabe venham a se tocar que o errante navegante das bancas anda cansado de mulheres virtuais: de frio e falso, basta o encontro carnal mediado pelo brilho do papel couché. Pelo menos a mulher estampada ali precisa parecer uma mulher, não um grafismo. Não é outro o segredo da ‘Trip’, com aquela naturalidade habilmente estudada das suas ‘garotas do lado’ – ‘Trip’ que, atrasadinha, perdeu o bonde da eleição deste mês, uma pena.
Diante desse duelo de titãs, faíscas hollywoodianas disparadas em todas as direções, não admira que as outras atrações do mês fiquem meio ofuscadas. E olha que elas estão longe de ser atrações banais. O terceiro lugar no pódio é ocupado com grandes méritos por Luciele di Camargo, irmã de Zezé e Luciano, ou seja, filha de Francisco. Eu diria que a moreninha Luciele, apetitosa capa da ‘VIP’, não é apenas mais uma filha de Francisco, mas sua melhor obra. Como fica claro na última foto do ensaio de Luis Crispino, em que Luciele, olhos fechados, chupa carinhosamente o próprio polegar. Deixo aqui minha torcida para que olheiros de revistas mais explícitas não demorem a cooptar a moça para os ensaios ousados que a minha imaginação já começou a folhear. Por fim, a revista ‘UM’ traz dois ensaios sensuais – traduzindo, com mais roupas do que a gente gosta – que também não fazem feio: um com Nathalia Rodrigues, atriz da TV Record, e outro com a exótica modelo Jaque Khury.’
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