Saturday, 23 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Mitos da imprensa sobre a Amazônia

O desconhecimento e a má informação que temos sobre a Região Amazônica nos leva a aceitar e a propagar mitos que, na verdade, prejudicam muito mais do que ajudam. Em recente curso na Escola Superior de Guerra, ficou claro para os participantes que o Brasil tem a mais rica área do planeta. Especula-se no mercado internacional que ela valha 3 trilhões de dólares. Porém, se fosse regulamentada sua exploração, industrialização e comercialização, o valor chegaria a algo em torno de 33 trilhões de dólares.

Contudo, a Amazônia é pessimamente utilizada por nós. Enquanto a maioria pensa que o Sul e o Sudeste é que produzem as grandes riquezas do Brasil, ignora que Manaus é o terceiro PIB do país! Uma das capitais com os melhores salários, inclusive do setor público, e uma das mais caras do Brasil. Com a chegada da Copa do Mundo, as montadoras de TV já estão rejeitando encomendas. O porto de Manaus está abarrotado de contêineres.

Em Urucu, na Amazônia Ocidental (Pará, Amapá, Roraima, Amazonas, Acre e Rondônia), está a maior reserva de gás do mundo. E só agora a Petrobrás foi se instalar lá. Em breve, com os royalties, o estado do Amazonas será um dos mais ricos da federação. E Evo Morales terá de parar de birrinha com seu gás para o Brasil.

No ramo do tráfico

Os programas espaciais dos EUA e da Rússia dependem de um mineral que temos de sobra: o nióbio, essencial por sua formidável resistência à pressão e à temperatura. Sem falar nas minas de diamante, ouro e demais minerais, inclusive o petróleo. Porém, o mais importante mineral para o mundo, tanto dos que vão ao espaço quanto dos que nem espaço têm para dormir, é a água. E a Amazônia Legal é repositária de aproximadamente 20% da água potável existente na Terra, sendo que 14% deste total estão em subsolo brasileiro.

Como os EUA não têm mais fonte de água natural, fica fácil entender um dos motivos ocultos do Plano Patriota, lançado por Bush, que levou militares americanos à Colômbia numa situação tipo ‘casa da mãe Joana’. Pelo acordo, os militares têm imunidade diplomática ampla, geral e irrestrita. Podem até matar um sujeito na rua que nem para a delegacia vão. E por que a Colômbia teria aceitado esta ‘parceria’? Para garantir ajuda contra os narcoguerrilheiros das Farc?

Segundo o general-de-brigada Villas-Boas, chefe do Estado-Maior do Comando Militar da Amazônia, os guerrilheiros ficaram apenas no ramo do tráfico de cocaína mesmo. Não se envolvem mais com a causa dos pobres colombianos. Mas acredito que a coisa não fica só por aí. Além de conhecer muito bem seu lado da Amazônia, os narcoguerrilheiros são protegidos pelo espoliado povo colombiano na floresta. Servem como referências de uma justiça pela qual anseiam. Grosseiramente, algo como acontece nas favelas cariocas.

Tecnologia nacional

Para nossa tranqüilidade, o general garante que raras vezes gente das Farc se arrisca a entrar em nosso quintal. Há pouco tempo, três tentaram. Um foi morto e dois, presos. Pelo ar não vêm mais. Áudio veiculado na ESG pelo coronel-aviador Reis, comandante do Comando Aéreo Regional da Amazônia Ocidental, mostra o medo que os traficantes tinham dos nossos caças: nenhum! Perseguidos no ar, eles trocavam informações pelo rádio. ‘Tem um tucano colado na gente!’ ‘Fica calmo, cara, fica calmo’, respondia o receptor em terra. ‘Eles vão derrubar a gente. Vou jogar o material fora.’ ‘Joga não. Joga não! Os caras não atiram. Eles só tiram fotos! Fica calmo’.

Segundo o coronel, depois da Lei do Abate não passa um só avião sem se identificar direitinho. Assim, as rotas aéreas do tráfico foram substituídas pelas terrestres. O que também não é bom negócio. Conforme o professor Amorim, do Instituto Militar de Engenharia (IME), não há pedra brita na Amazônia. Claro, se não há montanhas desse mineral, ele tem de vir de outros estados. Daí porque é muito cara e difícil a construção de estradas lá. Todos apostam nas ferrovias como solução de transporte.

Mas a Amazônia tem os maiores rios navegáveis do mundo… Errado. O chefe do Estado-Maior do 9º Distrito Naval informa que as dificuldades são enormes. Na época das vazantes, mal passam as canoinhas. Os rios são rasos (de baixo calado), têm muitas corredeiras e fazem tantas curvas que mais parecem nós de marinheiros. Não há navio de grande porte capaz de trafegar por eles. A Marinha conta com uma meia dúzia de helicópteros, navios de médio porte e lanchas ligeiras que carregam até 13 fuzileiros navais. Este transporte é todo de tecnologia nacional.

