‘Reveja, pegue, espere, faça, veja, veja, veja, veja. O UOL Crianças abusa do uso do modo imperativo nos seus enunciados. Hoje, dos nove títulos disponíveis na página, sete estavam no modo imperativo. A prática é comum na estação. Para piorar, a palavra ´veja` repetia-se quatro vezes (além do ´reveja´).
É bom lembrar que, mais do que exprimir apelo e desejo, o modo imperativo denota ordem, já que a palavra imperativo tem sua origem no latim ´imperatívus,a,um que manda, ordena, comanda` (segundo o Houaiss).
Assim, o uso excessivo desse modo verbal pode dar às crianças que freqüentam o site infantil do UOL a sensação de que o portal é um grande mandão, como os pais ou irmãos mais velhos. Seria bom que os editores do site dedicassem mais tempo na elaboração de títulos de qualidade, capazes de atrair e cativar seu público.
Repetição de palavra e do modo imperativo empobrecem site
P.S. Como recebi crítica pela escolha do verbo ´cativar´, esclareço: foi usado na acepção de ´obter a simpatia ou o amor de; seduzir; atrair´.
***
A prática da ‘cozinha’ (11/12/07)
Do Manual da Redação da Folha
Cozinhar: em jargão jornalístico, é reescrever texto publicado em outro veículo. O jornalista da Folha [e do UOL] não deve cozinhar textos, mas apurar informações ele mesmo. Quando é indispensável cozinhar _porque não foi possível apurar as informações em tempo e o jornal [o site] considera essencial que seu leitor tenha acesso a elas_, a Folha [o UOL] cita o nome do autor do texto e do veículo que o publicou.
O Manual da Manual da Redação da Folha de S.Paulo deve ser adotado pelos jornalistas do UOL, segundo informa a gerência geral de qualidade de conteúdo do portal. O verbete acima parece não estar sendo seguido pelo blog de tecnologia do portal, o GigaBlog. A ombudsman recebeu questionamento sobre as fontes de informação usadas pelo blog e a falta de crédito para elas.
Do internauta Lucas
´Sugiro investigar a originalidade dos textos do blog UOL Tecnologia. Pelo menos dois tópicos são praticamente os mesmos que os postados no blog de tecnologia TechCrunch (www.techcrunch.com ). Creio que 1 – o UOL deveria investir mais em criar conteúdo em vez de replicar e 2 – deveria ser citada a fonte de onde o assunto foi retirado´.
Com a ajuda do internauta, foi possível identificar mais de dois posts que coincidem com aqueles postados no blog TechCrunch. Até as imagens são as mesmas. As datas também.
Numa análise mais cuidadosa, foi possível perceber que o blog do UOL baseia-se, fundamentalmente, em quatro fontes: Wired, Dvice, TechCrunch e BetaNews e traz pouca ou nenhuma apuração original. O UOL não tem contrato autorizando-o a traduzir o conteúdo desses sites/blogs nem a publicar suas fotos. Para piorar, a cópia sistemática de informação alheia vem assinada como se os textos fossem de autoria de Charles Nisz. E a veiculação sistemática de fotos alheias vem sem crédito, como se tivessem surgido por ´geração espontânea´.
A ombudsman pediu uma explicação à redação e ao autor do blog. Recebeu, apenas, resposta do gerente geral de notícias do portal, Rodrigo Flores: ´em primeiro lugar, gostaria de agradecer ao internauta que apontou as similaridades entre o GigaBlog e o TechCrunch. Citar a fonte de uma informação é um princípio básico do jornalismo. A equipe responsável pelo GigaBlog está orientada para que incidentes como esses não voltem a acontecer.´
O caso parece-me muito maior do que um simples ´incidente´. O UOL deveria (como defende o Manual da Redação) perseguir informações exclusivas e não reproduzir, sem autorização, o trabalho alheio, mesmo que dê o crédito.
Como ficam o direito autoral e a ética neste caso? Até porque o UOL, quando observa que seu material é copiado sistematicamente por outros sites (mesmo que lhe seja dado o crédito), coloca o departamento jurídico para trabalhar em sua defesa.
