Não queria escrever sobre os políticos brasileiros. Nem para falar bem, o que é difícil, e nem para falar mal, o que é muito fácil. Não vale a pena, é perder tempo e cansar os dedos no teclado do computador. Anos atrás, era ainda pior, com a máquina de escrever. Mas, com esta notícia que nos chega agora – de que os políticos aumentaram seus próprios salários em quase 100% – é demais. Sou obrigado a protestar. Estou indignado!
E pergunto: qual trabalhador neste país, de carteira assinada, que já não são muitos, recebeu aumento de salário nesta proporção? Funcionalismo público nem se fala. Desde os últimos quatro anos do governo FHC, e até agora, não receberam sequer a inflação de um ano, que não chega a cinco por cento. E os aposentados que ganham acima de dois salários mínimos e que tiveram reajuste de somente 5%? E o salário mínimo é de 350 reais.
Mais revoltante é saber que, na verdade, os políticos brasileiros não recebem somente os 24.500 reais agora corrigidos. Eles evitam divulgar, mas ganham, mensalmente, cerca de 100 mil reais, entre verbas diversas, como salário moradia, ajuda de custo, passagens aéreas, telefonemas etc. Tudo isso para ‘trabalhar’ três dias na semana.
O império da impunidade
O povo tem que reagir contra tudo isso. Não pode ficar paralisado. Só que para reagir, se mobilizar, a população precisa ser estimulada, ser provocada. Precisa de líderes. E estamos carentes desse tipo de gente. Então, é apelar para a imprensa, que aos trancos e barrancos vem fazendo o papel de cobrador de direitos, o Quarto Poder.
A mídia tem de tomar a frente dos protestos, publicar editoriais, opinar criticamente sobre mais esse procedimento indecente de senadores, deputados e vereadores que, em cascata, vão receber esse aumento vergonhoso e agressivo. Ao invés de a imprensa gastar tempo e espaço atacando Hugo Chávez, Lula e Evo Morales, ou cobrindo CPIs do Congresso que não dão em nada e só servem para promover políticos, é hora de iniciar uma campanha de moralização em cima dos parlamentares, todos eles, detalhando o que ganham realmente, e mostrando à população a rotina deles, e o que fazem e deixam de fazer no cumprimento dos seus mandatos.
É preciso que cada jornalista – editores, repórteres, âncoras, cronistas, apresentadores de telejornais e quem mais puder e tiver a coragem e a indignação necessária – use o seu veículo de comunicação a partir de agora, e sistematicamente, para criticar, denunciar e execrar essa categoria de ‘vampiros’ que a tal democracia nos obriga a aceitar e nos impede de expurgar do cenário político sob a alegação de voltarmos a uma ditadura. Se já não vivêssemos uma, a do império da impunidade.
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Jornalista, Belo Horizonte, MG