Biopiratas e ONGs

Portanto, o melhor meio de locomoção na Amazônia Ocidental é por via aérea. E a FAB já dispõe de mais de 60 aeronaves naquele espaço, assim como de uma centena de pistas de pouso, a maioria sendo ampliada de 1.200 metros para 1.500 metros, a fim de receber os aviões maiores que estão chegando ainda este ano. E já está terminando a segunda base aérea na Amazônia. Diversas pistas clandestinas foram explodidas.

O Exército cercou com pelotões de fronteira toda a linha que nos separa da vizinhança. Este ano deve receber mais alguns milhares de soldados, visto que 50 mil deles estão garantidos nos R$ 600 milhões destinados às Forças Armadas no novo Orçamento da União. Ou seja: estamos com uma razoável proteção militar no Norte. Mesmo assim, estamos sendo invadidos por estrangeiros.

O pior é que a invasão é legal, amparada por leis brasileiras. Biopiratas e outros de igual tope agrupam-se em ONGs. Existem, claro, organizações que prestam bons serviços aos amazônidas. Entretanto, há algumas bem preocupantes, como a Consolata e a USAids. A Consolata reúne padres em Roraima que atiçam índios contra índios e índios contra brancos. É em Roraima que fica a Raposa Serra do Sol. Esta reserva ocupa mais de 60% do território daquele estado. Interessante que índios mais esclarecidos, como o cacique e professor de Matemática Jonas Marcolino, são contrários às enormes extensões de terra sob posse dos indígenas, embora o terreno continue pertencendo à União. Na Raposa Serra do Sol, o prazo legal para os brancos saírem de lá expirou no dia 15 de abril, mas quem os ‘orienta’ os índios não expulsam. Sombrio, o experiente general Villas-Boas prevê graves conflitos ali.

Apoio equivocado

A USAid enviou recentemente 50 milhões de dólares direto para o caixa do seu pessoal, sem passar pelo controle do governo brasileiro, segundo informações na ESG. A montanha de dinheiro financia a demarcação de toda a bacia hidrográfica da Amazônia Ocidental.

Aqui, voltamos ao Plano Patriota de Bush. Mas bancos alemães também ‘contribuem’ para outros projetos. De acordo com os governadores Jorge Vianna, do Acre, e Eduardo Braga, do Amazonas, só existe extração ilegal de madeira, principalmente do mogno, porque não é permitida sua industrialização e comercialização. Uma tonelada de mogno sai da Amazônia por 100 dólares, chega aos portos no Sul/Sudeste por 700 e, beneficiada no formato de móveis etc., gera um lucro na faixa de 30 mil dólares na Europa. Quanto o país perde apenas neste trajeto? Índios e garimpeiros fazem mineração quase artesanal de ouro e diamantes e os revendem a preço de banana a contrabandistas. A Polícia Federal faz apreensões quase que diárias de pedras preciosas em portos e aeroportos do Norte.

Ao dar muita cobertura aos ambientalistas da Amazônia, deixando de apurar o que as cabeças pensantes do Norte têm a dizer, a imprensa do Sul/Sudeste apóia o ambientalismo profundamente equivocado da região. Sem conseguir viver da selva, tê-la como fonte de renda, o Estado nacional, os governadores, a população e os índios estão perdendo a Amazônia para os estrangeiros. E cada um tira o que pode e como pode.

O jogo dos invasores

As políticas públicas para a Amazônia, ditadas por ambientalistas que não vivem in loco, têm impedido o aproveitamento das folhas, das seivas, das árvores, do solo e do subsolo. O látex, extraído da seringueira, voltou a ser produzido em grande escala no Amazonas. Retornará à comercialização junto com a borracha mineral. E nenhuma árvore é derrubada por isso. Para o uso da madeira, já existem florestas que, depois de utilizadas, estão sendo postas para descansar por 25 anos.

É patente para os amazônidas que a falta de exploração regulamentada, comercial e industrial dos bens da Amazônia só serve aos financistas das ONGs. Algo parecido com nossa educação. Pão e circo para manter o povo alienado enquanto os ratões fazem a limpa. Se nós, brasileiros, não redirecionarmos nosso conhecimento sobre aquela região, ela continuará a ser degradada, dando argumentos aos governantes estrangeiros que semeiam o terreno da tomada de posse alegando que a Amazônia é um bem da humanidade. Bem da humanidade uma conversa! É bem do Brasil e devemos aprender a ganhar dinheiro com ela. Temos de parar de ser ingênuos e bonzinhos com o que é nosso. A Turquia vende água em contêineres, sabiam?

A Amazônia Ocidental continua cotada em cerca de 3 trilhões de dólares, mas, para o Brasil, é um fardo, uma despesa e uma preocupação constantes. E a imprensa daqui de baixo tem contribuído muito para isso. Na verdade, tem feito o jogo dos invasores.

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Jornalista, pós-graduado em História e em Marketing