Qual foi o bastidor para a decisão, que deixou os bancos satisfeitos?
***
Quando há notícia num domingo (10/12/07)
Duas notícias importantes aconteceram no domingo e estamparam a dificuldade do portal em lidar com o inesperado durante plantões: o tremor de terra no norte de Minas Gerais e o acidente na prova de Stock Car Light que matou o piloto Rafael Sperafico, em Interlagos, São Paulo.
O terremoto foi o primeiro a registrar morte no país. O UOL tinha a notícia, por intermédio de seu parceiro Jovem Pan AM, desde as 10h37 de domingo. ´O tremor de terra ocorreu nas primeiras horas da manhã deste domingo e foi sentido nos municípios de Itacarambi, Manga e Januária, no norte de Minas Gerais. Sessenta casas foram interditadas e cinco destruídas, na comunidade de Caraíba. O fenômeno natural matou a menina Gessiane Oliveira da Silva, de 5 anos, e deixou seis pessoas feridas. Ainda não se sabe a intensidade do abalo sísmico´, foi o texto sucinto divulgado pela emissora de rádio.
Às 12h16, sob o título ´Tremor em MG atinge 5 pontos na escala Richter´, nova reportagem da Jovem Pan. Nesse caso, dizia com todas as letras (para quem não soubesse) se tratar do primeiro caso em que um tremor de terra no Brasil causava a morte de uma pessoa. Além disso, logo depois entrou um áudio de 4min32s, que trazia entrevistas com um especialista da UnB, relatos de moradores da região e destacava as medidas que o governo mineiro iria tomar. Foi para a home page do UOL apenas às 13h46, com pequeno destaque. O assunto virou manchete apenas às 14h31, em texto da Agência Estado. Com isso, o UOL perdeu a chance de dar a notícia em primeira mão e de ter feito uma edição especial, com repercussão e infográfico, como se viu nos jornais impressos hoje.
A primeira nota da Jovem Pan era muito sucinta e talvez insuficiente para garantir seu espaço na home page do UOL. Tinha, porém, o poder de despertar a curiosidade da redação, que poderia, naquele momento, ter iniciado a produção de uma cobertura especial. A segunda notícia da Jovem Pan não deixava dúvida de que ali havia a manchete do portal.
Na cobertura do acidente na prova de Stock Car Light, o UOL ficou atrás da concorrência para noticiar a batida e a morte do piloto. A notícia do acidente já estava no Globo.com às 13h30. A morte do piloto, às 13h43. Logo depois, era a submanchete do portal. O Terra noticiou a morte de Sperafico às 13h40. No UOL, a notícia do acidente entrou no índice de esporte apenas às 14h04. A da morte do piloto, às 14h14. Foi para a submanchete do portal apenas às 14h40, quase uma hora atrás de seu principal concorrente na área esportiva. Internautas perceberam e queixaram-se ao UOL, como João Arruda, cujo e-mail está abaixo.
´Sempre reputei o UOL como um excelente portal. Buscando informações sobre o acidente que vitimou o piloto de Stock Car Rafael Sperafico, mais de 1 hora após o acidente, não encontro uma linha na home do UOL. Somente num tímido destaque nos Esportes… Muitas vezes tenho observado que o UOL tem comido bola dos seus concorrentes na agilidade da informação, especialmente em finais de semana, feriados e madrugada.´
João Arruda
Ponto negativo para o portal não conseguir atender, com rapidez e qualidade, o interesse legítimo do público de se informar.
O gerente geral de Esporte, Alexandre Gimenez, escreveu (e eu agradeço) sobre a atuação de sua equipe no caso da Stock Car Light.
´Tereza,
não tínhamos um repórter em Interlagos para a cobertura jornalística da prova, já que o campeonato tinha sido decidido antecipadamente. Soubemos do acidente através de um boletim de uma TV por assinatura e, imediatamente, deslocamos dois profissionais que estavam no plantão para apuração da notícia. Optamos por publicar texto somente após termos confirmado, via telefone, detalhes do acidente.
Obrigado
Alexandre Gimenez´
A redação, convidada a falar sobre a demora em levar à home page do portal os dois casos, preferiu não se pronunciar.’